terça-feira, julho 27, 2010

SANTANA, A MÃE DO SERIDÓ by Johnguardacosta

Dálcio, hoje no Diário do Povo (Campinas)

Brasil-Irã: como fazer amigos e dar-se mal

Brasil-Irã: como fazer amigos e dar-se mal
ROBERTO ABDENUR - Folha de S Paulo 
O governo brasileiro cometeu grave erro diplomático ao buscar excessiva aproximação com o Irã, sem ter em mente a complexidade da questão

Em artigo publicado nesta Folha em 21 de julho último, o embaixador do Irã em Brasília comentou os entendimentos entre seu país, Turquia e Brasil a propósito do programa nuclear iraniano ("Brasil respeitado pelas nações").
A iniciativa por ele mencionada suscita algumas considerações em termos das implicações, para os interesses do Brasil, de nosso envolvimento na questão. 
Abordo o tema com alguma vivência direta do assunto: como embaixador perante a AIEA, em Viena, e presidente naquela subsede das Nações Unidas, ao longo de 2003, do chamado "Grupo dos 77 e China" (que defende os interesses dos países em desenvolvimento no plano econômico), tocou-me atuar na questão quando, pela primeira vez, tornou-se público que o Irã, durante 18 anos seguidos, vinha conduzindo atividades nucleares de forma clandestina, sem delas dar conhecimento à AIEA, como exigem as obrigações assumidas perante aquela agência pelos países que aderem ao Tratado de Não Proliferação de armas nucleares. 
De lá para cá -passados, portanto, outros sete anos- múltiplas idas e vindas entre Teerã e a AIEA não lograram dirimir as desconfianças sobre as verdadeiras intenções do programa iraniano. Até o final de 2009 o secretariado da AIEA afirmava não ter indícios de desígnios malévolos, mas esclarecia não haver obtido das autoridades iranianas esclarecimentos capazes de afastar as suspeitas de intenções ocultas. 
Em fevereiro do ano em curso, novo relatório da AIEA elevou o tom: afirmou categoricamente, sim, haver fundadas razões para suspeitas de propósitos militares nas atividades nucleares iranianas. 
O governo brasileiro cometeu grave erro diplomático ao buscar, de modo arrojado e irrefletido, excessiva aproximação com o Irã, sem ter em mente a extrema complexidade e delicadeza da questão.
As operações diplomáticas são em boa medida análogas a operações militares: não se adentra um cenário de conflito sem prévio exame de todas as condições do terreno e de seu entorno, sem cuidadosa avaliação dos riscos e custos e sem levar na devida conta os interesses e posicionamentos de outros atores envolvidos na trama.
Foram ignoradas circunstâncias que saltavam aos olhos. Em primeiro lugar, a avaliação da AIEA, que é organização séria e confiável, não sujeita a manipulação por qualquer potência. De outra parte, deixou-se de ver que a questão nuclear iraniana não é contencioso somente entre Teerã e Washington. 
É problema que inquieta, e muito, a maior parte dos países árabes, os europeus em geral e até mesmo duas potências com imensos interesses concretos no Irã (ao contrário do Brasil, que não os tem): China, grande compradora de petróleo, investidora na prospecção de óleo e gás e exportadora de bens e serviços para o país; e Rússia, prestes a concluir a obra do primeiro reator nuclear para geração de energia elétrica no Irã -e que se responsabilizará totalmente pelo fornecimento do combustível a ser por ele usado. 
Ao fim e ao cabo, viu-se o Brasil, no seio do Conselho de Segurança das Nações Unidas (onde iniciamos, para o biênio 2010-2011, novo mandato como membro temporário), na incômoda posição de discordar de ampla e significativa maioria, ao votar contra nova rodada de sanções, apoiadas até mesmo por Pequim e Moscou.
Esses passos em falso -a indevida, quase entusiástica identificação com o Irã, e o voto negativo- lesionam seriamente a imagem de equilíbrio, objetividade e imparcialidade que tradicionalmente fundamenta nosso pleito por lugar permanente no Conselho de Segurança, a instância decisória suprema em questões de ameaças à paz e à segurança internacionais. 
Triste paradoxo: estar hoje nossa própria diplomacia a minar as credenciais do país na perseguição de um de seus mais importantes desideratos em política exterior... 

ROBERTO ABDENUR, diplomata de carreira aposentado, foi embaixador do Brasil no Equador (1985-1988), na China (1989-1993) e nos EUA (2004-2006), entre outros países, além de secretário-geral do Itamaraty (1993-1994). É membro do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais).

