sábado, agosto 21, 2010

Irã inaugura central de energia nuclear

Irã inaugura central de energia nuclear
Primeira planta do país, construída com ajuda da Rússia e monitorada por agência da ONU, será aberta hoje

Autoridades dizem que reator tem uso apenas civil; temor do Ocidente é o enriquecimento de urânio para fins bélicos 


DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O Irã dará um passo importante em seu programa nuclear ao colocar em funcionamento, hoje, sua primeira central para a produção de energia nuclear.
A central de Bushehr, no sul do país, foi construída com ajuda da Rússia e funcionará com urânio enriquecido provido pelos russos, responsáveis por recolher o combustível usado e levá-lo de volta a Moscou.Desse modo, espera-se que ele não possa ser usado pelo Irã para construir armas atômicas. Como Bushehr deve ser monitorada pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), não contribuirá, segundo especialistas, para a proliferação de armas nucleares.
E não tem relação com o programa iraniano de enriquecimento de urânio -principal fonte de preocupação do Ocidente e motivo das sanções impostas ao Irã pela ONU (com apoio russo) e, unilateralmente, por EUA e União Europeia. O projeto começou em 1974, foi suspenso após a Revolução Islâmica (1979) e em 1995 passou a contar com o envolvimento russo. Custou estimado US$ 1 bilhão e representa para o Irã o domínio de mais uma etapa de conhecimento nuclear, indo além do processo de enriquecimento de urânio feito em centrífugas de usinas como Natanz e Qom.
O Ocidente -que acusa Teerã de buscar a bomba atômica- não tentou impedir o funcionamento de Bushehr, mas criticou o envolvimento russo no projeto. Autoridades russas e iranianas dizem que a planta tem uso unicamente civil e atestam o interesse de Teerã em manter um programa nuclear de fins pacíficos. A central "mostra a determinação e a capacidade iranianas de perseguir suas atividades nucleares", disse Javad Karimi, parlamentar iraniano. Outra autoridade afirmou que o projeto atesta "o fracasso das sanções" ao Irã.
Moscou, que conseguiu que a ONU excluísse Bushehr do embargo internacional de tecnologia nuclear ao Irã, defende que a colaboração na central pode facilitar a retomada do diálogo global sobre o programa de enriquecimento de urânio iraniano.
Ainda assim, críticos mais linha-dura do Irã dizem que a planta desrespeita as sanções da ONU e pode ajudar na suposta busca iraniana por armas atômicas. O enviado do Irã à AIEA, Ali Asghar Soltanieh, disse que eventual ataque à planta violaria normas da ONU.
CAPACIDADE
Teerã planejava marcar a inauguração do reator com celebrações por todo o país.
Bushehr terá capacidade de produção de 1.000 megawatts (em comparação, a de Angra 2 é de 1.350 MW) e usará urânio enriquecido em nível de 3,5% (contra 90% do necessário para a bomba).
Os EUA, por sua vez, acalmaram Israel -adversário de Teerã- quanto à proximidade do Irã em obter a bomba atômica, dizendo que o país persa levaria ao menos um ano para iniciá-la.

Construção de mesquita em Nova York gera polêmica

Construção de mesquita em Nova York gera polêmica

A controvérsia nos Estados Unidos pelo projeto de uma mesquita no sul de Nova York ocorre num momento em que o vazio existente desde 2001 no desolado Marco Zero apenas começa a ser preenchido.
Ciganos expulsos prometem retornar à França

