sábado, setembro 25, 2010

SPONHOLZ


Luciana Mello - Simples Desejo

Dilma já nasceu eleita!, por Jasiel Botelho


O Brasil de Erenice não quer segundo turno

O Brasil de Erenice não quer segundo turno
Guilherme Fiuza – Revista Época
Desta vez, Lula tem toda a razão. A culpa é da imprensa. As obras completas de Erenice Guerra na Casa Civil tinham tudo para seguir seu tranquilo caminho subterrâneo. Como se sabe, a Polícia Federal está de férias, assim como o Ministério Público, o Judiciá­rio e o Congresso Nacional. Tudo na mais santa paz para que Erenice, seus familiares e simpatizantes continuassem tocando normalmente seus negócios particulares no seio do Estado brasileiro. Aí veio a mídia burguesa atrapalhar.
Os jornalistas deveriam recolher-se a sua insignificância. Se os homens da lei não viram nada demais na atuação do filho de Erenice, servindo de intérprete entre uma empresa de transporte aéreo e os Correios, mediante uma “taxa de sucesso”, o que a imprensa tem a ver com isso? A taxa de sucesso não é particular? Que mania os repórteres têm de se meter com a propina alheia.
Se há testemunhas de que um sócio do filho de Erenice achou R$ 200 mil em dinheiro em seu gabinete na Casa Civil, isso também é um fato da vida. Pode acontecer com qualquer um. O que os jornalistas têm é inveja, só porque nunca abriram uma gaveta na redação e deram de cara com uma montanha de dinheiro vivo. “Duzentos mil na Casa Civil” não dá manchete. No máximo, dá samba.
A imprensa andou implicando também com o marido de Erenice. Só porque a empresa da qual ele era diretor ganhou aval do governo para disputar (e ganhar) um negócio de R$ 100 milhões na telefonia celular, depois que o próprio governo já atestara que a tal empresa não tinha estrutura para o negócio. Qual é o problema? As nuvens no céu não mudam de forma? Os pareceres técnicos também podem mudar.
No caso da violação de sigilos fiscais de adversários do PT já tinha sido assim. Tudo teria acontecido normalmente se a imprensa não viesse se meter. A própria Receita Federal já estava cuidando do assunto (sentada em cima dele), e até o ministro da Fazenda afirmou que vazamentos são mais comuns do que se imagina. E, não havendo novidade, por que o assunto foi parar nas manchetes? Só pode ser perseguição.
Lula tem razão. A imprensa é movida pelo “ódio” e quer criar, às vésperas da eleição, “um clima de medo”. Pois é. Quem deveria ter medo de Erenice? Uma mãe zelosa, esposa leal, com inabalável instinto de preservação familiar, capaz de tudo por um filho, tudo mesmo. Em vez de ficar escutando as bravatas da imprensa, os brasileiros deveriam todos desejar ser filhos de Erenice – para nunca mais terem medo do futuro.
A história de Erenice mostra Dilma sem plásticas. E o povo continua disposto a eleger o avatar de Lula
Mas o discurso do presidente trouxe, nos últimos dias, uma verdade mais absoluta que todas as outras. Lula disse: “Nós somos a opinião pública!”. Ele estava num comício petista em Campinas, possesso, jurando derrotar os jornais e as revistas. “Nós” significava Lula, seus companheiros e o povo. O grande líder estava mais uma vez coberto de razão.
De fato, a opinião pública hoje é constituída, basicamente, por Lula e seus súditos. Basta olhar as pesquisas de intenção de voto. Erenice Guerra, vida e obra, é uma criação com a marca Dilma Rousseff. Dilma trouxe Erenice do nada para o topo da República em tempo recorde. Fez dela sua fiel escudeira, encarnação de seu modus operandi, como o público ficou sabendo no caso do dossiê FHC, montado por Erenice na Casa Civil de Dilma. Seria apenas uma subalterna diligente? Não. De funcionária suspeita de conspiração, virou ministra. Erenice era a continuação de Dilma.
Talvez com ciúme de uma relação tão sólida, a imprensa contou a verdadeira história de Erenice – que veio mostrar, desta vez sem plásticas biográficas, quem é Dilma. O povo viu e ouviu tudo. E continua disposto a eleger o avatar de Lula em primeiro turno.
Não restam dúvidas. Opinião pública hoje é o que Luiz Inácio grita do alto do palanque. Um dia ele disse que o Brasil ainda seria uma democracia como a Venezuela de Chávez. Apertem os cintos.
GUILHERME FIUZA é jornalista. Publicou os livros Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme, 3.000 dias no bunker e Amazônia, 20º andar. Escreve quinzenalmente em ÉPOCA gfiuza@edglobo.com.br