Spring Awakening Tony Performance

Para leitores, Educação é a principal prioridade do próximo presidente

Para leitores, Educação é a principal prioridade do próximo presidente
Publicada em 27/07/2010 às 07h20m
Carolina Benevides e Dório Ewbank Victor

Enquete realizada pelo GLOBO no início da campanha eleitoral identificou a Educação como prioridade e principal desafio do próximo presidente do Brasil. Entre os 2.380 eleitores que opinaram sobre os grandes problemas brasileiros, 57% acham a questão crucial para o futuro do país. Segurança (16%), Saúde (14%), Trabalho, Emprego e Renda (12%) e Cultura (1%) completaram a lista de necessidades. (Confira as propostas dos presidenciáveis para a Educação)
O ambiente especial de Eleições 2010 publicará toda a terça-feira, nas próximas semanas, um panorama sobre os temas mais votados (Educação, Segurança e Saúde) e apresentará as propostas dos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) até esse momento da corrida eleitoral.
Analfabetismo e violência ainda são desafios
Não faltam ao Brasil metas para melhorar o ensino. O Índice de Desenvolvimento da Educação (IDEB), principal indicador da qualidade da educação, que leva em conta o rendimento escolar nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e também no Ensino Médio, estabelece que, numa escala de 0 a 10, o país chegue a 2021 com média 6 nas escolas de 1ª à 4ª série. Em 2009, o índice não passou de 4,6.
Candidatos ao Planalto, Serra, Dilma e Marina também já traçaram suas metas. Universalizar a alfabetização, investir nos cursos técnicos, aumentar o percentual do PIB, construir creches e apostar em educação integral são algumas das promessas. Mas o fato é: o investimento público em educação não ultrapassou 4,7% do PIB em 2008, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). No ensino superior, em 2000, também de acordo com o MEC, eram investidos R$ 15.341 por aluno/ano. Em 2008, o número havia caído para R$ 14.763.
Além de estabelecer metas, nos últimos anos o Brasil passou a contar com vários mecanismos para medir a qualidade do que os alunos aprendem em sala de aula: Prova Brasil, que avalia a cada dois anos os estudantes da 4ª e da 8ª séries (5º e 9º ano), o Ideb, a Provinha Brasil, que avalia as crianças do 2º ano, e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que além de medir o nível dos alunos do ensino médio serve como critério de seleção para mais de 500 universidades. No entanto, os resultados causam alarde. No Enem de 2009, 97,8% das quase sete mil escolas que tiveram média abaixo de 500 - a escala vai de 0 a 1.000 - eram estaduais. Problemas como crianças fora das salas de aula, escolas com pouca ou quase nenhuma infra-estrutura e déficit de professores também preocupam.
Velhos fantasmas do sistema educacional público, como o analfabetismo e o déficit de professores no Ensino Básico, ainda podem assombrar o futuro presidente da República na próxima gestão. A violência urbana e falta de investimentos no setor tornam ainda mais precária a Educação do país, apontada por especialistas como um dos principais freios do crescimento nacional.
Veja as propostas dos presidenciáveis para a Educação (aqui vai o link)
O principal problema apontado pelos especialistas é o analfabetismo. Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um estudo realizado em 2007 revelou que o número de analfabetos do país chega a 14,4 milhões.
Não podemos pensar em crescimento do país com um número tão grande de analfabetos
- Não podemos pensar em crescimento do país com um número tão grande de analfabetos. São pessoas que ainda não foram incluídas socialmente no país - disse o presidente do Conselho Nacional de Trabalhadores em Educação (CNTE), professor Roberto Leão. Ele ressaltou que, além daqueles que nunca tiveram acesso a uma carteira escolar, existem os chamados analfabetos funcionais, que chegam a cursar alguns anos do ensino fundamental e médio, mas saem dos colégios, muitas vezes, só sabendo assinar o próprio nome.
- Este poderá ser o principal desafio do presidente, já que o analfabetismo é um problema que outros presidentes tentaram em vão resolver. Seria importante que o futuro governo desenvolvesse um sistema de educação articulada. Digo articulada porque envolveria os diversos sistemas educacionais que existem. Resumindo, o ensino do Norte do país seria o mesmo do Sudeste, claro, respeitando as diferenças culturais - ressalta Leão.
Violência ameaça professores e provoca evasão escolar