Peggy Hollinger e Chris Bryant
O avião mal tocou a pista do aeroporto de Bucareste, na quinta-feira, e muitas das famílias ciganas, deportadas da França por permanecerem além do prazo de seu visto, já planejavam voltar.
“É claro que estamos pensando em voltar”, disse Ionut Balasz, 26 anos, aos jornalistas ao chegar ao aeroporto. “A vida é melhor do que na Romênia, mesmo quando você é ilegal.”
A vida melhor de Balasz era em um acampamento improvisado nos limites de Grenoble, uma das cerca de 300 favelas ilegais que Nicolas Sarkozy, o presidente da França, prometeu remover.
A política provocou protestos internacionais, com organizações de direitos humanos acusando a França de expulsar um único grupo étnico, um ato ilegal segundo a lei da União Europeia, mas fortemente negado pelas autoridades.
A decisão também colocou em dúvida o compromisso da Europa com milhões de seus cidadãos e sua promessa de permitir a livre circulação por suas fronteiras.
A maioria dos ciganos visada pela França vem da Romênia e da Bulgária, alguns dos mais novos países membros da UE. E eles estão entre os cidadãos mais vulneráveis da Europa, com uma expectativa de vida média que equivale à metade da média da UE, e taxas de mortalidade infantil e analfabetismo muito maiores.
Mas nenhum desses novos cidadãos europeus tem o direito automático de trabalhar na França e, sem meios de se sustentarem, não podem permanecer mais do que três meses. O mesmo vale para 10 outros países europeus, que, apesar dos pedidos da Comissão Europeia, continuam restringindo o acesso ao seu mercado de trabalho para cidadãos da Romênia e da Bulgária.
“É permitido à França restringir o acesso ao seu mercado de trabalho segundo a lei da UE (...) mas é um tanto hipócrita a queixa sobre as pessoas não terem dinheiro para subsistência na França, quando ela não oferece acesso ao mercado de trabalho”, disse Rob Kushen, diretor administrativo do Centro para os Direitos dos Ciganos Europeus, em Budapeste.
Todavia, os países ocidentais da Europa como França, Alemanha, Espanha, Itália e Grécia ainda assim prometem uma vida melhor para muitos que enfrentam exclusão, discriminação e às vezes até pior em casa.
Na Romênia, lar da maior população de ciganos da Europa, com algumas estimativas colocando o número em até 2,5 milhões dentre uma população de 22 milhões, os ciganos há muito são marginalizados. Com acesso limitado à educação, aos serviços públicos e à Justiça, os ciganos permanecem estigmatizados, um padrão que se repete por toda a Europa.
A discriminação em casa forçou muitos a caírem na estrada à procura de trabalho, e a queda do comunismo há 20 anos e o ingresso na UE abriram as portas para uma onda de emigração, que especialistas dizem que provavelmente aumentará.
Mas as restrições ao trabalho na maioria dos países –com exceções notáveis como Espanha e Finlândia– fazem com que muitos sejam forçados a recorrer ao mercado negro, e alguns à criminalidade, assim que chegam. Isso transforma os ciganos em alvo fácil para os políticos que buscam distrair a atenção dos problemas domésticos, ao explorarem os temores em relação à segurança.
Na Itália, que conta com cerca de 60 mil ciganos não-italianos entre sua população, o governo até mesmo declarou uma “emergência nacional de ciganos” em 2008, levando a expulsões em massa como parte de um pacote de segurança, elementos considerados incompatíveis com a lei da UE.
Mas, segundo Olivier Legros, do grupo de pesquisa de ciganos europeus, UrbaRom, há evidências de alguns países do Leste Europeu que sugerem que as taxas de criminalidade não são maiores do que entre a população em geral.
A Comissão Europeia, por sua vez, parece ter reconhecido que suas tentativas para resolver a situação difícil dos ciganos fracassaram e que suas políticas necessitam de reforma. Todavia, as autoridades apontam que cerca de 17,5 bilhões de euros foram disponibilizados para projetos para ajudar os “ciganos e outros grupos vulneráveis” desde 2003. Como eles sugerem, o problema é simplesmente que os países membros não estão usando o dinheiro para essa população vulnerável.
“Nós achamos que mais pode ser feito nos países membros para ajudar os ciganos”, disse uma autoridade para o “Financial Times”.
Mas há pouca evidência de que exista vontade política. Nesta semana, os países membros devolveram a bola para a quadra da Europa, com tanto a França quanto a Romênia pedindo para uma solução para toda a UE.
Enquanto isso, outros 136 ciganos ilegais estavam voltando da França para casa na sexta-feira e, provavelmente, planejando retornar antes mesmo do avião pousar.
Guilia Segreti, em Roma (Itália), e Stanley Pignal, em Bruxelas (Bélgica), contribuíram com reportagem adicional.
Tradução: George El Khouri Andolfato

Claudio, no Agora S. Paulo

100 mulheres monitoradas pela PM em Belo Horizonte

100 mulheres monitoradas pela PM em Belo Horizonte 

Hoje em Dia – MG Cristiano Couto 
Vítimas de agressões domésticas recebem acompanhamento diário ou semanal de militares em BH