A Marina do dedo verde

A Marina do dedo verde
RUTH DE AQUINO - REVISTA ÉPOCA
Quando ela fala, veias caudalosas se projetam no pescoço. Marina Silva tem uma voz arranhada, que parece emergir com esforço de sua figura esguia. Com essa voz não treinada, que vem de dentro, Marina foi a candidata, nesta campanha de cartas marcadas, que soube projetar melhor, com inteligência e ironia fina, suas palavras. Talvez porque fossem palavras dela e de mais ninguém. Não mais do mesmo, não o vale-tudo de quem dá mais salário mínimo, 13o de Bolsa Família, ou empregos para a parentalha.
O título deste artigo é uma alusão a O menino do dedo verde, livro infantojuvenil escrito pelo francês Maurice Druon, em 1957, e adaptado para desenho animado. O protagonista, Tistou, tinha um dom: onde colocava o dedo, nasciam flores. O menino conhece a miséria, a prisão e os hospitais. Decide alegrar esses ambientes. E, ao colocar o dedo no presídio, nascem tantas flores que as portas da prisão não fecham mais. Mas os presos não fogem porque o mundo havia mudado para melhor.
Trata-se de uma fábula. Mas, como a realidade desta campanha eleitoral anda difícil de engolir, fantasias são bem-vindas. Na reta final, uma marola verde se torna onda e atrai desiludidos. Marina, que já se apresentou como a “outra Silva” e a “primeira candidata negra à Presidência”, abandonou os slogans que empobreciam seu discurso para colocar o dedo verde nas feridas do país.
Não por acaso a candidata do PV foi quem mais se beneficiou dessa língua malcheirosa que escorre da Casa Civil de Lula. Após as denúncias de corrupção e tráfico de influência do braço direito de Dilma Rousseff, as pesquisas mostram uns pontinhos a mais para Marina. Era previsto. Essa acriana evangélica, com quatro filhos e coque austero, é a única novidade. Suas reflexões sobre o Brasil e os adversários têm um carimbo de franqueza, sem arrogância. Concordando ou não com ela, somos compelidos a escutá-la.
A candidata do PV foi quem mais se beneficiou da língua malcheirosa que escorre da Casa Civil de Lula
Suas frases de muito efeito ecoaram em cabeças pensantes e na juventude. Seguem-se algumas delas: “Lula e Dilma infantilizam o eleitor brasileiro com essa história de pai e mãe”. “É possível perder ganhando e ganhar perdendo.” “Serra e Dilma são inteiramente parecidos porque defendem um modelo de desenvolvimento do século XX.” “O Brasil não precisa de um gerentão” (referindo-se a Dilma). “Meus adversários criam duas novelas: numa, o Brasil é todo azul, na outra é cor-de- rosa.” Marina se diz contra “o ‘promessômetro’ para ganhar simpatia”. Quer acabar com o “voto por gratidão” e criar o “voto cidadão”. Difícil, inviável, dirão, mas há um componente de sedução em sua fala.
Na semana passada, depois que Lula proclamou, em mais um comício – “Nós somos a opinião pública” –, a menina do dedo verde reagiu: “Eu acredito na liberdade de imprensa. Acho que o presidente fez uma crítica à imprensa que é contraditória com toda a sua trajetória dentro do PT”.
Dilma perdeu a fachada de paz e amor e reagiu com fúria às denúncias na imprensa. “Ela teve uma recaída. Parecia até ela mesma”, teria dito um aliado da petista, segundo a Folha de S.Paulo. A outra má impressão da semana foi a entrevista de José Serra ao Bom dia Brasil, na TV Globo. Não deixou que os jornalistas perguntassem quase nada. Impedia apartes, num tom professoral e prepotente que afasta até seus eleitores. A uma repórter do humorístico CQC, da Bandeirantes, Serra perguntou se ela tinha namorado. Não é a primeira vez que perde a noção.
Sem plásticas ou cabeleireiros, Marina cresceu de estatura ao longo da campanha. Seu discurso a princípio ambientalista ampliou-se e ganhou consistência no campo dos valores e da ética. Mesmo que a enorme maioria dos brasileiros não vote nela, sabe-se o que sua candidatura representa: uma terceira via, de olho no desenvolvimento sustentável do século XXI, que não comporta esmolas para uma massa tutelada e semianalfabeta. Quando deixou o governo Lula, após quedas de braço com Dilma, Marina afirmou: “Perco o pescoço, mas não perco o juízo”. E não perdeu mesmo.
RUTH DE AQUINO é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro  raquino@edglobo.com.br