Outro problema da educação pública é a violência urbana. Em vários estados, como o Rio de Janeiro, escolas que ficam localizadas em comunidades comandadas pelo tráfico de drogas ou grupos paramilitares (milícias) ficam dias, até semanas sem aula por conta dos frequentes tiroteios entre policiais e criminosos.
Nestes confrontos, muitas vezes os inocentes acabam sendo as vítimas, como na semana passada, perdida durante um confronto entre policiais militares e traficantes. Em abril deste ano, dois assaltantes invadiram uma escola de educação infantil no bairro do Brás, zona central de São Paulo, e mantiveram professoras reféns .
Cerca de 200 escolas no Rio sofrem influência direta ou indireta do tráfico de drogas ou de grupos de milicianos
- Cerca de 200 escolas no Rio sofrem influência direta ou indireta do tráfico de drogas ou de grupos de milicianos. As escolas ficam expostas a tiroteios nas comunidades. Muitos alunos ficam dias sem aula, e não tem como repor. Na Zona Oeste do Rio, por exemplo, os milicianos ditam as regras, como as matrículas, onde somente alunos de uma determinada região podem estudar em uma instituição pública localizada no seu território - explica o coordenador geral do Sindicato dos Profissionais em Educação do Rio (Sepe), Danilo Serafim.
Além dos confrontos, a violência prejudica ainda mais a educação quando começa influenciar os alunos, como explicou Serafim: - Recentemente tivemos o caso de um aluno que quebrou o dedo de uma professora porque ela quis que ele tirasse o fone de ouvido durante a aula. Isso é reflexo da violência que estes jovens estão submetidos diariamente. Além disso, essa influência faz com que o aluno desista de estudar, porque vê nas ruas mais perspectivas de vida do que na escola.
Déficit de professores chega a 250 mil no país
Por causa dos baixos salários e da falta de infraestrutura da rede pública de educação, a profissão de professor tem se tornado a última escolha daqueles que acabam de terminar a faculdade. Isso tem provocado um déficit de aproximadamente 250 mil profissionais nos ensinos Médio e Fundamental, segundo alerta a CNTE. Isso prejudica significativamente o aprendizado de cerca de 52 milhões de alunos do Ensino Básico público, de acordo com informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Quando o jovem termina a faculdade, ele prefere trabalhar em outras áreas do que ser professor
- Grande parte deste déficit é de professores de matemática, física, química e biologia. Quando o jovem termina a faculdade, ele prefere trabalhar em outras áreas do que ser professor. Precisamos urgentemente valorizar esta profissão (professor), porque a tendência é que este déficit aumente - disse Roberto Leão.
Além dos baixos salários e da violência, os professores também se deparam com as péssimas condições de infraestrutura das escolas públicas. - Muitas delas não têm biblioteca, laboratório, não tem nada. Assim fica difícil estimular o aluno a estudar, ou melhor, a gostar de estudar - revela Leão.
Investimento de 10% do PIB em educação
Outra questão apontada pelos especialistas como um dos obstáculos da educação nacional é a ampliação do financiamento público. Atualmente, cerca de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país é aplicado no sistema educacional, as entidades do setor defendem que este percentual deveria ser de, no mínimo, 10%.
- O aumento do percentual do PIB é importante porque isso significa mais verba para investir no aluno. Quando se aumenta o investimento, saímos da situação de estrangulamento e passamos a trabalhar com um panorama de crescimento - disse Marina Barbosa, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).
O que acontece não é só o sucateamento do ensino público, e sim um conjunto de ações que favorece o setor privado
Segundo Marina, a insuficiência desse financiamento nas duas últimas décadas tem possibilitado a expansão massiva da oferta de vagas pelo setor privado (responsável hoje por cerca de 80% das matrículas do nível superior).
- O que acontece não é só o sucateamento do ensino público, e sim um conjunto de ações que favorece o setor privado. Por exemplo, o Enem, declarado como um elemento de democratização pelo governo federal, permite que o aluno ingresse na rede particular de ensino, mas, na verdade, quando a instituição oferece estas vagas, ela consegue isenção de vários impostos. Seria melhor o governo arrecadar estes impostos e ampliar as vagas na rede pública - disse.

Para OAB, opinião da Ajufe sobre STF é sectária

COMPOSIÇÃO DA CORTE

 Para OAB, opinião da Ajufe sobre STF é sectária



POR RODRIGO HAIDAR
A declaração do presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Gabriel Wedy, de que o Supremo Tribunal Federal é um tribunal de advogados, é “infeliz, preconceituosa e demonstra um sectarismo assustador”. Essa é a opinião do presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante Júnior.
O presidente da OAB disse à revista ConJur que “os ministros do Supremo, de hoje e de ontem, devem se orgulhar dos seus passados”. Para Ophir, a declaração de Wedy “é sectária porque deseja, passando por cima dos preceitos constitucionais, garantir uma reserva de vagas a partir de uma lista indicada por critérios exclusivamente corporativos, o que fragiliza a própria indicação”.
Ophir ressaltou que “o que determina a investidura em tão importante cargo da República é, segundo a Constituição, o notório saber jurídico e a reputação ilibada”. E são esses os critérios que devem ser observados para a escolha. “Para a OAB, é uma honra se dizer que o Supremo Tribunal Federal é um tribunal de advogados, embora a entidade não concorde com a utilização de critérios corporativos para a indicação”, concluiu.
No sábado (24/7), a ConJur publicou reportagem na qual o presidente da Ajufe defende que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, escolha um juiz federal para a vaga do ministro Eros Grau, que se aposenta até o dia 19 de agosto. Gabriel Wedy afirmou que causa preocupação quando se olha “a foto da atual composição do Supremo e percebe-se que há apenas um juiz de carreira”.
Para o presidente da Ajufe, é “nefasto para a República” que se abra mão da experiência de juízes federais no STF. “Claro que temos grandes ministros vindos da OAB e do Ministério Público, mas a experiência do magistrado de carreira é fundamental. É triste que não tenhamos representatividade de juízes de carreira no Supremo. Que ele seja composto, em sua ampla maioria, por advogados. Um tribunal de advogados”, disse.
Gabriel Wedy admitiu que o Supremo não é menos qualificado por não ter juízes federais em sua composição, mas disse que a falta de magistrados federais torna a Corte “menos democrática e menos plural”. O presidente da Ajufe ainda questionou: “Quando nós transformamos um tribunal em um tribunal da OAB, será que a população está segura?”.

Lista sêxtupla
A Ajufe pretende entregar nas próximas semanas ao presidente Lula os currículos de seis juízes que foram escolhidos por seus pares para integrar o Supremo como representantes dos juízes federais. A lista com os nomes escolhidos já foi encaminhada por ofício. Os mais votados foram Fausto Martin De Sanctis, Leomar Barros Amorim de Sousa, Odilon de Oliveira, Reynaldo Soares da Fonseca, Ricardo César Mandarino Barreto e o ministro do STJ Teori Albino Zavascki.
A lista foi entregue em ordem alfabética, para não beneficiar nenhum dos seis mais votados. Votaram na pesquisa 1.008 juízes federais — segundo dados do CNJ, os magistrados federais de primeira e segunda instância eram 1.212, em 2008. Odilon de Oliveira e Fausto de Sanctis, dois juízes com forte presença na mídia, foram os mais votados: tiveram 67 e  62 votos respectivamente. Segundo o presidente da Ajufe, a eleição foi direta, sem a interferência da entidade.
O presidente da Ajufe ressaltou que os seis candidatos possuem os requisitos constitucionais necessários para a investidura no cargo, como reputação ilibada e notório saber jurídico.

Waldez, hoje no Amazônia Jornal

Guantânamo nunca mais - Mary Zaidan

Guantânamo nunca mais - Mary Zaidan

BLOG DO NOBLAT

 A dignidade humana não é negociável e qualquer afronta a ela deveria causar aversão, repulsa. Em especial quando o agente da agressão é o Estado. E não interessa se o ofensor é a ilha de Fidel, um reino de aiatolás ou o império do tio Sam. Ninguém tem o direito de desculpar torturas, encarceramento injustificado, cerceamento de liberdade. E muito menos defender pecados de alguns porque há muitos que pecam.
Mas a candidata do PT, Dilma Rousseff, parece não saber disso.
As atrocidades cometidas contra os presos de Guantânamo não perdoam a tirania do regime castrista, os assassinatos de inocentes cometidos por Mahmoud Ahmadinejad ou a perseguição insana de Hugo Chávez aos seus adversários. Todos merecem o repúdio e a condenação de qualquer um que tenha a mínima noção do que, de verdade, são os direitos humanos.
Mas Dilma parece não saber disso.
Na entrevista solo à TV Brasil, a candidata do presidente Lula chegou a ficar irritada. Para desculpar a esquizofrênica política externa do governo de seu padrinho, seja em relação a Cuba, ao Irã ou à Venezuela, Dilma primeiro tentou o lugar comum de que o Brasil não se mete em quintal alheio. Depois se enrolou com Honduras e, mais tarde, contra-atacou: "E em Guantânamo, se respeita os direitos humanos?"
Uma frase juvenil, ingênua, que não teria lá grande importância se não fosse da candidata à Presidência do Brasil, país que sob a batuta de Lula não aderiu à condenação pública de Guantânamo, feita pela ONU em 2006 e apoiada por dezenas de nações. Talvez pelos laços de amizade fraterna do criador de Dilma com o então presidente George W. Bush.
Mas é verdade, Dilma. Não há desculpas para Guantânamo. Assim como não as há para as prisões de Cuba, para os desvarios do Irã, as barbáries do Sri Lanka, da Coréia do Norte, de Mianmar (ex-Birmânia) - um regime militar que se arrasta há 20 anos, condenado pela ONU por manter mais de dois mil presos de etnias minoritárias. No entanto, o governo Lula decidiu instalar lá uma embaixada brasileira, o que também deve acontecer na Coréia do Norte.
Não, Dilma, em Guantânamo não se respeitam os direitos humanos. Mas isso não justifica as condições subumanas em que presos políticos são mantidos na mesma ilha ou em qualquer outro lugar do planeta.
É imperativo que o mundo cobre de Barack Obama a promessa de acabar de vez com a prisão dos horrores, algo que já devia ter acontecido. E o Brasil, ao lado de outros países que defendem o Estado de Direito, deveria exigir isso. Mas não se credenciará para tal se insistir no Estado ideológico, no esquerdismo barato e ultrapassado. Só poderá fazê-lo se parar de vez de incensar regimes totalitários como os de Fidel e seu irmão Raúl, ou democracias de mentirinha como as do Irã e da vizinha Venezuela.
É verdade Dilma, Guantânamo não respeita direitos humanos. Mas a insistência em usar esse truque maroto para proteger regimes amigos, ainda que opressores e cruéis, atenta contra tudo e todos. Quem os defende flerta com o autoritarismo. Só podem ser ideólogos do atraso ou antidemocratas declarados.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa

Brasil fracassa em aspiração de ser potência mundial

Brasil fracassa em aspiração de ser potência mundial
Entrevista Jorge Castanheda - Folha de S Paulo

PARA HISTORIADOR MEXICANO, GOVERNO LULA PRIVILEGIOU QUESTÕES ERRADAS E SE ESQUECEU DE VIZINHOS EM CONFLITO

SYLVIA COLOMBO -
EDITORA DA ILUSTRADA
A crise política na qual Colômbia e Venezuela estão mergulhadas deve ser o principal tema do debate sobre democracia na América Latina, hoje em São Paulo, do qual participará o historiador mexicano Jorge Castañeda.
Em entrevista concedida à Folha por telefone na semana passada, Castañeda criticou Luiz Inácio Lula da Silva. Para o intelectual, o presidente brasileiro coleciona fracassos em sua política externa e deveria preocupar-se mais com os conflitos regionais, e não em tornar-se protagonista em casos distantes e polêmicos.
Leia, abaixo, trechos da entrevista .

Folha - Como o sr. vê a política externa de Lula, em especial no que diz respeito à América Latina? 
Jorge Castañeda - A inércia geográfica, econômica e demográfica da América do Sul levou o Brasil a ter um papel de maior liderança do que antes. Isso aconteceria com ou sem o governo Lula. O fato de Lula estar fazendo um governo bom internamente faz com que o peso natural do Brasil se exerça de maneira mais clara na região.
Porém, tudo o que Lula tentou fazer fora do âmbito interno só resultou em fracassos. Tratou de obter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU, não o obteve. Tratou de priorizar a Rodada Doha e não conseguiu nada. Tratou de ser um ator central para que se lograsse um acordo em Copenhague e não só não o alcançou como o Brasil em parte foi responsável para que isso não acontecesse.
Tratou de se apresentar como protagonista num acordo nuclear com o Irã, mas sua mediação foi rechaçada pelo mundo inteiro, exceto pela Turquia e pelo próprio Irã.
Mas creio que mais importante é o fato de que Lula se absteve de mediar ou resolver conflitos que estão mais perto do Brasil. E há tantos. Os de Uruguai e Argentina, de Colômbia e Venezuela, de Peru e Chile, de Colômbia e Nicarágua, de Chile e Bolívia e o de Equador e Peru. Conflitos próximos abundam, e o Brasil não exerceu nenhuma liderança em nenhum desses casos.
Tampouco se apresentou para ajudar em problemas internos de outros países da América Latina. Salvo parcialmente no caso da Bolívia, e isso o fez para defender os interesses da Petrobras.
Suas aspirações de potência mundial fracassaram, e ele não mostrou interesse de atuar como legítima potência regional. Lula faz um governo muito bom internamente, mas coleciona fracassos e erros no âmbito externo.

Como o sr. viu a libertação dos presos cubanos e o papel da Espanha?
A libertação foi um triunfo de Guillermo Fariñas. E um triunfo póstumo de Orlando Zapata. [O chanceler espanhol Miguel Ángel] Moratinos apareceu sem ser convidado e tratou de obter benefícios políticos por algo que não fez.
O importante é que, pela primeira vez, a ditadura cubana enfrentou um cidadão cubano, em Cuba, e perdeu. Ganhou o cidadão. Isso é muito novo e muito significativo. O que não é novo é que Fidel e Raúl Castro usem presos políticos como fichas de negociação com outros países.
É lamentável que o governo socialista da Espanha tenha se prestado a essa manobra. Se Cuba quer deportar seus presos, que os deporte, haverá muitos países que os receberão de braços abertos, incluindo os que por lei estão obrigados a fazê-lo, como os EUA.
No México, depois de ter caído para terceira força política em 2006, o PRI (Partido da Revolução Institucional) vem se recuperando, apesar de ter sido contido nas últimas eleições pela aliança entre PRD (Partido da Revolução Democrática) e PAN (Partido da Ação Nacional). Qual é o panorama para as próximas eleições presidenciais, em 2012?
As coisas não serão fáceis para o PRI. Em primeiro lugar porque [Felipe] Calderón vai fazer tudo para eliminar o candidato líder do PRI, Enrique Peña Nieto. No México, como disse Fernando Henrique Cardoso sobre o Brasil, um presidente não pode colocar um presidente no poder, mas pode vetar um presidente. Creio que lutar contra Calderón vai ser muito difícil.
Em segundo, porque os rivais de Peña Nieto no próprio PRI também vão fazer o que podem para destruí-lo. E ele tem muitos flancos vulneráveis. E, em terceiro, o PRI não tem outro bom candidato. A eleição de 2012 vai ser muito competitiva.

Como o sr. vê a questão do crescimento do narcotráfico no México?
A violência está aumentando desde que Calderón começou essa guerra, em 2006. O número de execuções cresceu enormemente. A guerra trouxe mais violência. A violência no México estava diminuindo desde o começo dos anos 90 até que Calderón chegou. Sou contra a guerra contra o narcotráfico do modo como está sendo feita. Foi um erro, uma improvisação, algo decidido por motivos políticos, e que trouxe enorme perda ao país. Já temos 25 mil mortos, um desgaste internacional terrível, sem nenhum resultado.

Como o sr. vê a lei do Estado do Arizona que fecha o cerco aos imigrantes ilegais?
Provavelmente alguns outros Estados dos EUA farão leis semelhantes. Temos de esperar para ver o que dizem os tribunais americanos sobre a constitucionalidade dessa lei. Muitos, como eu, já pensávamos, há dez anos, que se não houvesse acordo entre EUA e México sobre o tema da imigração, algum dia ia haver uma reação muito violenta nos EUA contra a imigração ilegal. Infelizmente, é o que está acontecendo. É urgente que Calderón, os presidentes da América Central e do Caribe, de Equador, Peru e Colômbia pressionem Obama para que envie uma reforma imigratória geral ao Congresso.

O que o sr. achou de Hugo Chávez ter exumado os restos mortais de Simón Bolívar? Até que ponto é uma maneira de desviar a atenção pública dos problemas do país?
A questão política é só parte da explicação. Chávez crê muito em magia negra, bruxaria, candomblé etc. E a exumação de restos é uma típica prática dessas artes e crenças. Elas o levaram a exumar os restos do libertador para tomar energia. Creio que ele pensa de verdade que isso pode funcionar.

Hermenêutica de muleque...

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