terça-feira, maio 11, 2010

A EDUCAÇÃO PASSADA PARA TRÁS

A EDUCAÇÃO PASSADA PARA TRÁS
EDITORIAL - O GLOBO - 11/5/2010
O Ministério da Educação descobriu que 21 estados deixaram de aplicar R$ 1,2 bilhão em ensino básico, no ano passado dinheiro que deveria ter sido repassado ao Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), mas que acabou tomando outras destinações.
O balanço de contas foi publicado no Diário Oficial em 19 de abril último. O estado de São Paulo aparece, ali, como o maior devedor em termos absolutos: R$ 660 milhões. O governo de São Paulo negou qualquer irregularidade em relação ao Fundeb, acusando o MEC de erro na contabilização dos repasses de São Paulo e de outros estados.
Uma vez que se apure quem está errado e o MEC está convocando para essa apuração os tribunais de contas dos estados e municípios e os próprios governos esta duais , sobra o fato de que há muito tempo se identificam desvios nas verbas da educação. E as culpas, nesse caso, estão por toda parte.
Começando com o próprio MEC, que jamais assumiu a bandeira do ensino fundamental.
A desculpa fácil é a de que esse nível de ensino cabe a estados e municípios. Mas num país imenso e repleto de disparidades, como o Brasil, se o governo central não encabeça uma campanha nacional, e não faz disso um objetivo essencial, as coisas não acontecem.
Em vez disso, o que se viu foi o governo Lula gastar seus oito anos de mandato num debate estéril sobre as universidades públicas, em que o cavalo de batalha era a questão das cotas.
Debate estéril; porque se não há melhoria consistente no ensino básico, a injustiça vai se consolidar lá atrás: no aluno que não consegue aprender, mesmo ficando vários anos na escola; e que ou vai ser reprovado, ou vai desistir da escola, ou vai chegar ao ensino médio totalmente inapto para os cursos superiores.
Esta é a injustiça básica, em que não se mexe. Anos atrás, o professor Sérgio Costa Ribeiro, em artigo para Estudos Avançados, já tinha apontado a repetência como um flagelo da educação brasileira. Repetência causada, em parte, pela má formação dos professores, pela incompreensão ou desinteresse dos pais em face do próprio mecanismo do sistema educacional brasileiro. Escrevia o professor: Aos pais interessa mais a frequência à escola do que a sua qualidade. E ele explicava: É sintomático perceber que o esforço das famílias brasileiras em manter seus filhos na escola não se traduz numa escolarização mais competente. Hoje, a escola é um restaurante, um ambulatório médico, uma creche ou um depósito de crianças. Nunca houve preocupação real com as condições de trabalho dos professores. O que faz o professor ante a ameaça de agressão física, se tentar manter a classe em disciplina razoável? Mas como aceitar passivamente, por outro lado, que o professor não tenha preparação para entender as carências de um certo tipo de aluno, donde resulta a automática marginalização desse aluno? É o vasto e caótico cenário da educação brasileira; que nenhum governo, até agora, se dispôs a enfrentar.

IQUE - No Jornal do Brasil


George Benson cantando "In Your Eyes"

E perder uma oportunidade rara de descobrir que a vida – não apenas a dela, mas também a nossa – pode ser decodificada de uma forma mais generosa se nos reconhecermos em olhos dispostos a enxergar além dos estereótipos.

O perigo da história única- Por Eliane Brum
Contar uma única versão sobre nós mesmos pode significar abrir mão de viver
Terça-feira, 02 de Março de 2010
Desde muito cedo percebi que a trajetória de uma vida continha bem mais do que os conflitos visíveis. Em parte, me transformei numa contadora de histórias ao intuir que a forma como é contada uma vida pode significar a possibilidade desta vida.
Assim como pode determinar sua morte. O mundo é um palco onde se digladiam as versões – e o poder é usado para impor a história única como se fosse toda a verdade. Não só entre os países, mas na vida social e também dentro de casa. Compreender o poder da narrativa é o primeiro passo para construir uma vida que vale a pena. É também a chave para alcançar a complexidade – ou as várias versões – da vida do outro.
Na semana passada, duas experiências me fizeram voltar a refletir sobre o poder das histórias, um tema recorrente nesta coluna e no meu trabalho. A primeira foi o filme Preciosa, já lindamente comentado neste site na coluna de Cristiane Segatto. A outra foi uma palestra de uma escritora nigeriana chamada Chimamanda Adichie.
Em Preciosa, filme de Lee Daniels em cartaz nos cinemas, concorrente ao Oscar, a personagem é uma negra gorda e enorme, abusada sexualmente pelo pai e de várias outras maneiras pela mãe, que frequenta há anos a escola sem que ninguém perceba que não sabe ler.
Preciosa, este também é o nome enormemente simbólico da personagem, é um nada para muitos – e também para si mesma. Um nada difícil de olhar. Ela mesma, quando se olha no espelho, não se reconhece.
Desde que assisti ao filme, na sexta-feira de Carnaval, o recomendo com veemência aos meus amigos. Mas, assim como as pessoas ao redor de Preciosa, no filme, tinham dificuldade de olhar para ela, alguns amigos têm resistência em ir ao cinema “assistir àquela desgraceira”. Ou acompanhar uma personagem que contém em seu corpo todas as características relacionadas aos perdedores. Alguns amigos viram o trailer e decidiram fugir de Preciosa.
É uma pena. E é o que tenho tentado mostrar a eles – e agora a vocês. Não ver Preciosa é não permitir que ela seja vista de outra maneira.
E perder uma oportunidade rara de descobrir que a vida – não apenas a dela, mas também a nossa – pode ser decodificada de uma forma mais generosa se nos reconhecermos em olhos dispostos a enxergar além dos estereótipos. Neste sentido, ao decidir assistir a este filme – tão diferente do que se costuma produzir em Hollywood – o espectador está se tornando parte da transformação de Preciosa. E isso é genial como proposta cinematográfica.
Continue a leitura aqui: http://shorttext.com/4yv4fp5v3i


Reflexão sempre atual!

Dos Bodes
Os bodes expiatórios têm sempre algumas coisas em comum, além de serem bodes e de servirem para a expiação dos outros. Em primeiro lugar, devem ser dispensáveis. Não há notícia do sacrifício de um bode sagrado, de um bode essencial ou de um bode útil. Mesmo que o bode pareça importante, o fato de ter sido escolhido para a expiação prova que não é, ou se era não é mais. A primeira condição para ser um bode expiatório, portanto, é ser um bode supérfluo. Um bode que não vai fazer falta.
O bode expiatório já nasceu como um substituto, já nasceu secundário. Nos rituais de aplacamento o titular do sacrifício era para ser o rei, ou o filho favorito do rei. Sua substituição pelo reserva, pelo
bode providencial, é o resultado de uma negociação das regras, de um acordo para preservar o rei e ao mesmo tempo alimentar o deus. Nasceu o sacrificado metafórico, e junto com ele o Estado como
instituição. O poder que se oferece à imolação, na forma de bode, e ao mesmo tempo permanece e continua, purificado e perdoado. O bode expiatório, portanto, já começou como uma metáfora: não era
exatamente o que era. Era a segunda escolha do menu para aplacar o deus. Desde então o bode expiatório cumpre a função da metáfora, que é a de ser a coisa, mas a coisa prudentemente em segunda mão. Seu valor terapêutico é o de assumir a culpa alheia e seu valor institucional é o de livrar o Governo do sacrifício de se explicar, e o rei de se auto-imolar ou imolar seus favoritos. A culpa concentrada num bode absorve e absolve a culpa em volta, e reduz a um episódio de fraqueza humana e individual toda a engrenagem de cumplicidades de um sistema pervertido por anos de má explicação e impunidade – ou de sacrifícios de segunda mão. Isso que parece ser o espetáculo inédito de uma alta autoridade financeira brasileira chamada a se explicar na delegacia é apenas outra negociação para aplacar a ira do momento com um sacrificado substituto, escolhido entre os sacrificáveis. No Brasil, este condomínio de poucos que não têm outra preocupação senão a de disfarçar seus privilégios e adiar sua culpa, até o rituais mais graves, de vida, morte, expiação e depuração institucional – até o teatro grego – viram uma pantomima suspeita.
Luís Fernando Veríssimo, O Globo, 28/04/1999

Billy Graham: Procurar tratamento para depressão não significa falta de fé

Billy Graham: Procurar tratamento para depressão não significa falta de fé
O evangelista Billy Graham respondeu um questionamento de um internauta do Christian Post sobre a depressão
Por Rodrigo Ribeiro Rodrigues - 08/05/2010 05:57h

Muitas acreditam que a depressão está ligada a falta de fé, porém um dos maiores evangelistas que já surgiu, Billy Graham, discorda dessa tese. Confira a resposta dada a um internauta do Christian Post.
Internauta: Eu não entendo o que está acontecendo com minha esposa. Ela parece ter perdido toda a alegria de viver, e em alguns dias ela quase não consegue sair da cama. O médico diz que ela precisa de um medicamento anti-depressivo, mas alguns amigos dizem que nós só precisamos de mais fé. Ela quer que eu tome a decisão, mas eu não sei o que fazer. - K.S. 
Billy Graham: Eu sou grato por sua preocupação com sua esposa, e eu espero que você faça tudo que puder para ajudá-la. Afinal, se você estivesse em sua posição, eu tenho certeza que iria pedir para ela te ajudar - assim como ela está pedindo a você. A Bíblia diz aos maridos, "Cada um de vocês ... ame a sua esposa como a si mesmo" (Efésios 5:33).  Eu não sou um psicólogo ou psiquiatra, é claro, mas sua esposa certamente parece estar sofrendo de depressão (como diz seu médico). Às vezes, a depressão tem uma causa espiritual, o Rei David, por exemplo, estava deprimido depois que ele secretamente cometeu adultério - e sua depressão não passou até que ele confessou o seu pecado e buscou o perdão de Deus (veja Salmo 32).  Mas a depressão muitas vezes tem outras causas, como desequilíbrios bioquímicos em nossos corpos. Seu médico, aparentemente suspeita que é esse o caso com sua esposa. Nossos cérebros são incrivelmente complexos, e quando algo sai do equilíbrio pode afetar nossa maneira de pensar e olhar para o mundo. Muitas vezes isso pode ser corrigido com medicação adequada.  Isso significa que você estaria deixando Deus de fora do processo, ou olhando para a medicina, ao invés de buscar em Deus uma solução? Não, você não deve pensar dessa maneira. Ao contrário disso, se o medicamento funciona, enxergue-o como forma de Deus responder as suas orações - e o agradeça por isso. Entretanto, constantemente assegure a sua esposa de seu amor - e do amor de Cristo, também.
Billy Graham, norte-americano nascido em 7 de Novembro de 1918 em Charlotte, Carolina do Norte. Foi conselheiro espiritual de vários presidentes americanos. Foi ainda o mais proeminente membro da "Convenção Batista Sulista dos EUA". Graham já pregou pessoalmente para mais pessoas do que qualquer pregador da história ao redor do mundo. De acordo com a sua equipe, a partir de 1993, mais de 2,5 milhões de pessoas tinham "Um passo à frente em suas cruzadas para aceitar Jesus Cristo como seu Salvador pessoal". A partir de 2008, a audiência Graham's lifetime, incluindo rádio e televisão, superou 2,2 bilhões.
Adaptação/ Tradução: OGalileO
Com informações de Christian Post/ Enciclopédia Livre