Cícero, para O Jornal de Brasília


Depósito bancário comprova propina de R$ 120 mil para filho de Erenice

Depósito bancário comprova propina de R$ 120 mil para filho de Erenice
Fábio Baracat fez a transferência para conta da consultoria de Israel Guerra 6 dias após a Anac dar permissão de voo à empresa MTA
Leandro Colon/BRASÍLIA – O Estado de São Paulo
 Documentos bancários em poder da Polícia Federal, obtidos ontem pelo Estado, confirmam que o filho da ex-ministra Erenice Guerra recebeu propina de R$ 120 mil seis dias depois de a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) conceder permissão de voo à Master Top Linhas Aéreas (MTA).
Os papéis mostram ainda que Israel Guerra e seus sócios tentaram cobrar propina numa negociação para que a Infraero reduzisse, em fevereiro deste ano, uma multa de R$ 723 mil imposta à MTA por deixar um avião parado na pista por mais de 30 dias. O valor da propina, nesse caso, era de R$ 50 mil.
A polícia recebeu a documentação quinta-feira das mãos do empresário Fábio Baracat, que representava a MTA em Brasília. Pela primeira vez, documentos bancários comprovam o pagamento do lobby feito na Casa Civil. O escândalo derrubou Erenice Guerra da chefia da pasta.
O Estado teve acesso à integra das 16 páginas do depoimento prestado por Baracat e aos documentos que ele entregou à PF. O empresário disse que, num encontro com Erenice, em março deste ano, ela não cobrou o pagamento dos serviços prestados pelo filho, mas deu um "conselho" aos "presentes": "Erenice Guerra disse aos presentes que todos os compromissos assumidos, sejam políticos, pessoais ou profissionais, devem ser cumpridos".
Véspera de Natal. Um comprovante bancário mostra que, às 9h17 de 24 de dezembro de 2009, Baracat fez uma transferência eletrônica de sua conta bancária, no valor de R$ 120 mil, para a conta da Capital Assessoria, empresa de Israel Guerra e de Vinicius Castro, então assessor da Casa Civil. O pagamento foi feito seis dias depois de a Anac revogar, numa decisão emergencial, a punição que proibia a MTA de operar por falta de documentos.
E-mails entregues à PF mostram que a MTA foi orientada pelos lobistas a procurar a direção da Anac, incluindo a sua presidente, Solange Vieira. Ela já negou qualquer irregularidade no episódio. Segundo a Anac, a MTA apresentou a documentação necessária para reverter a punição.
Segundo Baracat, dos R$ 120 mil depositados na véspera de Natal, R$ 100 mil foram pelo lobby na Anac. O restante era a mensalidade que pagava aos lobistas do Palácio do Planalto desde outubro. O empresário contou que, no total, foram pagos, entre outubro e março, R$ 220 mil para a Capital - R$ 100 mil referentes ao episódio da Anac e R$ 120 mil divididos em seis parcelas mensais para as consultorias.
Os pagamentos eram feitos em dinheiro vivo e entregues em hotéis, ou na conta corrente da empresa e de Vinicius Castro. Baracat entregou à PF, além dos comprovantes de transferência, os recibos emitidos em março em nome da Capital Assessoria, com valores correspondentes a possíveis pagamentos anteriores. O empresário anexou também procurações e e-mails internos confirmando que representava os interesses da MTA, desmentindo a versão da empresa de que ele não tinha ligações profissionais com ela.
Os documentos revelam que, em fevereiro, a Capital se ofereceu para ajudar a MTA a sanear multa imposta pela Infraero por deixar um avião na pista por mais de 30 dias. Segundo o empresário, no mesmo mês a empresa "fez um pedido de isenção e encaminhou para o depoente. Que, em decorrência do serviço prestado pela Capital Assessoria houve a redução de aproximadamente 30% da multa que seria cobrada pela Infraero e o parcelamento da mesma". A multa de R$ 723 mil foi reduzida para R$ 121 mil.
Ele afirma que o filho de Erenice e seus sócios cobraram R$ 50 mil pelo serviço "extra". "O depoente entendeu que se tratava de pagamento de propina", diz o relato dele à PF. Segundo Baracat, o ex-assessor Vinicius Castro, que pediu demissão do cargo há duas semanas, disse que o dinheiro era necessário porque eles "tinham se comprometido com pessoas na Infraero e precisavam honrar com tal compromisso". Não houve, segundo ele, menção a nomes de pessoas envolvidas. A propina, disse o empresário, não foi paga e o episódio deu início ao rompimento entre eles.
O depoimento é longo e durou mais de cinco horas. Baracat foi um dos personagens da queda de Erenice Guerra da chefia da Casa Civil. Ele revelou o lobby do filho dela, Israel, dentro do governo.
COLABORARAM TÂNIA MONTEIRO e VANNILDO MENDES.

Tráfico de violência

Tráfico de violência
CACÁ DIEGUES – O Globo
 Chegando de Maceió, meus pais foram morar no bairro de Botafogo, de onde, pelo resto de suas vidas, nunca mais saíram. Durante minha adolescência, moramos na Rua da Matriz, cujos limites iam da Igreja de São João Batista, na Rua Voluntários da Pátria, à subida do Morro Dona Marta, na São Clemente. Como eu estudava no Colégio Santo Inácio, nessa mesma rua, voltava a pé para casa e quase sempre acabava ganhando vaga na pelada liderada pelos meninos do morro, disputada no terreno baldio que dava então acesso à favela.
Foi ali, jogando bola com eles, que comecei a compreender a natureza das diferenças sociais, bem como as semelhanças que nos faziam iguais.
Foi ali também que experimentei um cigarro de maconha, cortesia de um menino mais velho, num tempo em que a droga ainda era inocente.
Hoje, o uso de drogas se tornou um costume universal que, embora combatido, resiste e só faz crescer. Se a droga gera algum bem-estar no indivíduo que a usa, haverá sempre quem queira experimentá-la e quem acabe por torná-la um hábito. É assim que nascem os costumes, é assim que o mundo gira. Se não fosse desse jeito, a humanidade já teria desistido de se entorpecer, desde que descobriu os efeitos do vinho. E já que haverá sempre consumidores, sempre haverá os que procuram se beneficiar do comércio gerado pelo consumo. Vamos ser simples e claros, sem superstições moralistas: o tráfico de drogas, no mundo inteiro, não vai acabar nunca mais.
As questões fundamentais sobre a droga são outras. A primeira diz respeito à saúde física e espiritual do consumidor, sua dignidade e sobrevivência, sua degradação e morte prematura.
A segunda, à segurança da sociedade, daqueles que precisam ser protegidos da violência que se instaura em torno do tráfico de drogas.
Não tenho dúvida de que essas questões só podem ser enfrentadas de vez com a legalização do uso de drogas e seu consequente controle social. Mas isso vai demorar muito a acontecer, pois terá que ser uma decisão universal, acordada pelas nações de todo o mundo. Se um país tomar a iniciativa da legalização sem esse consenso internacional, se tornará logo o maior fornecedor de drogas do planeta e um intolerável exportador de violência.
Em todas as grandes cidades do mundo existe tráfico de drogas e a violência que o acompanha, resultado da clandestinidade em que tem de ser praticado. Mas, nas metrópoles brasileiras, essa violência se agrava com a presença de armas de guerra, seu alcance e seu poder destruidor.
O Rio de Janeiro é, ao lado de Bagdá e Cabul, uma das poucas cidades do mundo onde a violência urbana é praticada com armas de guerra. Como não estamos em guerra, nem existe fábrica de armas nas favelas cariocas, de onde elas vêm e por que se faz tão pouco para evitar sua entrada aqui? As Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs criadas pelo governo do estado, não pretendem e não vão mesmo acabar com o tráfico de drogas, mas podem acabar com a violência decorrente dele. Através da ocupação permanente, elas podem evitar a tomada das favelas por traficantes que controlam socialmente a população e impõem suas próprias leis com armas de guerra. Recuperar esses territórios para seus moradores é uma produção da paz possível, a paz a que tem direito todo cidadão brasileiro, more onde morar.
Esse é o primeiro serviço a que essa população tem direito, mas não o último. Para que as UPPs tenham consequência social concreta, é preciso que o resto do estado, que nunca subiu o morro, venha em seguida.
Assistência social, saúde, educação, saneamento, e sobretudo emprego e renda (e aí a iniciativa privada se torna protagonista), são indispensáveis para a integração dessa população com o resto da sociedade. Só aí o estado terá condições de exigir o cumprimento dos deveres desses cidadãos, só aí as favelas cariocas poderão viver plenamente num estado de direito.
Esse projeto, tendo as UPPs como ponta de lança, não é fácil de se realizar e muito menos terá resultado imediato. Mas poderá se dar de modo seguro, num tempo mais ou menos longo, se observadas e cumpridas todas as etapas necessárias ao processo. Sem a presença de outros serviços do estado, além de emprego e renda para os moradores (sobretudo os jovens), a polícia sozinha jamais poderá dar conta desse recado.
Mas ter dado o primeiro passo nessa direção é a grande virtude deste governo e de sua Secretaria de Segurança.
O poder público, ao longo dos anos, já fez tanta besteira nesta área que a desconfiança natural gera em nós um certo pudor em apoiar novas propostas. Mas as UPPs são um grande acerto, aquele primeiro passo decisivo na longa caminhada para resolver uma injustiça social secular, agravada agora pelo costume das drogas. