sexta-feira, agosto 27, 2010

Um grande paradoxo brasileiro

Um grande paradoxo brasileiro
Roberto Lent - O Globo - 27/08/2010
É patente para todos os observadores independentes que o Brasil conseguiu infletir fortemente para cima, nos últimos anos, a modesta curva de crescimento da Ciência e Tecnologia que caracterizou o século passado.
No entanto, não foi isso que ocorreu na Educação, área em que os indicadores estão estagnados ou sofreram modesta ascensão.
Esse grande paradoxo é simbolizado por dois indicadores internacionais: nosso país ocupa hoje o 13 lugar na produção de artigos científicos em todo o mundo, mas é o último no desempenho em Ciências de jovens de 15 anos.
O paradoxo é tão grave que pode pôr em risco a sustentabilidade do nosso crescimento científico.
Como mantê-lo sem multiplicar o número de cientistas? E como multiplicá-los em uma população de jovens que não compreende minimamente os temas científicos? Como manter e o aporte financeiro à Ciência e Tecnologia no futuro, se a sociedade não compreender o valor que a Ciência tem para o seu bem-estar e o seu progresso? Em qualquer atividade gestora, é preciso priorizar e adotar medidas estruturantes e potencializadoras.
Duas delas me parecem essenciais neste caso: a dedicação exclusiva do professor de ensino básico à sua escola, e o turno único para os alunos.
Como conseguir essa façanha? Primeiro, precisamos estar convencidos de que são esses os dois eixos fundamentais porque repousam no fator humano, e não em laptops, salas de aula, livros e outros elementos materiais, importantíssimos, mas comparativamente fáceis de conseguir.
A façanha é exequível em uma década por que então não eleger esta que começa como a Década da Educação e da Ciência? A dedicação exclusiva do professor à sua escola não depende apenas de legislação: depende de salário. E, por razões financeiras, não há como garantir um salário competitivo por meio dos municípios brasileiros, convençamo-nos disso! A proposta então é que o governo federal assuma essa tarefa: federalização da categoria dos professores do ensino básico, com o objetivo de elevar o seu salário aos níveis de um professor assistente das universidades públicas.
O turno único para os alunos, por outro lado, depende da duplicação da capacidade física da rede escolar em todo o país, combinando o aumento do número de escolas com a ampliação das existentes.
É razoável supor que a federalização dos salários desoneraria as finanças municipais em grande medida, e permitiria que os 20% previstos em lei fossem destinados à ampliação física da rede escolar.
Se esses dois eixos estruturantes forem adotados pelos nossos candidatos à Presidência da República, e aceitos pela sociedade, será fácil eleger o período 2011-2020 como a Década da Educação e da Ciência, e inaugurar um ciclo ideológico forte para a mobilização social, com um Esforço Nacional pela Educação e a Ciência.
A esses dois eixos se somariam todos os pequenos e valiosos programas e iniciativas que muitas instituições e pessoas realizam pelo Brasil afora com financiamento público e privado, tais como atividades de aprimoramento curricular, acesso à internet nas escolas, divulgação científica, bolsas para projetos docentes, e a infinidade de propostas que, cada dia mais, afloram à superfície.
Estamos em um momento histórico virtuoso, e precisamos mantê-lo.
Essa década é nossa: a década da Educação e da Ciência. E a obrigação é de todos nós: um esforço nacional pela Educação e a Ciência.
ROBERTO LENT é diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Arara, um festival de cores!


Fotografia por Lennette Newell

Dálcio, hoje no Diário do Povo (Campinas)

Nada se apaga na internet

Nada se apaga na internet

Sandra Takata *, Jornal do Brasil
RIO - Especialistas políticos estão reticentes em relação à arrecadação pela internet de pessoas físicas para os candidatos, permitida durante estas eleições. Dizem que a falta de confiança na política brasileira não dará frutos para este novo sistema. Já na cabeça da população deve vir a ideia de que laranjas doarão e que tudo terminará em pizza. No entanto, inicia-se aqui um divisor de águas nos hábitos eleitorais dos brasileiros. A construção de um maior engajamento político começa agora. Talvez plantado para as futuras gerações que já estão acostumadas a navegar na internet e expor-se nas redes sociais, respondendo às perguntas mais cabeludas no Formspring, e mantendo a frase “minha vida é um livro aberto”” mais atual que nunca. Mas uma nova fase inicia-se agora. E um caminho sem volta.
A internet traz inúmeras mudanças e talvez uma moralização na política brasileira. Nos bastidores, marqueteiros políticos começam a sentir que suas verbas de campanha estão reduzidas este ano. Isto porque muitas empresas, que antigamente não precisavam identificar-se como doadoras, não querem agora aparecer e ter seu nome ligado a partido ou a candidatos, e configurar em sites com o da ONG Transparência Brasil (www.transparenciabrasil.org.br) empenhada em combater a corrupção em terreno verde-amarelo.
E é aí que está o X da questão. Os sites, as redes sociais são armas importantíssimas para fazer com que a honestidade e transparência se tornem uma obrigação no meio político. É esta transparência, à qual os jovens estão tão acostumados na internet, que guiará as campanhas daqui pra frente.
Para os que optaram por fazer a arrecadação pelo site por meio de doações de pessoas físicas terão de obedecer a regras muito rígidas do Tribunal Superior Eleitoral, pois, se houver alguma irregularidade na hora da prestação destas contas, o candidato correrá o risco de ter sua posse impugnada ou nem participar de futuras eleições. Mas os que forem ousados em apostar nesta nova ferramenta, cumprindo claramente as suas propostas, terão armas poderosas de fidelização de eleitores. Afinal, quem tira o dinheiro do bolso para apostar num político é porque acredita muito em seus projetos.
Muda-se o relacionamento do candidato com o eleitor. O doador se torna um cliente que comprou um produto e quer testá-lo. E, se não aprovar, pode ter certeza de que ele não pensará duas vezes para criar blogs, postar em seu YouTube, Facebook ou Twitter, que sua escolha não foi bem feita. Hoje jovens já bloqueiam candidatos que tentam fazer aproximações sem nenhum propósito nas redes sociais. Portanto, políticos ainda podem driblar as pessoas que não têm acesso à internet atualmente (infelizmente mais de 60% da população brasileira) e não conseguem obter tanta informação. Mas não por muito tempo, pois se diz que o brasileiro não tem memória, isso não será mais o problema, pois na internet nada se apaga.
* diretora de Atendimento e Mídia Digital da Versátil Comunicação Estratégica
22:55 - 25/08/2010

Zope, para Charge Online

Traição e culpa

Traição e culpa
Os dois sentimentos andam juntos, de forma exagerada
Ivan Martins
Nos últimos dias, por alguma espécie de coincidência, eu tive várias conversas em que o tema principal foi traição e culpa, assim juntinhas, como se fossem uma coisa só.
Uma dessas conversas, a que mais me tocou, foi sobre uma mulher de 40 anos que pediu divórcio porque havia traído o marido e não conseguia lidar com a situação. Não disse nada a ele, não disse nada ao filho, simplesmente enlouqueceu de culpa e chamou o advogado. O casamento acabou ali, sem esclarecimentos, com grande sofrimento para todos.
Essa história me fez lembrar outra, de um sujeito que eu conheço à distância. Ele traiu a mulher com uma colega de trabalho, também casada. Mortificado, concluiu que a única solução para mitigar aquela confusão (que havia se tornado pública), era casar com a outra culpada – o que ele fez, rapidamente, numa demonstração pública de coerência e, a meu ver, de falta de juízo.
Há também o caso notório de Woody Allen, o diretor de cinema. Ele enganou a mulher de vários anos com a filha adotiva dela, enteada dele. Quando a bomba explodiu, em 1997, fez o que qualquer sujeito acuado faria: casou com a menina. Minha aposta pessoal é que a culpa dele nesse episódio é tão devastadora, o quase-incesto pesa tanto sobre seus ombros, que o casamento com Soon-Yi nunca vai acabar. Allen, que sempre foi mulherengo, desta vez vai ficar casado para sempre. Precisa provar ao mundo que não é um monstro.
A culpa, eu acho, é um dos grandes motores secretos da nossa vida social. Algumas pessoas sentem culpa desproporcional porque o ato de enganar sexualmente – a traição – ainda se reveste de uma importância despropositada na nossa sociedade. Mas seria para tanto?
Saia perguntando por aí quem já enganou e foi enganado. O porcentual é enorme, entre homens e mulheres. A traição parece ser um fato da vida, sobre o qual não temos estatísticas confiáveis. Dói, mas acontece, repetidamente. Sempre aconteceu. Parece ser uma coisa humana, embora nós tenhamos inventado um monte de regras éticas, emocionais e até policiais para evitá-la.
Outro dia, por necessidade de trabalho, li um longo perfil da candidata Dilma Roussef, escrito pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho. O texto conta que a candidata do PT, quando jovem, esteve envolvida em dois episódios de traição – ambos ocorridos durante a guerrilha, numa circunstância em que (imagino) as noções de lealdade deveriam ser muito exaltadas.
No primeiro episódio, ela, que era casada, envolveu-se com outro homem. Apaixonada, comunicou o fato ao marido, eles romperam e ela juntou-se ao outro. Nada disso deve ter sido fácil, mas parece ter sido simples. Meses depois, Dilma foi presa. Com ela na cadeia, o novo marido teve um caso com uma atriz muito conhecida na época, Beth Mendes. Dramático? Talvez. Imperdoável? Não. O texto relata que ela soube, ficou magoada, cobrou dele, mas continuaram ligados. Anos mais tarde, livres, voltaram a viver juntos e tiveram uma filha.
Esse caso para mim demonstra que, mesmo em situações emocionais da maior intensidade, mesmo em situações aparentemente extremas, sempre ajuda manter alguma noção de proporção - e nenhuma de propriedade.
A proporção é simples: o que a pessoa fez liquida meus sentimentos por ela ou mostra que os sentimentos dela por mim acabaram? Às vezes a resposta a essas perguntas é sim, então é hora de marchar. Às vezes a resposta é não, então se trata de sentar e conversar.
Essa atitude, claro, está baseada no pressuposto de que a propriedade sobre outro ser humano não existe. As pessoas são livres para fazer o que quiserem. Ninguém é dono de ninguém. Deixar de gostar não é crime, abandonar não é delito e mesmo enganar não é um verbo previsto no código penal. As pessoas sofrem quando são deixadas ou traídas, mas isso não lhes dá o direito de virar bicho – muito menos de cometer violência.
Está passando na TV uma campanha do Conselho Nacional de Justiça em que se diz que 10 mulheres por dia são mortas no Brasil por seus parceiros. O número me parece exagerado, mas a situação certamente não é.
Vira e mexe se vê na TV a história de um sujeito que matou a namorada ou a mulher porque ela não queria mais nada com ele. Na cabeça desses bandidos, abandono é crime de morte. Traição também. Se alguém me faz sofrer, eu mato. É monstruoso, mas há, na cultura brasileira, um sentimentalismo licencioso que “compreende” esse tipo de assassino – estava louco de amor, coitado. Coitado nada. Coitado de quem morre e de quem é agredido. Coitado de quem é vítima de um psicótico. Aos agressores e assassinos, cadeia.
Outro dia eu estava numa festa e dei de cara com um sujeito que foi coadjuvante no final de uma relação importante para mim. A mulher me deixou porque estava apaixonada por ele. Durante algum tempo, tive raiva do cara. Eu o via e ficava perturbado. Mas o que fazer? A mulher não me amava mais, a relação tinha murchado, ela foi embora. O tempo passou. No meio da festa, outro dia, eu olhei para o sujeito e percebi que não sentia mais nada em relação a tudo aquilo. Parecia tão importante na época, parecia insuperável, mas acabou, ficou para trás, não deixou rastros. A vida andou, como a vida costuma fazer - desde que a gente não se agarre às memórias com as duas mãos, desde que a gente não fique refém da traição e da culpa.
É editor-executivo de ÉPOCA

Amorim

Reparação Trailer oficial do documentário longa-metragem estréia em 2010

Devra Davis - “Tirem o celular da mão das crianças”