A dona de casa G.: “meu ex-marido se sente intimidado”
A dona de casa G.N.C.F., 30 anos, é vítima de violência doméstica há sete anos. Porém, somente há um mês tomou coragem para denunciar à polícia o ex-companheiro, com quem tem um filho de 5 ano. Ela também faz parte do universo de cem pessoas em Belo Horizonte, entre vítimas e agressores, que estão sendo monitoradas há dois meses pelos oito batalhões da Polícia Militar (PM) da capital, dentro do Serviço de Prevenção à violência doméstica, lançado oficialmente nesta quinta-feira (19). Nesse período do projeto-piloto, as equipes realizaram 400 visitas às vítimas, que são acompanhadas de perto, diariamente ou semanalmente, com o intuito de reduzir a repetição da violência.
Ações neste sentido promovidas pela polícia ostensiva chegam quatro anos depois de instituída a Lei Maria da Penha. A proposta, em estudo desde 2008, é fazer com que as vítimas denunciem a violência e, com o acompanhamento policial, encerrem o ciclo de agressões sofridas. As denúncias podem ser feitas através dos números 190 ou 181 (Disque-denúncia 181), tanto pela própria vítima quanto por alguém que presenciou a violência.

Os trabalhos são divididos em duas etapas. A inicial é chamada primeira resposta, quando a denúncia é recebida pela polícia. Para isso, 389 policiais foram treinados sobre o que é a violência doméstica e como atender a esse tipo de caso.
Depois que o crime é denunciado, policiais voluntários, que receberam treinamento específico, retornam ao local do crime para fazer um monitoramento. É a chamada segunda resposta.
Nesta etapa, há 48 policiais divididos em equipes formadas por dois agentes, sendo um homem e uma mulher. “Um está apto a trabalhar com a vítima e o outro, com o agressor. Até agora não registramos nenhuma reincidência, depois do serviço iniciado”, explica o comandante do Policiamento da Capital, coronel Cícero Nunes Moreira. A expectativa é que, com o lançamento oficial do serviço, o número de atendimentos aumente.
Para a dona de casa G., o objetivo está sendo alcançado. Foi depois que o companheiro a expulsou de casa, com o intuito de levar outra mulher para morar com ele, que ela não hesitou em chamar a polícia. Depois da denúncia, a dona de casa passou a receber a visita da polícia diariamente. Passado o risco de mais agressões, agora G. recebe os policiais pelo menos três vezes por semana em casa.
“Meu ex-marido se sente intimidado. Agora, ele vai visitar nosso filho, mas não me ameaça mais”, conta a dona de casa. Ela foi encaminhada para a delegacia de mulheres, e o advogado que a representa já solicitou à Justiça a adoção de medidas protetivas.
Nos dois meses de projeto piloto, a sargento Kátia Menezes, do 16º Batalhão, afirma ter tido resultados positivos no combate à violência doméstica. “O homem acha que a mulher é que pode bater quando quer. Agora o Estado está mais presente”, observa.

CNBB condena mudança no Código Florestal

CNBB condena mudança no Código Florestal

Conferência desaprova desaprova pontos como a desobrigação da manutenção de reserva legal para algumas propriedades

20 de agosto de 2010 | 9h 24 Andrea Vialli - O Estado de S. Paulo
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) condena eventuais alterações no atual Código Florestal Brasileiro. A proposta de mudança está na Câmara, à espera de votação. Em nota, a CNBB desaprova pontos do projeto de lei, como a anistia a produtores rurais que cometeram crime ambiental até julho de 2008 e a desobrigação da manutenção de reserva legal para propriedades de até 4 módulos fiscais.
“A Igreja vê com preocupação essas mudanças propostas. Queremos que pelo menos se faça uma discussão mais ampla”, defendeu o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha. A conferência também ressalta que as alterações propostas, se aprovadas, “estão em desacordo” com o compromisso de redução de gás carbônico, assumido pelo governo brasileiro em Copenhague, em dezembro de 2009.

Nuvens de tempestade, Dakota do Sul, EUA


Fotografia por Patrick Kelley

Fogem do debate

Fogem do debate

Por Villas-Bôas Corrêa – Jornal do Brasil
Candidatos e a mídia estão escapulindo pela tangente de uma análise objetiva e irrecusável nos debates entre os candidatos à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e se escondem com o truque de trocar figurinhas sobre obviedades ou nas setas cruzadas sobre erros do passado, e passam ao largo da denúncia sobre a crise moral e ética que atinge os três poderes, com a falência dos partidos políticos.
Com esforço de quem engole purgante, entende-se: difícil é justificar. A candidata oficial, Dilma Rousseff, tem a mesma explicação para tudo, dos buracos nas rodovias em pandarecos à ginga de Garrincha para enganar os adversários e não mexer no balaio dos cartões corporativos: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Um bom atalho que embaraça a oposição.
Ora, qualquer conversa séria sobre o nosso quadro político deve partir da herança dos quase 21 anos da ditadura militar dos cinco generais presidentes. E, para não ter que voltar atrás, com uma marcha a ré para as diferenças com o Estado Novo do ditador Getulio Vargas. Que é a outra face da moeda: Getulio chegou na crista de uma revolução, com um nítido programa social de melhoria da classe trabalhadora e de modernização do país. O Pai dos Pobres conquistou o apoio fanático dos milhões que enfrentavam jornadas estafantes, com salários miseráveis e sem nenhuma proteção. O salário mínimo, a legislação trabalhista foram avanços que derrubaram barreiras da insensibilidade da classe patronal.
E, jogando com habilidade e a participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, negociou com o presidente Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos, a construção da Usina de Volta Redonda (RJ) pela concessão da base de Natal para o pouso de abastecimento das esquadrilhas de aviões americanos para o voo para as frentes de guerra na Europa.
Getulio deixou o filho que tinha o seu nome no leito da morte para o encontro com Roosevelt, em Natal. E sem poder revelar nem à família o segredo militar que protegia o presidente Roosevelt. E, ao contrário de quem se sabe, Getulio era um trabalhador infatigável. No seu diário, registra como o estribilho: “Despachei volumoso expediente”. As nódoas negras da censura à imprensa, das prisões nos porões das torturas das ditaduras, do fechamento do Congresso são do manual das ditaduras.
A ditadura militar destruiu a democracia, não deixou pedra sobre pedra. Extinguiu os partidos da fase dourada do Congresso dos bacharéis da UDN oposicionista e do Partido Social Democrático (PSD) das bases municipais governistas, que sobreviveram com muitas ranhuras. Além do Partido Trabalhista Brasileiro (o PTB getulista) e legendas respeitáveis, como o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e até o Partido Social Progressista, de Adhemar de Barros. Assunto para outras conversas ao estilo das novelas.

