segunda-feira, julho 12, 2010

Centrais atacam Serra para ajudar Dilma
O GLOBO
As cinco principais centrais sindicais fizeram um manifesto, divulgado ontem pelo PT, acusando o presidenciável tucano, José Serra, de praticar "golpe contra os trabalhadores". No Ceará, Serra dançou forró, enquanto Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) não tiveram agenda.

Centrais sindicais atacam Serra via PT
Em resposta, campanha de candidato divulga nota dizendo que os sindicalistas tentam "reescrever a História"
Leila Suwwan
SÃO PAULO. O PT divulgou ontem um manifesto, elaborado por cinco centrais sindicais, afirmando que o candidato tucano à Presidência, José Serra, pratica "impostura e golpe contra os trabalhadores". As centrais afirmam que ele mente ao divulgar que foi um dos responsáveis pela criação do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e pela implementação do seguro-desemprego. A carta é assinada pelos presidentes da CUT, Força Sindical, CGTB, CTB e Nova Central.
Esse grupo de sindicalistas realizou uma conferência nacional no dia 1º de junho no qual firmaram um compromisso de apoio à "continuidade" nas eleições. As centrais sindicais receberam das cinco maiores estatais do país R$7,4 milhões, entre 2006 e 2010, para a realização da festas de 1º de Maio.
"Tanto no Congresso Nacional quanto no governo (de São Paulo), sua marca foi atuar contra os trabalhadores", diz o manifesto.
A assessoria da campanha de Serra reagiu ao manifesto, por meio de uma nota:
"É a mesma mentira que o PT tenta imputar a Serra desde 2002, mas não cola. Estão usando as centrais para tentar reescrever a História e jogar baixo. Vindo de uma candidata que nunca apresentou um projeto e nunca recebeu um voto, trata-se de uma atitude imoral, reprovável, injusta e irônica", informou a campanha. De acordo com a assessoria, José Serra nunca alegou ter criado o seguro-desemprego, e sim de ter viabilizado sua implementação.
Em sua campanha, Serra tem reiterado seu papel na criação do FAT e na implementação do seguro-desemprego. No site da Câmara dos Deputados consta que o tucano propôs, em maio de 1989, o projeto de lei 2.250 que regulamentava o FAT. Mas foi considerado prejudicado, ainda de acordo com os arquivos da Câmara, porque, em 1988, um outro projeto de lei semelhante já havia sido aprovado. Também no site do Ministério do Trabalho consta que a criação do FAT e do seguro desemprego ocorreu em 1988.

Indenização por cyberbullying praticado por filho adolescente

Indenização por cyberbullying praticado por filho adolescente

O autor ajuizou ação de indenização alegando que fotos suas foram copiadas e alteradas, dando origem a um fotolog (espécie de diário fotográfico) criado em seu nome e hospedado na página do provedor de Internet, e, nesta página, foram postadas mensagens levianas e ofensivas. Além disso, foram feitas montagens fotográficas nas quais o autor aparece ora com chifres, ora com o rosto ligado a um corpo de mulher. O TJRS manteve decisão do 1º grau no sentido de condenar a mãe de um menor de idade que criou a página na Internet com a finalidade de ofender colega de classe, configurando, assim, a prática de bullying.

O 'dilmômetro' de Lula

O 'dilmômetro' de Lula
José Roberto de Toledo O ESTADO DE S. PAULO

A política é a arte da repetição. A máxima de Fernando Henrique Cardoso está sendo demonstrada por seu sucessor e desafeto. Foi falando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viabilizou a candidatura de Dilma Rousseff a sua sucessão. E é repetindo que ele tenta elegê-la.
Lula disse e repetiu o nome de Dilma até convencer a cúpula do PT, cooptar os simpatizantes petistas, os aliados do PMDB e, por ora, 38% do eleitorado. Há uma correlação direta entre as menções de Lula e o crescimento de Dilma nas pesquisas.
A operação do presidente não respeitou prazo legal. As citações continuadas a Dilma lhe renderam seis multas por propaganda antecipada. Dado o benefício eleitoral, a infração parece compensar. Lula deve R$ 42,5 mil à Justiça eleitoral, ou 0,02% do custo oficial da campanha presidencial do PT, estimado em R$ 157 milhões.
O primeiro sinal de sua opção por Dilma apareceu no discurso de Lula em meados de 2007, muito antes de que a maioria dos caciques do partido se desse conta de que uma neopetista, filiada há menos de 10 anos, cortaria a fila e viraria a candidata governista.
Em uma série de lançamentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em todas as regiões do País, o presidente soltou seu balão de ensaio eleitoral. Em apenas 54 dias, entre julho e agosto de 2007, ele repetiu o nome de Dilma em 18 discursos diferentes.
Até então, as menções do presidente à ministra-chefe da Casa Civil eram proporcionais ao destaque de seu cargo: cerca de três por mês ? embora isso já fosse duas vezes mais frequente do que as citações a seus colegas Ciro Gomes e Marina Silva.
O balão subiu devagar. Lula voltou à carga em março de 2008, quando batizou Dilma de "mãe do PAC", um epíteto que abandonaria mais tarde. Desde então, as citações a Dilma nos discursos e entrevistas do presidente só aumentaram, como se pode notar nos gráficos.
Em 2003, quando era uma desconhecida ministra das Minas e Energia, Dilma aparecia em apenas 4% dos discursos de Lula, metade do que Ciro (Integração Regional) e um terço a menos do que Marina (Meio Ambiente). Em 2005 ela substitui José Dirceu na Casa Civil e é lembrada por Lula em 12% dos discursos e 17% das entrevistas. O "dilmômetro" de Lula não parou mais de subir.
Foram 39 discursos (15% do total) de Lula citando a ministra em 2006, 63 em 2007 (19%), 80 em 2008 (24%), até chegar ao recorde de 98 citações em diferentes ocasiões ao longo do ano passado, o que significa que ele mencionou a ainda ministra em um a cada três discursos que fez em 2009. Repetiu a dose com as entrevistas: citou-a em 87 oportunidades, ou 32% das vezes que falou aos jornalistas.
Em 2010, o "dilmômetro" entrou em curto-circuito. Só nos três primeiros meses do ano, o presidente mencionou Dilma em 39 dos 78 discursos que fez. Ou seja: um sim, um não. Em março apenas, Lula citou Dilma em 20 discursos, repetindo seu nome 94 vezes, mais até do que falou "Deus" (47 vezes), uma referência permanente nas falas presidenciais.
Aí foi demais para o TSE. O tribunal multou Lula duas vezes em março, por propaganda antecipada. Coincidência ou não, Lula não citou Dilma em nenhum discurso em abril ? fato inédito desde que ela assumiu a Casa Civil. Em maio o presidente não se conteve e falou seis vezes o nome da ex-ministra, inclusive na festa do Primeiro de Maio, além de uma vez em junho. Resultado: quatro novas multas do TSE.
Mas o "dilmômetro" descontrolado de Lula já tinha dado o efeito esperado pelo presidente. Entre dezembro e junho, Dilma praticamente dobrou sua intenção de voto, ganhou cerca de 27 milhões de eleitores e empatou com José Serra (PSDB). Ela chegou ao patamar histórico de Lula nessa fase da corrida eleitoral.

A burla à lei e as multas do TSE implicaram um custo de R$ 1,00 para cada grupo de 635 novos eleitores que o presidente conseguiu para sua candidata. Lula pode dizer que fez sua parte. Agora é com Dilma.

Venda de armas de fogo aumenta no Brasil

Venda de armas de fogo aumenta no Brasil

BRASÍLIA - O número de armas de fogo vendidas no Brasil aumentou 70% desde a aprovação do comércio de armas em um referendo nacional, realizado em 2005. Segundo dados da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC) do Exército, obtidos pela Agência Brasil, em 2005 foram vendidas 68 mil armas. Em 2009, esse número já chegava a 116.900.
Os dados do Exército mostram que a venda de armas no país que havia sido reduzida 89% entre 2001 e 2004 devido ao estatuto voltou a crescer depois do resultado do referendo.
Apesar do comércio de armas de fogo ainda ser bastante inferior ao de antes do estatuto em 2001 foram vendidas 566 mil armas no país os números mostram um crescimento das vendas entre o ano do referendo e o ano passado.
O sociólogo Antonio Rangel Bandeira, especialista em controle de armas da organização não governamental Viva Rio, que defendeu a proibição do comércio na campanha de 2005, lamenta o resultado do referendo e se diz preocupado com o aumento das vendas de armas de fogo.
O grande problema do crime é a arma pequena, que é comprada em loja ou roubada do cidadão de bem, que, por sua vez, comprou essa arma numa loja. Ao proibir o comércio, você fecharia uma das grandes fontes, para não dizer a maior fonte, que abastece a criminalidade de armas disse.
Já o assessor e ex-subdiretor de Fiscalização da DFPC, coronel Achiles Santos Jacinto Filho, minimiza o crescimento apresentado pelos números do Exército. Segundo ele, o crescimento nos últimos anos, que teve um pico em 2008 com a venda de 133.700 armas e uma leve queda em 2009, não foi tão expressivo.

Números estáveis
O coronel acredita que o comércio de armas deverá se estabilizar e não alcançará níveis como os do início da década de 2000.
O aumento, principalmente em 2008 e 2009, se deveu a alguns fatores como a autorização para que os policiais pudessem adquirir armas do calibre .40. Então houve umas aquisições que são reflexo disso. Mas a tendência é que se mantenha uma estabilidade no comércio afirma o coronel.
Segundo dados do Exército, as armas mais vendidas para os cidadãos comuns são os revólveres e pistolas, nos calibres 32, 38 e 380. Já os policiais e militares adquirem mais as pistolas 9 milímetros e .40.
Os dados do Exército, que se referem às armas nacionais vendidas dentro do país, mostram a seguinte tendência: em 2001 foram vendidas 566.200 armas. Esse número caiu para 313.200 em 2002 e para 115.900 em 2003 (ano do estatuto), atingindo 63.600 no ano seguinte. Em 2005, o comércio começou a subir: 68 mil.
A trajetória de crescimento se mantém até 2008, com 81.200 armas vendidas em 2006, 92,7 mil em 2007 e 133.700 em 2008. Em 2009, as vendas caem para 116.900, ou seja, 70% a mais do que em 2005.
A Agência Brasil também teve acesso aos dados de armas importadas pelo país exceto aquelas importadas pelas Forças Armadas. O comércio de armamento importado no Brasil também mostra crescimento entre 2009 e 2005. Em 2009, o Brasil importou 3.200 armas, isto é, quase três vezes mais do que em 2005, quando foram importadas 1.100.

Heringer

Rumo à liberdade

Rumo à liberdade
17 prisioneiros cubanos e familiares podem viajar à Espanha ainda hoje
Renata Malkes - O Globo


FOTO: A líder da organização Damas de Branco - que reúne familiares de opositores políticos presos em Cuba desde 2003 - Laura Pollán declarou que 26 opositores já receberam a notícia, dos quais 20 aceitaram embarcar para o país europeu, mas outros seis "querem ficar".

Numa operação logística que surpreendeu pela rapidez, os primeiros 12 presos políticos libertados no fim de semana pelo governo cubano chegaram ontem a Havana, onde passam por exames médicos e trâmites legais para deixar a ilha rumo à Espanha. A embaixada espanhola deve terminar hoje a emissão dos vistos de entrada para os dissidentes e para cerca de uma centena de familiares que os acompanharão ao exílio. Especula-se ainda que os primeiros cubanos poderiam embarcar ainda nesta noite, num gesto visto como uma tentativa do governo de retomar relações econômicas com a União Europeia.
Até a tarde de ontem, pelo menos dez dos 17 dissidentes que viajarão à Espanha já estavam sendo submetidos a exames médicos no Hospital Penal Combinado del Este, em Havana.
Os parentes dos prisioneiros foram levados a uma unidade militar do Ministério do Interior, no distrito de Valle Grande, na capital, para aguardar a viagem, mas, segundo fontes cubanas, o reencontro familiar só será possível no avião.
Segundo Laura Pollán, líder do movimento Damas de Branco — que reúne familiares de opositores políticos presos em Cuba desde 2003 —, 26 dos 52 prisioneiros políticos anistiados já foram informados e questionados sobre uma eventual viagem à Espanha.
Desse grupo, 20 teriam aceitado o exílio e outros seis manifestaram o desejo de permanecer na ilha.

Aparição de Fidel seria advertência
rapidez do traslado de prisioneiros e familiares após a conclusão das negociações — intermediadas pela Igreja Católica e pelo chanceler espanhol Miguel Ángel Moratinos — para a soltura de 52 dos 75 dissidentes presos desde 2003 na chamada “Primavera Negra” surpreendeu os cubanos. Para o jornalista opositor Reinaldo Escobar, não estão claros os reais motivos do regime.
Ele acredita que será preciso esperar até o próximo dia 26 — quando o presidente Raúl Castro faz o tradicional discurso pelo aniversário da revolução em Santa Clara — para compreender a estratégia do governo comunista.
Mas adverte: a aparição pública de Fidel Castro na semana passada, a primeira em quatro anos, é uma advertência aos cubanos.
— Não sabemos como ou por que foi tudo tão rápido nas negociações. Mas o fato de que Fidel apareceu neste momento é sintomático. Ele quer dizer que está vivo, que os ideais da revolução estão vivos e que tudo está sob controle — disse Escobar ao GLOBO, por telefone. — Basta dizer que a visita dele aconteceu no dia 7 e somente após o acerto das libertações, no dia 11, esse fato foi divulgado. Temos que dizerlhe que as medidas não são suficientes. Ainda há gente na cadeia. E a liberdade deve ser para todos — criticou.

Recado para os Estados Unidos
Para analistas, a decisão repentina do governo de Havana pode ser interpretada como um recado ao presidente Barack Obama, em Washington. Acredita-se que o sucesso da intervenção espanhola nas negociações seja usado por Havana como uma prova de confiabilidade e de sua abertura às mudanças. A iminência de um colapso econômico na ilha — que precisa importar 70% do que consome — faz o governo Castro ter interesse imediato em restabelecer relações políticas e econômicas com a União Europeia. A libertação dos dissidentes seria uma prova de que o país está disposto a repensar a questão dos direitos humanos — como exigem os americanos — e de que está disposto a negociar para suspender o embargo econômico à ilha.
“Tudo isso acontece no momento em que o Congresso americano discute um projeto de lei para acabar com as restrições de viagem à ilha”, observa Frank López Ballesteros, do jornal venezuelano “El Universal”.
Enquanto ainda se aguarda um cronograma oficial da libertação dos demais prisioneiros políticos, ontem o governo do Chile se ofereceu para dar asilo aos cubanos que desejem viver no país.

ONU e agências de ajuda pedem que mundo continue a ajudar Haiti

ONU e agências de ajuda pedem que mundo continue a ajudar Haiti
Plantão | Publicada em 12/07/2010 às 18h01m - Reuters/Brasil Online - Por Robert Evans
GENEBRA (Reuters) - A Organização das Nações Unidas (ONU) e outras agências de ajuda pediram nesta segunda-feira que o mundo não se esqueça do Haiti, devastado por um forte terremoto em janeiro, e que mantenha o apoio financeiro para a reconstrução do país.
O pedido ocorreu durante coletiva de imprensa para relembrar o tremor, que há exatos seis meses matou cerca de 225 mil pessoas, destruiu a capital Porto Príncipe e deixou 1,5 milhão de desabrigados.
"Esperamos que os doadores continuem seus esforços para realizar as promessas que fizeram em financiar a ajuda e reconstrução, apesar dos atuais problemas econômicos do mundo", disse Elisabeth Byrs, do órgão de coordenação humanitária da ONU.
O comitê que supervisiona os trabalhos de ajuda afirma que somente 62 do por cento, ou 907 milhões de dólares, da quantia pedida pela ONU em fevereiro foi recebida.
O pedido original foi de 1,4 bilhão de dólares, revisado em maio para 1,5 bilhão de dólares diante das necessidades da população haitiana, de 10 milhões de pessoas.
Em todo o mundo, houve uma forte resposta após o terremoto, com as imagens trágicas de mortes e sofrimento no país caribenho, e doações de todo o mundo chegaram à agências de ajuda independentes.
Mas a ONU e organizações não governamentais alertaram após o tremor que seria difícil manter o interesse no Haiti sem o foco da imprensa e com tragédias em outros países.
O relatório, obtido pela Reuters, disse que as limitadas doações ao montante revisado levantaram a questão se as agências humanitárias serão capazes de manter suas capacidades de operação.

A Noite Estrelada, c.1889 Vincent van Gogh

J. Bosco para O Liberal

Economia empaca no Congresso

Economia empaca no Congresso
Eleições adiam para 2011 votação de projetos que dariam impulso ao crescimento
Gustavo Paul – BRASÍLIA – O Globo

Numa semana em que o Senado aprovou mais de 20 propostas, o Congresso Nacional encerrou os trabalhos legislativos do primeiro semestre sem concluir a votação de um único projeto da agenda microeconômica, que tramita há anos no Parlamento. Além de facilitar investimentos privados, essa agenda é formada por projetos de lei que aperfeiçoam várias áreas da economia e é considerada estratégica para destravar o ambiente de negócios e dar sustentação ao crescimento.
Segundo líderes governistas, por causa das eleições, não deve haver mais clima para aprovação de projetos relevantes este ano.
A agenda foi idealizada no apagar das luzes de 2004, por meio de um extenso documento do Ministério da Fazenda. Nos últimos anos, alguns projetos, como a Lei de Falências e a Lei do Gás, foram aprovados.
Na semana passada, havia a expectativa de aprovar outros dois: o que muda o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) e o que cria o Cadastro Positivo, que destaca os bons pagadores e pode reduzir o custo do crédito. Sem acordo entre os senadores, os dois textos não foram votados.
Se essa previsão se confirmar, o governo Luiz Inácio Lula da Silva terminará com uma lista de projetos importantes em aberto. Má notícia para a economia brasileira.
— Sem a aprovação desses projetos, a economia brasileira continuará crescendo, mas num ritmo menor.
Eles melhoram a eficiência econômica — alertou o economista Armando Castelar, da Gávea Investimentos.
Os economistas alertam que, com o bom momento da economia, os políticos deixaram essas reformas de lado, não aproveitando o momento de calmaria para fazer as mudanças. É o que diz o professor Aloisio Araújo, do Centro de Microeconomia e Regulação da Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV): — Estamos num ritmo muito lento.
Precisamos acelerar. Fazer as reformas em meio a uma crise é mais difícil. A reforma tributária, por exemplo, é essencial e seria bem mais fácil fazê-la agora, quando a situação fiscal não está tão ruim.

Reforma tributária: parada desde 2009
Tanto o projeto que reformula o Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade) quanto o que cria o Cadastro Positivo foram enviados ao Congresso em setembro de 2005.
Na semana passada, o primeiro esbarrou na resistência de última hora de senadores, que alegam não concordar com o valor máximo da multa às empresas. Até o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, mostrou-se frustrado com o atraso.
— O mais importante é dotar o Brasil de um sistema moderno, compatível com o atual estágio de desenvolvimento econômico e industrial do país — afirmou.
Esse atraso também frustrou o setor industrial. Segundo Flávio Castelo Branco, economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o modelo atual tem travas e traz insegurança para os investimentos: — Os processos são demorados e, atualmente, os prazos representam custos, o que tem impactos no dia a dia das empresas.
O Cadastro Positivo esbarrou em divergências dentro do próprio governo, que se refletiram no Congresso: os ministérios da Fazenda e da Justiça defendem projetos diferentes sobre o mesmo tema.
Atualmente, dois projetos são discutidos no Senado, sem que se chegue a um entendimento.
Mas o carro-chefe da agenda é a reforma tributária. Planejada desde 2003 pelo governo, foi enviada em fevereiro de 2008, tramitou aos trancos e, desde o ano passado, está parada por ter esbarrado nos detalhes do substitutivo do relator, deputado Sandro Mabel (PRGO).
O tema ficou para o próximo governo, o que postergará a retirada de um dos maiores entraves da economia brasileira.
É o que aponta uma pesquisa encomendada pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), divulgada em junho. Foram ouvidos 211 empresários, que dizem que a carga e a estrutura tributária brasileira são os fatores que mais afetam os negócios, levando à diminuição da competitividade e à redução de investimentos.
— O custeio do governo é muito grande. É preciso limitar essa inércia de gastos. Se isso ocorrer, dará mais espaço para os investimentos privados — diz o presidente da Amcham, Luiz Gabriel Rico.
Esse problema poderia ser atacado por um dos projetos parados: o que limita o aumento de gastos com a folha de pessoal dos Três Poderes a 1,5% ao ano. Ele sofreu tamanha resistência na Câmara que foi substituído por outro mais flexível no Senado, com percentual de 2,5%. Enviado em 2007 pelo governo, o projeto está tramitando a passos lentos desde então.
Da agenda microeconômica constam propostas que podem beneficiar os investimentos em infraestrutura.
Entre eles está a proposta que muda as regras de licenciamento ambiental e a lei geral das agências reguladoras. Ambos foram mandados pelo governo, mas não tramitam.

Mineração suspende investimentos
Enviado em 2003 e parado desde junho de 2009, o projeto do novo marco regulatório das agências, por exemplo, não andou por falta de vontade política do governo. Seu relator, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), afirma que nos últimos 12 meses faltou oportunidade para colocálo em votação: — Não teve pauta livre até agora.

Ela estava sempre trancada.
Outros projetos já anunciados, mas ainda não enviados, também ficarão para 2011. O novo marco regulatório da mineração, anunciado pelo ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, ainda está sendo discutido nos gabinetes da burocracia e não deve chegar ao Congresso tão cedo. Por isso, sem saber o que o aguarda, o setor de mineração suspendeu investimentos em pesquisa. Também ficou para o próximo governo o projeto que permitirá ao Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelecer regras sobre como as empresas de cartões de crédito devem agir no relacionamento com lojistas e consumidores

Banho de água fria

Banho de água fria
CARLOS ALBERTO DI FRANCO
O inverno começou com um banho de água fria na cidadania.

Dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes e Dias Toffoli, livraram provisoriamente políticos do efeito anticorrupção da Lei da Ficha Limpa. As liminares concedidas por Mendes e Toffoli, permitindo o registro de candidaturas de “fichas sujas”, provocaram fortes reações. O advogado e especialista em legislação eleitoral Luciano Santos afirmou que as liminares contrariam a própria Lei da Ficha Limpa. “No artigo 26 C da lei está expresso que o feito suspensivo só pode ser concedido por órgão colegiado (grupo de juízes) e nunca em decisão monocrática”, explicou. O que mais preocupa, no entanto, é a dúvida semeada por Toffoli a respeito da constitucionalidade da lei. “Aponto que a própria adequação da Lei Complementar nº 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) com o texto constitucional é matéria que exige reflexão”, disse o ministro. O presidente interino do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, caminhou, felizmente, na contramão de seus colegas. Barrou a tentativa de três “fichas sujas” concorrerem às eleições com aval da Justiça.
Ora, a Lei da Ficha Limpa foi resultado de um impressionante movimento para tornar inelegíveis políticos condenados pela Justiça. É o clamor pela ética na vida pública. O Brasil não suporta mais a imposição de um modelo de governança carregado de cinismo e corrupção.
Uma onda irrefreável de decência, apoiada na força de quase 2 milhões de assinaturas, varreu a Praça dos Três Poderes, em Brasília. E o que parecia impossível ganhou contorno de realidade. O Congresso se rendeu à explícita vontade da sociedade e aprovou a lei, sem maquiagens.
É essencial que o Judiciário esteja à altura da indignação social. Em nome do amplo direito de defesa, importante e necessário, a efetivação da justiça pode acabar numa arma dos poderosos e numa sistemática frustração da sociedade.
Não é possível, agora, que o Supremo Tribunal Federal decida de costas para a cidadania. O que deve prevalecer é o espírito das leis, não o mero formalismo jurídico. É preciso, uma e outra vez, refletir sobre os riscos de um formalismo interpretativo, de um apego à filigrana jurídica que supervaloriza a letra da lei, em detrimento de seu espírito, acabando por cercear, tolher e manietar a legítima aspiração de limpeza política que grita na alma e no coração de cada brasileiro.
A corrupção é, de longe, uma das piores chagas que castigam o organismo nacional. Esperemos, todos, que o STF, instituição exemplar ao longo da História, saiba pulsar o sentimento da sociedade. Com a aplicação da Lei da Ficha Limpa, sem indesejáveis casuísmos, subiremos ao patamar de decência e civilidade que o Brasil merece.
CARLOS ALBERTO DI FRANCO é diretor do Master em Jornalismo.

Mariano, para A Charge Online

Terraço do Café na Place du Forum, Arles, à Noite, c.1888 Vincent van Gogh

Reputação ilibada

Reputação ilibada
Paulo Brossard - Jornal ZERO HORA (RS)

A lei determina que os candidatos à presidência da República registrem no Tribunal Superior Eleitoral o seu programa de governo. Na manhã do dia 5 de julho, a candidata do partido oficial e de seus associados registrou o seu programa. Este o fato, certo, público, incontestado e incontestável. Sem demora, passou a ser divulgado, principalmente pela internet. Na mesma segunda-feira, 5 de julho, no fim da tarde ou na boca da noite, o programa apresentado e registrado pela manhã foi retirado e apresentado outro. É outro fato, também certo, público e incontroverso. Foi igualmente publicado. Ou seja, pela manhã o TSE recebeu e registrou um programa de governo de uma candidata e no fim da tarde, retirado o programa matinal, foi apresentado e registrado outro, retocado ou podado ou corrigido ou escoimado de algumas inconveniências ou que outro nome tenha. Os dois fatos são certos e notórios.
É a respeito deles que pretendo fazer breve comentário, embora eles se prestassem a várias observações, dado o ineditismo da ocorrência, pois, acredite ou não, isto que ocorreu na manhã e à noite de segunda-feira, 5 de julho, não foi obra de pessoas hostis à candidata ou a ela antipáticas, mas por pessoas da imediata confiança da declarante e do seu partido e, quiçá, da própria coligação costurada em torno e a favor da própria autora de ambas as declarações, uma substitutiva da outra, a vesperal sucedendo e substituindo à matinal.
Até aqui, os dois fatos, tal como divulgados pela imprensa e demais meios de comunicação. Falo em imprensa uma vez que se não apagam facilmente os fatos divulgados por via impressa. Muitas coisas poderiam ser ditas a respeito do episódio, que é sem precedente, donde se possa dizer que, ao contrário do que disse o rei Salomão, e vem sendo repetido há séculos, pode haver coisa nova debaixo do sol; trata-se de novidade, sou levado a cometer um pleonasmo dizendo que se trata de novidade nova. Limitar-me-ei ao mínimo, exatamente em virtude de sua singularidade.
Se não estou em erro, ao dispor como o fez, a lei quis que os candidatos à Presidência, por via da mais alta Corte eleitoral do país, pudessem fazer e fizessem uma declaração solene de suas pretensões em caso de eleitos. Um ato sem embustes, ato de lealdade praticado sob as vistas do povo por quem, eleito, sob custódia do TSE, viesse a ser proclamado o primeiro magistrado e servidor da nação. Um ato de limpidez sem mácula, incompatível com a felonia, a falsidade, a perfídia, a deslealdade. Ora, estava reservada à candidata do oficialismo, saída da costela do presidente da República, à maneira de Eva, desfazer no fim da tarde o feito no começo da manhã, como se o programa de governo pudesse ser obra de marqueteiro que se apraza em refazer a estampa física da pessoa. Uma contrafação em matéria de solenidade suprema. Lamento ter de fazer esta observação, mas não poderia calar diante de sua gravidade sem par.
Em outras palavras, presume-se que o candidato à presidência da República goze de reputação ilibada. Não sei se incido em erro, mas tenho lembrança de que o currículo oficial da mesma personagem ostentava títulos universitários inexistentes e, apontado o dado fantasioso, ela própria apressou-se a corrigir o divulgado. A lei eleitoral, na cláusula em exame, tem a finalidade altamente meritória e deve ser observada com fidelidade, sob pena de jazer na inutilidade das leis esquecidas, embora não revogadas.

PS. Depois de entregue este artigo à Redação, a imprensa informou que está sendo elaborado um terceiro programa de governo.
*Jurista, ministro aposentado do STF

Skoob

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