Devra Davis - “Tirem o celular da mão das crianças”
A epidemiologista americana diz que ninguém sabe o efeito do celular no cérebro infantil
Peter Moon
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou, em maio, o maior estudo sobre os efeitos da radiação dos celulares no organismo. Foram pesquisadas 10.751 pessoas de 30 a 59 anos em 13 países. Concluiu-se que o uso de celulares por até dez anos não aumenta o risco de tumor cerebral. “Há muitas formas de cozinhar os dados de uma pesquisa e invalidá-los”, diz a americana Devra Davis. No livro Disconnect, a ser lançado nesta semana nos Estados Unidos, Davis destaca pesquisas que afirmam provar o risco dos celulares. A agência americana de telecomunicações (FCC) estabelece um limite máximo de absorção dessa radiação. Davis diz que o limite é furado. Nas crianças de 10 anos, a absorção é 60% maior que nos adultos, de acordo com uma pesquisa do brasileiro Álvaro Salles citada por Davis.
QUEM É
Devra Davis, de 64 anos, é doutora em sociologia e saúde pública
O QUE FEZ
Lecionou epidemiologia na Universidade de Pittsburgh. Foi assessora de epidemiologia no governo Clinton. Tem mais de 190 trabalhos científicos publicados
O QUE FAZ
Fundou e dirige a Environmental Health Trust, uma ONG dedicada à produção e ao uso de celulares seguros
ÉPOCA – A senhora usa celular?  Devra Davis – É claro!
ÉPOCA – Mas a senhora afirma que o celular pode fazer mal à saúde?  Davis – É por isso que eu uso fones de ouvido com ou sem fio. Nunca colo o celular ao ouvido. Sempre o mantenho a alguns centímetros de distância de minha cabeça. Nunca o carrego no bolso. Quando não estou falando ao celular, ele fica na bolsa ou sobre a mesa.
ÉPOCA – Mas os fones de ouvido não são práticos para falar na rua.  Davis – Também não é prático expor o cérebro desnecessariamente às micro-ondas emitidas pelos celulares. Essa medida, aliás, é uma exigência do FCC, a agência americana de telecomunicações, e recomendada por todos os fabricantes de celulares. Mas, convenientemente, a recomendação não vem escrita no manual do produto. É preciso baixar o guia de informações de segurança do site de cada fabricante para saber que eles próprios recomendam que ninguém cole o celular ao ouvido. No Guia de informações importantes do produto do iPhone 4, da Apple, lê-se que “ao usar o iPhone perto de seu corpo para chamadas ou transmissão de dados (...), mantenha-o ao menos 15 milímetros afastado do corpo, e somente use porta-celulares e prendedores de cinto que não tenham partes de metal e mantenham ao menos 15 milímetros de separação entre o iPhone e o corpo”.
ÉPOCA – Essa restrição é só para o iPhone?  Davis – Não. No caso do Nokia E71, a restrição é de 22 milímetros. No BlackBerry é maior: 25 milímetros.
ÉPOCA – Por quê?  Davis – Celulares são aparelhos que emitem e captam ondas de rádio. Há muitas formas de ondas. As de maior potência são os raios X. Eles podem danificar o DNA das células de qualquer ser vivo, com efeitos sabidamente cancerígenos. A potência da radiação das micro-ondas de um celular é muito menor que a radiação de uma máquina de raio X. O problema dos celulares reside em sua exposição prolongada ao corpo humano, especialmente sobre os neurônios cerebrais. Quantos minutos ao dia falamos ao celular, 365 dias por ano, por anos a fio? O poder cumulativo dessa radiação pode alterar uma célula e torná-la cancerígena.
ÉPOCA – Mas as pesquisas nunca provaram que usar celular pode provocar câncer.  Davis – Quem foi que disse isso a você, a indústria de telecomunicações? Em meu livro, faço um levantamento de dezenas de estudos científicos feitos com rigor em todo o mundo, que provam sem sombra de dúvida o perigo do uso de celulares. Um dos autores, aliás, é brasileiro: o professor Álvaro Augusto Almeida de Salles, da Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Fui a Porto Alegre conhecê-lo. Salles é um dos maiores especialistas mundiais no tema.
Eu uso fones de ouvido. Nunca colo o celular ao ouvido. Sempre o mantenho longe da cabeça. E nunca o carrego no bolso, só dentro da bolsa
 ÉPOCA – Qual foi a conclusão de Salles?  Davis – O FCC estabelece um limite máximo de absorção pelo corpo humano de radiação de celulares. Todos os fabricantes devem fazer aparelhos para operar dentro do limite de 1,6 watt por quilo de tecido humano. Salles provou que o limite do FCC só é seguro para os adultos. Ao simular a absorção de radiação celular por crianças de até 10 anos, descobriu valores de absorção 60% mais elevados que nos adultos. O recado é claro. Não deixe o celular ao alcance das crianças. Não deixe seus filhos menores de 10 anos usar celular.
ÉPOCA – Como o FCC chegou a esse limite máximo de absorção?  Davis – O limite foi estabelecido no início dos anos 1990, quando os celulares começavam a se popularizar. Foi estabelecido tomando por base uma pessoa de 1,70 metro de altura e uma cabeça com peso aproximado de 4 quilos. Vinte anos depois, o limite é irrelevante. Mais de 4,6 bilhões de pessoas no mundo usam celular. Boa parte são crianças, adolescentes e mulheres. E todos estão expostos a níveis de radiação superiores ao permitido. Quais serão as consequências em termos de saúde pública da exposição lenta, gradual e maciça de tantas pessoas à radiação celular, digamos, daqui dez ou 15 anos? O tumor cerebral se tornará epidêmico?

ÉPOCA – Por que o FCC e a OMS então não alteram aquele limite?  Davis – Tenho documentos para provar que existe um esforço sistemático e concentrado da indústria de telecomunicações para desacreditar ou suprimir pesquisas cujos resultados não lhe favorecem, como a do professor Salles provando o risco dos celulares para as crianças. Quando um estudo assim é publicado, a indústria patrocina outros estudos para desmenti-lo. Não há dúvida de que a maioria dos estudos publicados sobre a radiação de radiofrequência e o cérebro não mostra nenhum impacto. A maioria das evidências mostra que a radiação dos celulares tem pequeno impacto biológico. Mas há diversas formas de cozinhar os dados de uma pesquisa para invalidá-los ou evitar que se chegue ao resultado desejado.
ÉPOCA – Se a senhora estiver correta, o que deverá ser feito para mudar isso?  Davis – A indústria de telecomunicações é uma das poucas que continuam crescendo no momento atual. Ela paga muitos impostos e gasta muito em publicidade. Usa as mesmas táticas dos fabricantes de cigarros e bebidas. A indústria de telecomunicações é grande, poderosa e rentável. Contra isso, a única arma possível é a informação. É o que estou fazendo com meu livro. Abandonei uma carreira acadêmica consagrada de 30 anos porque é hora de impedir que, no futuro, o mau uso do celular cause um mal maior. Os especialistas que me ajudaram na coleta de dados, muitos secretos, nunca revelados, o fizeram porque são pais e avós que querem o melhor para seus filhos e netos.
ÉPOCA – Há vários vídeos no YouTube que mostram como fazer pipoca com celulares. Põe-se um milho na mesa cercado por quatro celulares. Quando os aparelhos tocam, salta uma pipoca. É possível?  Davis – Não. Os vídeos são falsos. A potência de um forno de micro-ondas é milhares de vezes superior à de um celular. Os vídeos foram criados para brincar com um assunto muito sério.
ÉPOCA – As pessoas amam os celulares. Como convencê-las a usar fones de ouvido?  Davis – Com informação e educação. 

Felicidade

Felicidade

Crônica
Manoel Carlos - 25/08/2010 – Veja Rio
Evelyne, amiga da minha mulher desde os tempos da faculdade de museologia, que ambas cursaram, hospedada no mesmo hotel em que estávamos, em Nova York, foi a um médico chinês, no Brooklyn, numa tarde em que eu e a Bety ficamos fora da cidade por quase todo o dia. Quando voltamos, ela estava no bar do hotel, suspirosa.
— E aí — perguntou minha mulher —, gostou do chinês?
— Um lixo. Eu me senti ultrajada.
— Que aconteceu?
— Acredita que fui lá para ver se ele dava um jeito nessa angústia que sinto, e ele só fez piorar o meu estado?
Tenho de abrir um parêntese para contar que Evelyne foi ao tal médico chinês, considerado um especialista em tratar e curar a ansiedade feminina, por sugestão de uma amiga americana.
— Falei que andava chateada — continuou ela —, que me sentia infeliz, desanimada, com vontade de ficar na cama o dia inteiro, sem ver ninguém. Esperava que ele me receitasse um chá milagroso, algum exercício oriental, que aplicasse, enfim, seus conhecimentos da tão decantada e sábia medicina chinesa! E sabe o que ele me falou? “A senhora está gorda.”
Ficamos compadecidos. Mas a verdade é que Evelyne está mesmo alguns quilos acima do seu peso normal e isso a deixa deprimida. Acompanhamos sua evolução corporal, por assim dizer, que fez com que ela pulasse, em pouco mais de um ano, de manequim 38 para 42.
— Como se eu não soubesse que estou gorda — continuou ela.
— E o miserável do chinês, já se levantando e me despachando, concluiu: “A senhora tem dois caminhos a seguir e precisa optar por um deles: ou faz uma dieta ou assume que é gorda. Toda a sua angústia vem desses quilos a mais que a senhora ganhou e tenta esconder, apertando-se dentro das roupas e sentindo vergonha diante do espelho”.
— Ele foi, no mínimo, grosseiro — disse a Bety, procurando sossegá-la.
— E ainda teve a coragem de me cobrar 350 dólares!
— Mas que absurdo!
Eu ouvia e não sabia o que dizer. Senti que era assunto para as duas mulheres — Bety e Evelyne — e que eu estava sobrando ali, mas não encontrei uma brecha no diálogo delas que me facilitasse a saída. E também, para ser verdadeiro, não me pareceu necessário, já que as duas não demonstravam dar pela minha presença. Eu era, ali, um zero à esquerda, como se costuma dizer, até que a pobre Evelyne olhou para mim e perguntou:
— Você, Maneco, me diga francamente: estou desesperadamente gorda? Você me vê assim, como se eu fosse uma mulher descomunal?
— Claro que não — falei em cima da “deixa”, com a ênfase de um monólogo de Shakespeare. De um “Ser ou não ser” do Hamlet.
— Jura?
Eu me animei e tentei animá-la também:
— Pode acreditar. Veja bem, em viagem todos fazem excessos e engordam, não há como escapar. Já estamos aqui há muito tempo. São cinquenta dias almoçando e jantando em restaurantes.
— Eu estou até comendo sobremesa, o que não faço no Rio — aparteou minha mulher. — Também ganhamos peso e, assim que a gente voltar para casa, entramos na dieta outra vez! Não é, meu bem?
Concordei. Realmente, ganhamos peso durante as férias, mas não na dimensão alcançada pela Evelyne. Saltar de manequim 38 para 42 está muito acima da nossa marca e da nossa extravagância.
— Você sabe como os chineses são — disse eu vagamente, apenas para cobrir alguns segundos de silêncio, já que eu não sei como são os chineses.
Bem, no dia seguinte a essa cena, voltamos para o Brasil. Assim que chegamos, fizemos o prometido: entramos numa dieta. Ontem, jantando frugalmente na Brasserie do Fashion Mall, avistamos de repente a Evelyne, que voltara de Nova York dois dias depois de nós. Vimos que ela estava feliz diante de uma sobremesa carregada de chantilly. Antes que falássemos qualquer coisa, ela revelou a razão da sua felicidade:
— Encontrei a Marina, lembra dela, Bety, da faculdade?
— Lembro, claro — confirmou minha mulher. — Era a mais bonita da classe!
— Pois é. Era! Está imensa de gorda. Olha: dá duas de mim!
E atacou os morangos com creme, rindo, feliz e bochechuda.
Manoel Carlos
e-mail: almaviva@uninet.com.br

Jorge Braga, para O Popular

Uma relação de 140 vítimas

Uma relação de 140 vítimas
O GLOBO
A seguir, a lista em ordem alfabética das pessoas que tiveram os dados fiscais acessados, segundo a investigação da Corregedoria da Receita Federal:

Adalberto Nadur; Adeildda Ferreira Leão dos Santos; Agnaldo Carlos de Souza; Albertino Bertino Correia Lins; Alex Assaiante Donida; Alexandre Augusto Ramos Ferreira; Aluisio José de Castro Filho; Amanda Batista de Siqueira Santos; Amauri Jacintho Baragatti; Ana Carla Voltani; Ana Maria Braga Maffei; Ana Maria Rodrigues Caroto Cano; André Maia Brasil; Antonio de Souza Bina; Antonio Russo Netto; Arcio Moniz Barbosa; Armando Ferreira da Cunha; Barbara Elisabeth Laffranchi Bettoni Malta; Bernardo Valentini; Carla Estevão de Andrade Argenta; Carlos Alberto Hailer Bocuhy; Carlos Sidney Coachman; Carmen Duarte Braz; Celso José Bellini; César Jesus Camasao; Claudia Garcia Retamero; Clayton Luiz da Silva; Clovis Celestino Pereira; Conceição da Costa; Czarda Maria Nóbrega de Mendonça; Daisy Cristina Rodrigues Conceição; Daniela Santamaria Schreiter; Darcio Tadeu Mendes; Darcy Chinelato Rossi; Denise Finochiaro; Deuzivan Alencar Aguiar; Edson Pedro dos Santos; Edson Toshiyuki Maruyama; Edson Vanderlei dos Santos; Eduardo Jorge Caldas Pereira; Eliana Aragão; Eliomar Gabriel de Pádua; Ernesto Duarte; Euclea Passarelli; Eurico de Azevedo Sodré Neto; Everaldo Gomes Ferreira; Everaldo Medeiros; Fernando Rodrigo Cano Balsanelli; Genaro Alves dos Santos; Genésio Garcia Naveros; Genivaldo José dos Santos; Geraldo Antonio Prearo; Geraldo Licinio Rosa; Giorgio Pignalosa; Gregório Marin Preciado; Heleno Pereira Neco Filho; Henrique Gomes dos Santos; Hercia Diniz Gusmão; Ilda Maria do Patrocínio da Silva; Irineu Antonio Trovo; Irineu Ballon; Ivan Salles da Silva; Jeanete Roizman; Jefferson Albarenga Alves; João Aparecido da Silva; João Batista dos Santos; Josafá Santos Brasil; José Alberto dos Santos Braz; José Bertino de Vasconcelos Filho; José Expedito Aquino Freitas; José Hildo Vieira da Silva; José Luiz Fioretto; José Luiz Lourenço; José Ramos da Silva; José Roberto de Souza; Junia Eliza da Fonseca; Junior da Silva Pacheco; Kleber Caetano; Leone Mariano; Leonel Pinto Rodrigues Figueira; Luciano Gazen; Luis Vanderlei Reis; Luiz Antonio Baptista; Luiz Antonio Cano Larios; Luiz Carlos Mendonça de Barros; Magda Rejane Chielle Barcelos; Manoel Augusto Rodrigues Foz; Manoel Batista Neto; Manoel Marques Sobrinho; Manuel Teodoro Fernandes dos Ramos; Marcelo Vanucci Leocadio; Marcio Ferreira Leão; Marcos José de Oliveira; Maria Eliane Alves; Maria Helena Ribeiro Monteiro; Marly Angela Mariano; Maurício Silva Xavier; Mauro Suaiden; Mércia Mary Diniz Gusmão; Michael Klein; Miguel Graziano Russo; Murilo Guerato; Neuza Graziano Russo; Nilo Cottini Filho; Osmar Guerato; Ozena da Silva Souza; Paula Cardoso Sabatine; Paulo Vilela Meireles; Pedro Raminelli; Pedro Victor de Oliveira Silva; Raphael Oscar Klein; Regis Gomes de Oliveira; Renata Simone Queiroz; Renato Francisco Delgado; Ricardo Sergio de Oliveira; Ricardo Soares Rocha; Ricaro Firveda Arias; Roberto Graziano Russo; Roberto Villa Real Junior; Robson Emílio da Silva; Rogerio de Napoli; Ronaldo de Souza; Rosivaldo Macedo Wanderlei; Samuel Klein; Sandra Regina Juliani; Sandra Taeko Amanuma; Sandro Rodrigo de Souza; Santuza Borges de Andrade; Sidney Paulo Alves; Silton Hugo Schreiter; Stefano Navarro de Barros Ibrahim; Thais Barros Reis; Thelma Mendonça; Thiago Ramos Pignalosa; Valdecir de Souza; Valdemir Cunha Lopes; Waldemar dos Santos Braz; Waldemar dos Santos Braz Filho; Waldemar Vicente Magalhães; Waldemir do Vale.

O crime continuado do PT

O crime continuado do PT

EDITORIAL O ESTADO DE SÃO PAULO 27/08/10

Foi preciso uma decisão judicial, tomada na terça-feira, para que o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, pudesse exercer o direito elementar de acesso ao inquérito instaurado na Corregedoria-Geral da Receita para apurar a devassa nas suas declarações de renda - cópias das quais foram parar em mãos de pessoas ligadas à campanha da candidata petista Dilma Rousseff. E só assim o País ficou sabendo, já tardiamente, que o sigilo fiscal de outros contribuintes também foi quebrado na mesma ocasião, com a mesma sórdida intenção de atingir o candidato tucano ao Planalto, José Serra.
Em 16 minutos, na hora do almoço do dia 8 de outubro de 2009, na delegacia do Fisco em Mauá, na Grande São Paulo, foram abertas e impressas as declarações do ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique, Luiz Carlos Mendonça de Barros; do arrecadador informal da campanha de Serra ao Senado em 1994 e em seguida diretor da área internacional do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira; e do empresário Gregorio Marin Preciado, casado com uma prima de Serra.
Os sistemas de controle da Receita identificaram como pertencendo à analista fiscal Antonia Aparecida Neves Silva a senha utilizada para a invasão no computador da servidora Adeilda Ferreira dos Santos. Antonia, contra quem foi aberto processo administrativo, admitiu ter passado a senha a Adeilda e a outra colega, Ana Maria Caroto Cano. Todas negam envolvimento no caso. O processo depende de uma perícia que não tem data para terminar. É incerto igualmente se aparecerão os nomes dos autores e mandantes do crime. Se aparecerem, não será antes da eleição.
O que parece fora de dúvida é que a devassa foi ordenada de dentro do apparat petista para a formação de um dossiê a ser eventualmente usado contra Serra, conforme revelado pela Folha de S.Paulo, que teve acesso ao material. Na campanha de 2006, quando ele concorria ao governo paulista, o coordenador da campanha do então candidato ao Senado pelo PT, Aloizio Mercadante, envolveu-se com a malograda tentativa de um grupo de companheiros de comprar uma papelada para atacar o tucano. Eles foram presos em flagrante com uma bolada de dinheiro. O presidente Lula limitou-se a chamá-los de aloprados.
Não se sabe se desta vez também há dinheiro envolvido na sujeira afinal desmascarada. Ainda que haja, deve ter prevalecido na montagem da operação o mais autêntico espírito partidário do vale-tudo para tomar e permanecer no poder, como, por palavras e atos, o próprio Lula ensina sem cessar à companheirada. Esse espírito está na origem do mensalão, do escândalo dos aloprados e das demais baixarias que vieram à tona nestes 8 anos. Do PT se pode dizer, parafraseando uma citação clássica, que nada esqueceu e nada deixou de aprender em matéria de vilania política.
Aprendeu, sobretudo, que os fins não apenas justificam os meios, mas dependem de meios eficazes para ser alcançados. O principal deles é o controle - no sentido mais raso do termo - da máquina pública. Dos muitos objetivos a que serve o aparelhamento do Estado, um dos mais importantes é criar um disseminado e leal "exército secreto", como já se escreveu nesta página, pronto para fazer os trabalhos sujos que dele se demandem. A ordem tanto pode partir dos mais altos escalões do governo ou do partido como resultar da iniciativa de indivíduos e grupos que conhecem as regras do jogo na casa e sabem a quem recorrer numa ou em outra circunstância.
No caso da violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB e a Serra, é até possível que Dilma só viesse a saber dela quando já estava em curso ou depois de escancarada. O que teria sido possível graças a inconfidências de membros da campanha em conflito com o setor de onde parece ter partido a decisão de arrombar o cofre de informações da Receita. Mas, na ordem das coisas que contam, o essencial, o assustador, é que se constituiu no governo uma rede de agentes que a qualquer momento pode funcionar como uma organização criminosa.
Essa estrutura, que se nutre do próprio Estado em que se encastelou, só deverá se fortalecer com a provável vitória da candidata presidencial do PT.

Skoob

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