Aliedo para Charge Online

Escola e aprendizado

Escola e aprendizado
Naercio Menezes Filho - Valor Econômico - 20/08/2010

Pais que almejam bons resultados no vestibular têm que fazer grande parte do esforço em casa, desde cedo
A divulgação dos resultados do Enem de 2009 provocou nova movimentação entre pais de alunos e donos das escolas. Dentre todas as avaliações conduzidas pelo Ministério da Educação, nenhuma causa tanto frisson na mídia quanto a do Enem. Isso ocorre porque os resultados mexem diretamente com o bolso da classe média brasileira e dos donos das escolas privadas. Em que medida os resultados do Enem devem ser decisivos para a escolha da escola por parte dos pais?
Em primeiro lugar, devemos levar em conta as preferências dos pais. Muitos deles não estão tão preocupados com a entrada dos filhos em boas universidades, pois entendem que mais importante é a escola passar uma formação ampla, que os preparem para enfrentar os desafios da vida e respeitar as diferenças na sociedade. Obviamente, essa preferência é legítima. Para esses pais, a nota da escola no Enem serve somente como um indicador (aproximado) de quantos meses de cursinho a mais o filho terá que fazer se eventualmente quiser entrar numa boa faculdade.
Com relação aos pais que estão preocupados com o vestibular, a nota do Enem traz um sinal que deve ser entendido com cuidado. Deve-se notar, em primeiro lugar, que nem todos os alunos da escola fazem o exame, pois ele é voluntário. Somente os alunos mais preocupados com a entrada na faculdade fazem o exame. Para efeito de comparação entre as melhores escolas privadas, esse processo de seleção não atrapalha muito, pois é bastante parecido entre as escolas. É preciso mais cautela, no entanto, ao compararmos as notas das escolas públicas e privadas.
Pesquisas indicam que grande parte da diferença da nota média entre escolas reflete, na verdade, diferenças nas características dos alunos. Essa parcela chega a 70% no Brasil. Essas características refletem principalmente o que ocorreu nos primeiros anos de vida da criança. Elas estão relacionadas com o ambiente familiar, leitura em casa e uma boa pré-escola. Pais que almejam bons resultados no vestibular tem que fazer grande parte do esforço em casa, desde cedo.
As escolas com melhor desempenho no Enem são as que conseguem selecionar os melhores alunos, aqueles com vontade e capacidade de aprender, desenvolvidas desde cedo. As escolas com melhores notas, tanto as privadas como as públicas, tem um processo de seleção muito forte. Por exemplo, uma das maiores rede de ensino privado, ao colocar seus melhores alunos (dentre os milhares que atende) numa mesma unidade, conseguiu um ótimo resultado para essa unidade. O fato da escola obter um ótimo resultado no Enem não significa, necessariamente, que uma criança em particular também alcançará esse resultado. Muito depende da própria criança e de seus pais. Além disto, alguém vai precisar ensinar os alunos que não foram selecionados.
Porém, existe também o "efeito dos pares". Muitos pais colocam seus filhos nas melhores escolas esperando que eles adquiram bons hábitos de estudo com os jovens estudiosos e bem comportados que já foram selecionados para frequentar essas mesmas escolas. Esse efeito realmente existe? As evidências mostram que sim, mas ele é pequeno. Dados brasileiros mostram que cerca de 30% do efeito escola (ou seja, 9% das diferenças de notas entre os alunos) advém do efeito dos pares. Vale notar que essa diferença pode ser decisiva para entrada nas melhores faculdades. Nesse sentido, pesquisas mostram que escolas que separam as turmas de uma mesma série de acordo com a capacidade prévia dos alunos atingem melhores resultados para todos.

Mas, será então que as melhores escolas poderiam funcionar como um clube, reunindo os melhores alunos num local agradável durante alguns anos, sem ensinar nada, esperando os bons resultados do Enem? Claro que não. As melhores escolas tem boas práticas de ensino. Ajudadas por alunos bem comportados, com vontade e capacidade de aprender, elas conseguem "puxar" mais o ritmo do estudo, cobrir mais tópicos durante o ano, fazer avaliações constantes, além de fazer um preparo especial para o vestibular.
Por sinal, esse é um dos principais problemas das escolas públicas. Como elas podem alcançar boas notas no Enem se atendem alunos que, em sua maioria, não aprenderam a gostar de estudar? Mesmo um aluno com vontade e capacidade de aprender terá muitas dificuldades para fazê-lo numa classe em que a indisciplina é generalizada, em que o professor não consegue manter a classe em silêncio para ensinar. Existem escolas públicas que conseguem ultrapassar essas barreiras e conseguir bons resultados. Seus diretores e professores são exemplos para todos, mas, infelizmente, são a exceção.
Em suma, quanto os pais devem pagar pela escola dos seus filhos? Afinal, pagar por uma boa escola significa abrir mão de várias coisas. A mensalidade escolar no Brasil está entre as mais caras do mundo. Os dados mostram que a mensalidade está relacionada com o desempenho dos alunos, mesmo controlando pela vontade de aprender e pelo efeito dos pares. Em São Paulo, por exemplo, um aumento de 10% na mensalidade aumenta a nota do Enem em cerca de 2%. Façam suas apostas!

J. Bosco para O Liberal

DO MULTICULTURALISMO À DEPORTAÇÃO

DO MULTICULTURALISMO À DEPORTAÇÃO
DEMÉTRIO MAGNOLI O Estado de S. Paulo - 19/08/10

"O crápula da República", estampou na capa a revista francesa Marianne de 7/8, sobre uma foto do presidente Nicolas Sarkozy. Dias antes, em Grenoble, Sarkozy pronunciara um discurso odiento: "A nacionalidade francesa deve poder ser retirada de todas as pessoas de origem estrangeira que deliberadamente atentaram contra a vida de um policial, de um militar ou de qualquer outro agente da a"autoridade pública. (...) Eu sustento ainda que a aquisição da nacionalidade francesa por um menor delinquente no momento da maioridade não seja mais automática."
A pretexto de combater a violência, Sarkozy pressiona pela introdução de uma fronteira de sangue entre os cidadãos. Os "franceses de casta" acusados de delitos contra as autoridades conservariam seus direitos nacionais. Os franceses "de origem estrangeira" - isto é, os cidadãos de outra "etnia" - perderiam tais direitos, sujeitando-se à deportação. A mudança não pressupõe que alguém seja acusado de um ato de delinquência. Antes disso todas as pessoas de origem estrangeira teriam sido rebaixadas a cidadãos de segunda classe, pois teriam apenas uma nacionalidade precária, condicional.
Grenoble representou a conclusão coerente de uma trajetória, não um raio no céu limpo. O ponto de partida foi o multiculturalismo. O ponto de chegada é a deportação. Se há um paradoxo nisso, ele é apenas aparente.
Há três anos Sarkozy criou um Ministério da Imigração e da Identidade Nacional. No nome há uma tese: a imigração constituiria ameaça à identidade nacional, definida segundo critérios étnicos. A tese condensa uma reação contra a história republicana francesa. Desde a Constituição de 1793 a cidadania é definida como um contrato entre iguais, que são os habitantes da França. No lugar disso, o "crápula da República" recupera o mito monarquista da "França de mil anos", portadora de uma essência étnica e religiosa.
A Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen tenta restaurar o mito anacrônico pela celebração romântica do passado, que assoma na imagem de Joana D"Arc. Sarkozy almeja um fim idêntico, mas pelo recurso ao multiculturalismo contemporâneo. Em 2008 o "crápula da República" encomendou um plano de ação em favor da "diversidade" e da "igualdade" entre as etnias. Tudo começaria com a reformulação do censo e a produção de estatísticas étnicas da população. Na França, em nome do contrato republicano da igualdade, os censos não indagam sobre origem ou religião. Mas o projeto multiculturalista não pode viver sem isso, pois precisa colar rótulos étnicos em cada pessoa. Evidentemente, tais rótulos também são indispensáveis para identificar cidadãos de segunda classe e promover a deportação dos "indesejáveis".
Tanto quanto no Brasil, o governo francês ganhou aplausos entusiasmados da rede de ONGs sustentadas pela Fundação Ford para a política de classificação racial dos cidadãos. Contudo uma onda de resistência partiu de defensores de direitos humanos e de movimentos antirracistas. A escritora Caroline Fourest observou que "as estatísticas étnicas reforçarão o racismo". Samuel Thomas, da organização SOS Racismo, conectou o discurso multiculturalista aos "nostálgicos da época colonial". A feminista Fadela Amara qualificou as "estatísticas étnicas, a discriminação positiva, as cotas" como "uma caricatura". E foi ao ponto: "Nossa república não deve tornar-se um mosaico de comunidades. Nenhuma pessoa deve, uma vez mais, portar a estrela amarela."
O "mosaico de comunidades" é o ideal do multiculturalismo. Na França, o recurso à "estrela amarela" propiciaria o delineamento de uma "nação gaulesa" circundada por uma miríade de "etnias minoritárias". No Brasil, propicia a fabricação de um Estado binacional composto por uma "nação branca" (ou "eurodescedente") e uma "nação negra" (ou "afrodescendente"). Lá as minorias ganham a pecha de "estrangeiros"; aqui todos seriam "estrangeiros" numa terra de exílio. Há mais uma diferença. A esquerda francesa, que acredita na democracia, rejeita a rotulagem étnica. A esquerda brasileira, que cultua tiranias, alinha-se quase inteira aos arautos da política de raças.
Todos devem portar a estrela amarela - eis o programa do multiculturalismo. Também é a plataforma de Charles Wilson, líder de um partido neonazista americano que almeja enviar os negros e latinos "de volta a seus países". Ele emprega uma linguagem paralela à dos nossos racialistas e reivindica o que enxerga como seus direitos raciais: "Eu tenho orgulho de ser branco. Estou falando de minha herança, e consideram isso um crime de ódio. Podemos dizer poder negro, poder latino, mas se você disser poder branco cai todo mundo em cima."
Nos idos de 2006, o chefe da Frente Nacional reclamou do "excesso de negros" na seleção francesa de futebol.
O zagueiro Thuram, nascido em Guadalupe, replicou oferecendo-lhe uma aula de História: "Não sou negro, sou francês. Le Pen deveria saber que, assim como existem negros franceses, existem loiros e morenos. Viva a França! Mas não a França que Le Pen quer, e sim a França verdadeira." É a "França verdadeira" que está em perigo quando o "crápula da República" tenta dividi-la segundo linhas oficiais de cor.
"Como os militantes antirracistas poderiam apoiar o estabelecimento de categorias etnorraciais?", pergunta, indignado, Samuel Thomas. Eis uma boa questão para os racialistas brasileiros, que se travestem como militantes antirracistas.
Nota. Em carta publicada em 11/8, referente a meu artigo Falanges da moralidade (Aliás, 8/8), Oded Grajew afirma que seu Instituto Ethos não se beneficia de recursos públicos. Não é verdade. Além da isenção de Imposto de Renda e das parcerias com o governo federal, o Ethos recebeu recursos diretos do BID. No Balanço Patrimonial de 2007, o último disponível no site do instituto, está registrado o valor de R$ 488.559,30.
SOCIÓLOGO E DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP.

Pão de Açúcar - Rio de Janeiro


Photograph by Zoran Milich/Masterfile

Liszt Concerto nº 1, em mi bemol maior,para piano 1º andamento

Nani Humor

Entre o erro e a torcida

Entre o erro e a torcida
José Augusto Guilhon Albuquerque - FOLHA DE S. PAULO
As pesquisas eleitorais frequentemente servem às torcidas; caso contrário, as candidaturas não gastariam verdadeira fortuna com elas
Corria o ano da graça de 1985 e São Paulo, como as demais capitais, teve sua primeira eleição direta para prefeito, após longos anos de nomeação por um governador preposto do regime militar.
A disputa estava polarizada entre Jânio Quadros, com o apoio popular e das elites conservadoras, e Fernando Henrique Cardoso, de longe o favorito das elites progressistas e dos intelectuais.
No dia da eleição, o desfecho era imprevisível, a não ser para as respectivas torcidas. O Datafolha fez, naquele dia, pesquisa de boca de urna -pelo que me lembro, inovação ousada- que foi um desastre em todos os sentidos da palavra.
O resultado da pesquisa de boca de urna foi anunciado praticamente no momento em que as urnas se fechavam, dando FHC como vitorioso por poucos pontos. Mas, no final da noite, as urnas deram Jânio, por uma diferença de três pontos.
Ruim para o Datafolha e para aqueles que consideram que a eleição de Jânio contribuiu para aguçar as divisões internas entre as forças políticas que conduziram o processo de redemocratização, um desastre de grandes proporções.
Tenho em mãos o artigo publicado na Folha por Mauro Paulino, diretor do Datafolha ("Pesquisas não servem às torcidas", 10/8, Poder ).
Acho que elas podem servir, sim, e frequentemente servem, senão as candidaturas não gastariam fortunas com elas. Mas não deviam, por isso deixo claro que sou eleitor do PSDB, como fui do MDB e do PMDB a seu tempo. Contudo, parafraseando Aristóteles, sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da verdade.
O Datafolha errou, em 1985, ao desconsiderar os eleitores que diziam, na boca da urna, não saber em quem votariam.
Com isso, sem divulgar, além dos votos expressos nos dois candidatos -que dariam a vitória a Fernando Henrique-, também a porcentagem de votos não declarados que, por ser superior à diferença entre os dois, deixava a eleição impossível de ser prevista, o Datafolha tratou "não sei" como sinônimo de voto em branco ou nulo.
A hipótese mais viável que surgiu na época foi a de que uma parte significativa dos "indecisos" na boca de urna estava, na verdade, mais inclinada a votar em Jânio. Quanto à hipótese de que os indecisos majoritariamente votassem nulo ou em branco, não ocorreu em 1985 nem tem sustentação na história das eleições.
No último sábado, ao decretar no alto da primeira página que Dilma "fica a três pontos da vitória no primeiro turno", a Folha comete o mesmo erro, pois sua conta também descarta, como brancos e nulos, os que "não sabem" em quem vão votar, diminuindo em quase dez pontos o total de votos válidos e aumentando, em consequência, o percentual atribuído à candidata.
O erro do Datafolha em 1985 foi compreensível. Agora, ao reincidir no erro, atribuindo a vitória antecipada a uma candidatura cuja preferência está sendo estimada em cerca de 40%, num momento em que a campanha para valer nem sequer começou e a quase dois meses da eleição, a Folha precisa se explicar melhor, sob pena de poder ser acusada de aderir à torcida.
José Augusto Guilhon Albuquerque, 69, é professor titular de Ciência Política e Relações Internacionais da USP.

Crime aumenta, Chávez cala jornais

Crime aumenta, Chávez cala jornais

Em protesto, o diário venezuelano El Nacional publicou dois espaços em branco com a palavra “censurado”, na capa da edição impressa
Pesquisas indicam que a criminalidade é hoje a maior preocupação dos venezuelanos. Caracas é a cidade mais violenta do mundo: são 220 assassinatos por 100 mil pessoas, índice mais alto até do que da tristemente famosa Ciudad Juarez, epicentro da guerra entre narcotraficantes mexicanos na fronteira com os EUA (no Rio, é de 30 por 100 mil). Os dados sobre a Venezuela são da ONG Observatório Venezuelano da Violência, já que o governo não divulga estatísticas desde 2003. Diante disso, como reagiram os jornais de Caracas? Para fazer jus ao jornalismo, publicaram reportagens sobre a criminalidade. E dois deles, “El Nacional” e “Tal Cual”, estamparam na primeira página uma foto de cadáveres empilhados no necrotério da cidade. Uma foto chocante como a realidade do país.
E como reagiu o governo “democrático” do coronel Hugo Chávez? Puniu-os com a censulhante ra. É reação típica dos líderes autoritários, de esquerda ou direita, esconder da população fatos que possam desmerecer seu governo.
Numa sociedade de massas, isto só pode ser feito via censura da imprensa independente. Porque, nos meios oficiais, que na Venezuela já são maioria, notícias “desagradáveis” jamais aparecerão.
Vide União Soviética, vide Cuba.
E vide a própria Venezuela, onde Chávez já vinha fazendo uma razia nos meios eletrônicos, contra as emissoras de rádio e cadeias de TV. Depois de fechar a RCTV, o alvo agora é a Globovisión, única que ainda faz reparos à ação do governo.
Pela primeira vez em 11 anos de chavismo, a imprensa escrita foi censurada. “El Nacional” circulou quarta-feira com um espaço em branco no meio da primeira página, destacando em letras vermelhas a palavra “Censurado”.
Os dois jornais foram proibidos, por decisão judicial, de publicar “informações e publicidade contendo sangue, armas e mensagens de terror, que afetem a integridade psíquica e moral de crianças e adolescentes”. Enquanto o caso tramita na Justiça, toda a mídia impressa fica sujeita às mesmas restrições durante um mês. Não é mera coincidência que o fim do prazo praticamente coincida com a data das eleições parlamentares de 26 de setembro. O governo Chávez, acuado por um sem-número de problemas de ordem social e econômica, “esconde” o que mais preocupa os cidadãos e pensa, assim, ter resolvido a questão. Comportamento semelhante teve o governo Geisel, no Brasil, ao proibir notícias sobre uma epidemia de meningite em São Paulo. Não debelou a doença, é óbvio. Felizmente, aquela ditadura acabou. E o Brasil pode, hoje, dar provas de que, ao informar, a imprensa mobiliza a sociedade para pressionar o poder público a tomar medidas contra problemas que afligem todos. É o caso da ampla cobertura dada no país ao crime organizado e à violência nas grandes cidades, que resultou em medidas práticas para reduzir a criminalidade, com bons resultados, por exemplo, em São Paulo e no Rio, embora ainda haja muito a fazer.
A pouco mais de um mês das eleições parlamentares, a má notícia para Chávez é que, apesar dos esforços do governo para dourar a pílula, 55% dos entrevistados numa pesquisa feita em junho consideraram o presidente diretamente responsável por seus problemas mais urgentes, com o crime no topo da lista. Fonte: O Globo e Económico

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