Daniel Barenboim - Sonata ao Luar - 1 º mov Adagio sostenuto

Um pouco de CAIO FERNANDO ABREU - Quanta sensibilidade!





"... então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és..."


Caio Fernando Abreu



Beleza e pureza...


Para especialista, 'melhor democracia não significa melhor sociedade'

Para especialista, 'melhor democracia não significa melhor sociedade'
Pablo Uchoa - Da BBC Brasil em Londres

Especialista em estudos sobre o tema, o cientista político Marc Plattner afirma em entrevista à BBC Brasil que "a melhor democracia não significa necessariamente a melhor sociedade".
"A democracia é uma forma de governo, o que significa que as pessoas têm o poder de tomar as decisões. Mas isso não quer dizer que sejam as melhores decisões", afirma Plattner, cofundador da revista acadêmicaJournal of Democracy.
Editor de diversos livros sobre o tema, especializado em democracias emergentes, como a Índia e os países latino-americanos, Plattner ainda assim defende o modelo liberal de democracia porque, mais que o governo da maioria, representa a proteção dos direitos e liberdades dos indivíduos que compõem a sociedade. "Os últimos 25 anos do século passado foram muitos bons para o avanço da democracia", afirma. "Hoje estamos em um período de estagnação em termos de progresso democrático, mas não percebemos uma reversão completa da democracia ou autocracia." A entrevista é parte da minissérie de sete reportagens sobre democracia que a BBC Brasil propõe neste ano de eleições. Através de entrevistas com especialistas, a série avaliará o estágio democrático de seis casos simbólicos: Brasil, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Índia, Rússia e Irã. A seguir, leia trechos da conversa da BBC Brasil, na qual Plattner diz não acreditar em um "modelo russo ou iraniano" de democracia e avalia que o Brasil já deixou de ser "emergente" neste aspecto.
Qual sua definição de democracia? No dicionário, democracia significa o governo do povo. No sentido atual, porém, significa democracia liberal, que não é apenas o governo da maioria, mas a proteção dos direitos e liberdades dos indivíduos que compõem a sociedade. Esses dois aspectos têm de estar presente.
Existe algum modelo de democracia que se aproxime do ideal no mundo de hoje? A melhor democracia não significa necessariamente a melhor sociedade. A democracia é uma forma de governo, o que significa que as pessoas têm o poder de tomar as decisões. Mas isso não quer dizer que sejam as melhores decisões. Quando se discute esse tema, os países nórdicos – Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia – tendem a sair na frente, porque eles têm menos corrupção e relativamente menos desigualdades econômicas que outros países. Mas não sei se isso quer dizer que sejam mais democráticos que outros, e sim que suas sociedades têm mais virtudes que outras.
O escritor americano Fareed Zakaria sugeriu que o processo de democratização mundial gerou democracias de fachadas, ou "iliberais". O senhor acha que essa é uma tendência? O diagnóstico de Zakaria é correto. Antes de 1975, a democracia se restringia aos países ricos e avançados do Ocidente, que também tinham uma longa história de liberalismo. Nos anos 1970 ocorre a chamada "terceira onda da democratização". Dezenas e dezenas de países que não tinham histórico de liberalismo, tradição de Estado de Direito e não eram economias avançadas começam a ter eleições e escolher seus próprios líderes. Não surpreende, portanto, que muitos fossem iliberais no início. A questão é como você desenvolve a democracia liberal. Para mim, o caminho passa por trabalhar junto com essas democracias iliberais, tentando fortalecer o Estado de Direito, a proteção dos direitos dos indivíduos, etc.
Zakaria chegou a sugeriu que, em vez de incentivar o nascimento de "democracias iliberais", era melhor criar as "autocracias liberais". Qual sua opinião? Discordo de Zakaria. Se você analisar o mundo hoje, não existem autocracias liberais, no sentido de que os países que são autocráticos tampouco tendem a ser liberais e você não pode contar que seu direito seja respeitado nesses países.
É possível falar de um modelo de democracia iraniano ou russo, ou nesses países simplesmente não há democracia? Esses países não são democracias e certamente não democracias liberais. Você pode jogar com as palavras e falar de "democracia gerenciada" ou "democracia soberana", como o governo Putin tem feito. Da mesma forma, na era soviética, falava-se de "democracia popular". Você pode usar e abusar da palavra sem chegar à verdade. A maioria dos estudiosos sobre a democracia concorda que nem o Irã nem a Rússia são democracias.
Então o senhor não acredita que haja fatores culturais, por exemplo? Podemos apontar para a história autoritária da Rússia, que explicaria o formato do sistema político do país. Sim, há fatores históricos que dificultam a democratização dos países. Mas eles se tornam democráticos. Lembre-se que há alguns séculos não havia democracias e todos os países democráticos tiveram de superar obstáculos na sua história e tradição que eram avessos à democracia. Talvez isto seja mais difícil para umas culturas que para outras, mas nunca vi nenhuma que seja irremediavelmente incompatível com a democracia.
O senhor então é um otimista em relação ao processo de democratização do mundo? Ou a democracia liberal sempre será um ideal? Sou otimista. Os últimos 25 anos do século passado foram muitos bons para o avanço da democracia, especialmente entre 1985 e 1995. Depois as coisas começaram a desacelerar um pouco e, nos últimos três ou quatro anos, segundo a organização Freedom House (que monitora a democracia no mundo), é possível ver uma ligeira erosão na democracia liberal, ou das liberdades, como eles chamam. Hoje creio que estamos em um período de estagnação em termos de progresso democrático, mas não percebemos uma reversão completa da democracia ou autocracia. Creio que nos próximos cinco ou dez anos não haverá grande mudança em qualquer direção. Mas em geral sou otimista em relação à democracia.
Em que estágio democrático o senhor avalia que o Brasil está? Ainda somos uma "democracia emergente"? A palavra que os cientistas políticos usam para países que já fizeram a transição para a democracia é "consolidação", o que reflete a ideia de que esse país ainda passará um período sob o risco de regredir e de que leva tempo para a democracia fincar suas raízes e as pessoas se acostumarem a ela. E em algum momento há uma conclusão de que um país se tornou uma democracia, se consolidou. Não conheço muito o caso brasileiro, mas estou inclinado a pensar que o Brasil não é mais emergente, mas sim perto de se consolidar. Minha única preocupação não é com a política doméstica do Brasil e sim com a postura do Brasil em relação à democracia em outros lugares, que não acho que tem sido construtiva.
O senhor se refere (à demonstração de apoio do Brasil) ao Irã? Sim. Fiquei chocado com o que o presidente Lula disse em relação aos protestos iranianos e as eleições iranianas. Porque no Irã as pessoas estão lutando pela democracia, da mesma forma que fizeram os brasileiros 25 anos antes, entre eles o presidente.

Pecados internos são maior ameaça à Igreja, diz papa

Pecados internos são maior ameaça à Igreja, diz papa
As declarações de Bento 16 foram feitas no avião a caminho de Lisboa O papa Bento 16 disse nesta terça-feira que a maior ameaça à Igreja Católica vem dos pecados dentro da própria Igreja e que é chegada a hora de a instituição reconhecer isso. "A maior perseguição à Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce dos pecados internos da Igreja", afirmou o pontífice, em um avião a caminho de Portugal. "A Igreja precisa reaprender profundamente a penitência, aceitar a purificação, aprender o perdão, mas também a Justiça." As declarações marcam uma reviravolta na postura do Vaticano em relação às alegações de abusos sexuais cometidos por membros do clero. Inicialmente, a Igreja acusou a imprensa e setores contrários aos católicos de mobilizar uma suposta campanha de difamação.
Medidas papais  Nas últimas semanas, o papa se manifestou algumas vezes sobre o escândalo, prometendo levar à Justiça os sacerdotes e tomar medidas para proteger as crianças de pedófilos. Bento 16 já aceitou a renúncia de alguns bispos envolvidos ou acusados de abusos sexuais ou de acobertamento. Nos últimos meses, autoridades eclesiásticas na Europa e nas Américas vêm sendo acusadas de não ter lidado corretamente com as denúncias de pedofilia e abusos, muitas vezes apenas transferindo os acusados para outras paróquias. O próprio papa foi alvo de acusações sobre a suposta cultura de manter segredos do Vaticano e por não ter tomado medidas firmes o suficiente contra os acusados quando ainda era cardeal. Por outro lado, a Igreja diz que nunca houve um papa tão ativo no combate aos abusos sexuais de clérigos como o atual.
Portugal  Não se sabe se Bento 16 vai voltar a tocar ao assunto durante a viagem a Portugal, onde mais de 90% da população do país são católicos. Além da missa em Lisboa, estão sendo esperadas 300 mil pessoas para uma celebração em Fátima no dia dedicado à Nossa Senhora – 13 de Maio, quinta-feira. Na sexta, a celebração será no centro do Porto, onde o número não deverá ser inferior a 150 mil pessoas. A viagem papal tem como pano de fundo uma série de decisões tomadas nos últimos anos pelo governo português em contrariedade à doutrina católica. Há dois anos, Portugal aprovou uma legislação para facilitar o divórcio. Em 2007, um referendo descriminalizou o aborto até dez semanas de gravidez. Neste momento, uma lei que permite o casamento homossexual necessita apenas a assinatura do Presidente da República para entrar em vigor.

Seja como for, queremos o fim das hostilidades.

Trégua!
Luís Fernando Veríssimo - O Globo - 22/04/2010


Segundo algumas lendas dos Mares do Sul, os vulcões eram aplacados com o sacrifício de virgens. Assim que um vulcão começasse a dar sinais de que iria explodir selecionavam uma virgem e a atiravam na cratera em ebulição, como oferenda aos deuses irados. A persistência das lendas indica que a coisa funcionava. Ou que, quando não funcionava, concluíam que a moça não era virgem, e a ira dos desuses aumentava com a tentativa de enganá-los, acontecendo a erupção. Hoje em dia nem se pensaria em algo parecido.
Não, bandalho, não pela escassez de virgens, mas porque somos pessoas civilizadas que não acreditam em deuses pagãos que controlam nosso destino e podem ser influenciados com presentes. O que é uma pena: sacrificar virgens seria pelo menos uma tentativa de dialogar com as forças da Natureza.
Em vez de não fazer nada, que é o que nos resta diante de terremotos, tsunamis e erupções vulcânicas.
Além, claro, das preces para aplacar a ira do nosso deus único.
Está faltando diálogo entre a superfície e o interior da Terra. Nós, da crosta, estamos claramente sendo atacados pelas profundezas, sem meios para revidar. Placas tectônicas se movem subrepticiamente, derrubando nossas edificações e comprometendo nosso equilíbrio, e produzindo maremotos que completam a destruição.
Quando parece que tudo serenou, explode um vulcão, a arma de fogo da Natureza, de surpresa, para nos manter desorientados e enfatizar nossa impotência. Queremos uma trégua, mas não sabemos para quem apelar.

Queremos negociar, mas não temos intermediários.
Quem falaria por nós na língua soturna das profundezas, que só se comunica com catástrofes? Com quem acertar os termos da nossa rendição? Talvez se deva tentar as virgens de novo.
Há quem diga que o que está acontecendo é um contra-ataque. Tanto fustigamos a Terra que ela é que estaria revidando. Sei não. Nossa invasão do subterrâneo tem sido limitada. A busca do petróleo mais intensa, as minas mais profundas, a exploração de cavernas mais extensa não pode ter significado mais do que cócegas na epiderme da Terra. A reação seria desproporcional à agressão.
Seja como for, queremos o fim das hostilidades.

A degradação promovida pelo próprio ser humano, documentada pela Ong Surf Rider Foundation.

Um lixão no meio do oceano
A degradação promovida pelo próprio ser humano, documentada pela Ong Surf Rider Foundation.


São desenhos feitos com grafite! Não são fotos!

Paul Lung tem 38 anos e apesar de ser de Hong Kong é chamado de forma carinhosa de “Chinês Preso”. Ele passa em média 60 horas em cima de cada um desses desenhos (inacreditável, parecem fotografias, de tão perfeitos) usando apenas como material o grafite!


Bennet, na Gazeta do Povo


Johann Sebastian Bach - The English Concert - Harpsichord Concerto d-moll BWV 1052, 1/3

Vale a pena ler e refletir! Para sociólogo, a internet e as redes sociais online vêm criando uma nova opinião pública, que não engole mentira, não tolera promessas, não aceita líderes analógicos; faz acontecer

Cidadãos 365 dias por ano
Para sociólogo, a internet e as redes sociais online vêm criando uma nova opinião pública, que não engole mentira, não tolera promessas, não aceita líderes analógicos; faz acontecer

  A política como conhecemos hoje pode ser, muito em breve, um retrato embolorado na parede. E o político profissional, um desempregado irremediável, com saudade dos "bons tempos" pré-internet. Não, essa não é a última do admirável mundo novo. É a opinião de alguém que o acompanha com olhos de cientista: o sociólogo italiano Massimo di Felice. Doutor em Ciências da Comunicação, especialista em mídias digitais, ele leciona Teoria da Opinião Pública na Escola de Comunicação de Artes da USP. Acredita que a humanidade vivencie neste momento algo tão grandioso quanto o surgimento da prensa de Gutenberg no século XV: é o tempo em que a web vai levar ao desaparecimento do tipo de política e de político que existem hoje.
GALERIA: Qual é o seu recado? Para afirmar isso ele não leva em conta apenas a tecnologia em si, gelada em seus inesgotáveis twitters, orkuts e facebooks. Seu objeto de análise é a nova realidade que está nascendo daí, vertiginosa e quase silenciosamente. "A internet e as redes sociais online estão criando uma nova democracia e uma nova opinião pública." O que é particularmente interessante em temporadas como esta, de caça à tal opinião pública empreendida pelos institutos de pesquisa que tentam medir os humores e os pendores eleitorais dos brasileiros.Mas alto lá com os antigos conceitos, previne Di Felice. "Essa opinião pública  que está surgindo não quer ser chamada a opinar apenas de quatro em quatro anos. Ela participa, colabora, difunde ideias para mudar seu território cotidianamente. É cidadã 365 dias por ano. Está fazendo acontecer o que os políticos só prometem." O efeito imediato disso - para as eleições presidenciais de outubro - será mínimo, ele reconhece, dada a predominância, ainda, da opinião pública televisiva no País. Mas no futuro será algo decisivo.Na entrevista a seguir, Di Felice empreende um passeio pela história e o desenvolvimento da opinião pública e, otimista, explica aonde, agora cada vez menos analógica, ela pode nos levar.
O que é opinião pública? É um conceito que nasceu com a substituição da sociedade feudal pela sociedade a contrato social. Nasceu com a destruição do modelo baseado no rei que era rei por ter sido colocado no trono por Deus (e, por isso, emanava leis inquestionáveis) e com o surgimento dos primeiros mercadores que deram origem à burguesia. Foi uma passagem econômica, social, cultural e política. A sociedade que nasce daí não é mais assentada em valores divinos, "justos", e sim em códigos racionais, que tem mais a ver com a necessidade de organizar as coisas ao gosto da nova classe que ascende ao poder e vai fazer leis para defender seus interesses. Serão, portanto, leis "injustas". Mas, como elas podem ser questionadas, afinal não vieram do poder divino do rei, haverá a necessidade de lutar para mudar tais leis. Nessa imperfeição está uma das características da sociedade a contrato social, que cria pela primeira vez a separação clara entre sociedade civil e Estado.
Então a opinião pública é filha da democracia moderna? Ela é o alicerce da democracia moderna. Não é apenas a expressão dela, um instrumento a mais. Não há democracia sem conflito, sem opinião. E o que resulta dessa passagem do feudalismo para o mercantilismo burguês é uma sociedade dada ao conflito, a tal sociedade civil - um conjunto de indivíduos, grupos, etc., que se reúnem contra o Estado. Então, é nessa imperfeição que se desenvolve o conceito de opinião pública, não só como lugar de divulgação, mas de elaboração contínua de ideias. É fácil compreender o porquê disso. Com seu dinamismo econômico, a sociedade a contrato social necessita de transformações constantes de valores. Isso muda completamente o comportamento das pessoas, elas passam a valorizar as mudanças, o progresso, contra a estagnação pré-definida por seu nascimento, como ocorria no modelo feudal.
Esse conceito de opinião pública se mantém até hoje? Ao longo da história ele foi contestado por uma porção de teorias, principalmente depois do surgimento da mídia de massa e do uso que o nazismo, o fascismo e regimes autoritários em geral fizeram dela. Isso levou muitos autores a pensar que a opinião pública era só um doutrinamento da população. Ela teria tão somente a opinião que o status quo quisesse que ela tivesse e manipulava para conseguir. Para esses autores, opinião pública é alienação. Por aí caminhou Adorno (Theodor Adorno, filósofo alemão), chegando a Bourdieu (Pierre Bourdieu, sociólogo francês), para quem a opinião pública simplesmente não existe. Ele dizia isso, na verdade, como provocação. Na França da época, anos 60/70, ele queria questionar o uso demagógico que se fazia das pesquisas de opinião. Todas as ações dos entes públicos e privados eram justificadas por pesquisas de opinião. E Bourdieu vem dizer que essas pesquisas não davam necessariamente a opinião das pessoas, davam a opinião que as pessoas tinham formado a partir do doutrinamento. Portanto, a opinião pública não existia.
E nos dias de hoje, ela existe? Existe, mas de um jeito totalmente diferente. Na minha avaliação, a opinião pública muda de caráter de acordo com a tecnologia informativa de uma época. No tempo da oralidade, tínhamos os filósofos, os sofistas. Com Gutenberg e a sua máquina de reproduzir grande quantidade de páginas, surge a opinião pública dos tempos modernos, mais ampla, instigada a debater pelo acesso mais fácil ao conhecimento. Depois, a mídia de massa - jornais, rádios e TV - dá origem às democracias nacionais, à esfera pública do tamanho de uma nação. Afinal, a mídia de massa consegue atingir toda a população ao mesmo tempo. Aí chegamos aos tempos atuais, à internet. E a coisa vira de cabeça para baixo. A internet cria uma arquitetura informativa absolutamente distinta das anteriores e, mais do que isso, cria um novo tipo de democracia e um novo tipo de opinião pública.
Pode explicar melhor? Com a internet, passamos da democracia opinativa para a democracia colaborativa, na qual todo cidadão é chamado não a mudar o mundo, a fazer revolução, nada disso. Ele é chamado a ter um impacto na sua realidade próxima. Se olharmos para o teatro grego, os livros, os jornais, o rádio e a TV notamos que o modo de transmitir as informações se manteve constante. O ator de teatro fala, o público ouve em silêncio; no final aplaude ou vaia, ou seja, opina. Na TV é a mesma coisa. Quando assistimos a um debate eleitoral os candidatos falam e nós acompanhamos tudo passivamente e depois vamos votar - opinar - sobre propostas e programas de cuja elaboração não participamos. É a democracia baseada na opinião. O cidadão é cidadão na medida em que ele opina de quatro em quatro anos. A internet inaugura um tipo de democracia qualitativamente diferente.
Como ela funciona? Primeiro, a comunicação em rede é uma tecnologia que pela primeira vez disponibiliza não só o acesso a todas as informações como também possibilita que cada indivíduo crie conteúdo e poste esse conteúdo com o mesmo poder comunicativo dos outros meios. Tecnologicamente, um blog tem o mesmo poder comunicativo que a CNN. Isso está educando o cidadão não apenas a opinar, mas a criar debate e a discutir ideias que se espalham velozmente pelo mundo. São as chamadas redes sociais, redes de cidadãos que se reúnem por terem determinadas afinidades e passam a trabalhar online para transformar a sociedade pela proposição, discussão e implementação de ideias. Primeiro no seu território, sua rua, seu bairro, sua cidade, depois no país e mundo. Chamamos isso de net-ativismo. Não se trata de uma questão ideológica, de fazer a revolução com a ajuda da internet. Não é isso.
E que tipo de opinião pública está sendo gestada nessa era de net-ativismo? Uma opinião pública que não quer ser só opinativa. Não quer só opinar com base numa pauta estabelecida pela mídia e pelos políticos. A rede está criando, de fato, uma nova realidade em que as pessoas se afastam cada vez mais da política partidária, do debate político profissional, porque acham que isso não resolve nada. Meus alunos têm total desinteresse pelas questões políticas tradicionais, mas de maneira alguma podem ser chamados de alienados, porque estão em redes sociais, integram grupos que trabalham com reciclagem de lixo, inclusão digital, acesso à informação. Estão tentando modificar o seu território 365 dias por ano. Eles são cidadãos o ano inteiro, não só a cada quatro anos. Para esse pessoal o voto é a última coisa na qual eles estão pensando. A lógica da web não é piramidal, não prevê um líder. A palavra-chave é colaboração. Assim, se há alguém que eles enxergam como representante, é necessariamente alguém que esteja nessas redes sociais desde sempre, discutindo, propondo, ajudando a levantar verbas para projetos. O que eu estou tentando dizer é que a política analógica é obsoleta, porque unidirecional. Podemos chamar isso de fascismo se adotarmos a etimologia grega da palavra "fascio", que significa seta, algo que aponta, direciona. Estamos no caminho contrário. Pode levar 10, 20 anos, mas estamos indo claramente na direção de uma democracia totalmente colaborativa.
Essa nova ordem já deve influenciar as eleições deste ano? Provavelmente não. Mas estou certo de que, nesta campanha presidencial, teremos surpresas vindas do mundo digital. A web será um lugar de desmascaramento. Esse movimento é maior do que imaginamos no Brasil. Um sinal claro disso é que já há no País mais gente usando a internet para acessar redes sociais do que para ver pornografia. Temos um curso de pós-graduação muito procurado por pessoas que vão trabalhar com marketing político. Os alunos perguntar a mesma coisa: "Como eu uso o Twitter para ajudar meu candidato a vencer a eleição?" Eu digo: "Você não pode. Se entrar com essa intenção a mesa vira sobre você".
Por quê? Imagina só isso: o político utilizando a web como utiliza a TV - para mentir, basicamente. Essa é muito boa (risos). Na rede, uma mentira dura dois minutos. E, uma vez descoberta, centenas de pessoas vão ter o prazer de denunciá-la. Isso aconteceu com o Lula. Um dia ele resolveu que queria ser Barack Obama e fez um blog. Só que não permitiu comentários. Pois alguém duplicou o blog dele num espaço aberto para comentários. Uma lição de que não dá para se aproveitar da internet dessa maneira. Uma vez dentro da rede ele terá de se submeter às regras dela, que não têm nada a ver com as regras da TV. O problema é que os políticos, seus estrategistas e marqueteiros querem transferir o passado para o novo. Eles não têm a menor noção dessa nova democracia, dessa nova opinião pública que está nascendo. Querem entrar num contexto no qual o político é visto com maus olhos. A imagem dele é negativa, porque tradicionalmente ele representa o contrário do que se faz ali. Ele tem uma proposta pronta e, através da sedução, busca obter consenso da maioria da opinião pública para se eleger. A comunicação parte dele e volta para ele. A internet permite outro modelo: que ele apresente sua proposta, que vai ser continuamente debatida, modificada e aprimorada - e daí vai nascer o consenso.
Quer dizer que no futuro os candidatos a representantes do povo podem surgir das redes sociais da internet? E é provável que eles sejam completos desconhecidos para quem estiver fora dessas redes. A função do político tradicional tende a desaparecer. Não vai ter mais aquela coisa de ele prometer fazer, porque a nova opinião pública formada por essas pessoas conectadas em redes sociais já está fazendo sem ele.
Mas qual o peso real dessa nova opinião pública em termos eleitorais no Brasil? Por enquanto, pequeno. A opinião pública cobiçada pelos políticos é a televisiva. Aquela suscetível à propaganda e ao marketing político. O cenário está mudando rapidamente, mas quem vence eleição ainda são os marqueteiros. A TV tem regras precisas que são dominadas com perfeição por eles. Quanto mais o político se submete ao marqueteiro, maior a sua chance de vitória. Então, dizer que a Dilma não tem experiência em cargos executivos, por exemplo, pesa pouco para essa opinião pública televisiva. Já ela fazer plástica ou, do lado de lá, fotografar o Serra em pose de Obama, com a mão segurando o rosto, pedir para ele sorrir mais em público, isso sim tem impacto na opinião pública televisiva. O fato é que nem Serra nem Dilma são capazes de conquistá-la sozinhos. Ambos dependem dos seus marqueteiros.
Pesquisa eleitoral que ouve 3 mil pessoas capta o que pensa a opinião pública? No contexto atual de política do espetáculo, política que associa aos conteúdos as imagens televisivas, deve-se reduzir a importância normalmente atribuída às pesquisas de intenção de voto. Uma vez que a política deixa de ser doutrina ideológica para se assumir como arte dramatúrgica, a disputa eleitoral se torna algo muito próximo de um reality show. E aí o que vale é o excesso e a surpresa, a presença midiática, o ataque ao adversário, a construção de uma imagem que se pretende vencedora.
As enquetes mostram que 60% dos eleitores não sabem dizer espontaneamente o nome de um pré-candidato à Presidência da República. O que isso significa?  Significa o afastamento da política do público. Não do público da política. A política partidária, feita por lobbies preocupados apenas em se manter no poder, não interessa, cansou. E não é por motivos ideológicos, já que no fundo as diferenças entre políticos e partidos são muito pequenas. É porque a humanidade se deu conta de que a classe política é um grande câncer, no mundo inteiro. A política tradicional é feita pelas pessoas menos qualificadas - reservadas as devidas exceções, obviamente. Só que do outro lado, na rede, há cidadãos ativos, conscientes, exercendo sua cidadania diariamente, que não entram nesse jogo antigo. Isso explica as altíssimas taxas de abstenção nas eleições na Europa, que beiram 50%. A população está cansada e, por meio da internet e das redes sociais, quer reformular isso. Me parece que temos agora a alienação dos políticos em relação a essa nova opinião pública, à política real, nas quais a sociedade cada vez mais organizada na web está construindo uma realidade melhor, independentemente das disputas eleitorais.
A opinião pública brasileira topa uma presidenta mulher? Não. A sociedade brasileira é profundamente machista. Aceita no máximo uma mulher no comando do governo municipal. Mas para chefiar a nação acha que é demais. Já na nova opinião pública que está se fortalecendo na internet as regras são outras. A imagem, o gênero, são coisas que não têm a menor importância. O que faz a diferença é a participação ativa, as ideias postas em discussão, a disposição para o debate contínuo. E o melhor desse modelo é que pela primeira vez está se dando voz, de fato, aos excluídos, à massa das periferias. Estamos diante de algo tão grande quanto a prensa de Gutenberg.

Massimo di Felice é Doutor em Ciências da Comunicação e professor da USP
24 de abril de 2010 | 14h 09 - Christian Carvalho Cruz, de O Estado de S. Paulo

Consultório doente-mental

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Ivan Lessa - Colunista da BBC Brasil
Fim dos anos 50, início dos anos 60. Tinha jornal pra burro no Rio. Burro no sentido de muito, de à beça. Embora boa parte, cá entre nós, sem falsos saudosismos, era pra burro mesmo. Só e apenas. De estalo, lembro-me que, diante de uma banca de jornais, o cidadão poderia optar pelos seguintes – e vou tentar me lembrar sem googlar – Correio da ManhãDiário de NotíciasDiário CariocaO Jornal,Diário da NoiteÚltima HoraO DiaA Notícia e, na certa, outros menos concorridos.
Tentando ser franco, os matizes políticos não eram lá tão diferentes assim, com algumas exceções. Os dois últimos, passaram para a história do samba e ditos populares: jornais que se espremendo sai sangue. Os outros… Ora, os outros eram os outros. Lia-se por isso ou por aquilo outro, sem se dar conta, na maior parte das vezes, que nem “isso” nem “outro” divergiam tanto assim. Havia muitos colunistas, alguns excepcionais. Esses vendiam jornais. Aí dá para falar em época de ouro de nosso jornalismo.
Fato é que foi nessa época que dei meus primeiros passos no hoje chamado jornalismo gutenberguiano. Não dou o nome do jornal, que já tinha passado por seu momento de glória e, quando de minha “contratação” (o editor geral era meu amigão), começava a, não há outra palavra, estertorar.
Dizem os velhos jornalistas, que ainda os há, que duas são as grandes tristezas desse mundo: ver jornal e bar fechar. Para mim, com parco salário e tudo, eu achei bacanérrimo ter coluna assinada. De mim pediam que fizesse a crítica de televisão que, como hoje, ainda engatinhava no Brasil. Tamanho foi meu sucesso entre quatro colegas de redação que, em menos de um mês, foi promovido a “crítico” (as aspas vinham com o cargo) de teatro, que sempre menosprezei.
Enganei durante algumas semanas. Teorizei, contei casos, falei de montagens estrangeiras até o dia em que o editor me chamou no particular e explicou que agora não dava mais: eu teria que ir ver uma peça e, depois, num número “x” de palavras, escrever o que eu achara. Bem, ao menos a entrada era grátis. Fui, vi, tentei fazer graça. Criei inimigos no meio teatral para o resto da vida.
Mais umas semanas e meu amigo editor voltou a me chamar anunciando que eu ia pegar página nobre e iria ser – palavras dele – “nosso novo Rubem Braga”. Topei. Já aprendera que nunca se diz não a trabalho, mesmo mal pago. Tinha um senão: o cara responsável pelo consultório sentimental, e que se assinava com um nome improvável de vedete do Carlos Machado, estava se desintoxicando numa clínica e era para eu responder aos leitores durante uma ou duas semanas. O Topa Tudo aqui embarcou nessa.
Inventei um nome à altura (não direi qual) e comecei a dirigir a vida sentimental dos pouquíssimos leitores com seus variados, porém sempre desinteressante problemas, com mulheres. Num lampejo brilhante (o lugar-comum sempre me foi caro) dei para inventar consultas inusitadas. Novo sucesso com, agora, três companheiros de redação.
A coisa parou aí, o jornal fechou pouco depois. Guardei a lição. Não virei um novo Rubem Braga, nunca mais escrevi sobre televisão ou teatro. Anos mais tarde, num jornaleco cujo nome não vem ao caso, dei para responder a carta de leitor. Também desinteressantes, claro. Como antes, dei para inventar os pobres diabos. Melhorou, melhoraram, muito. Ainda sentimos saudades uns dos outros.
Essa hora da saudade toda, por que esta semana, aqui no Reino Unido, surgiu uma alma irmã da alma que eu não tive. Danny Dyer, responsável pela coluna sentimental de uma revista algo pesada para a rapaziada da pesada, tal de Zoo, andou aconselhando um consulente (Alex, de Manchester) a dar, e cito-o traduzindo o melhor que posso, “uns cortes na fachada da ex-namorada” que não queria mais saber dele. Afim, o Dyer ainda acrescentava, “de que ninguém mais se interessasse por ela”. Deu bolo e demissão do consultor nada sentimental.
Confesso, não com humildade mas com orgulho, que mesmo nos meus piores dias de destratar leitor nunca fui tão longe. Agora, mais velho e menos jornalista, posso censurar quem eu bem entender. Contanto que não seja em Twitter, evidentemente.

Skoob

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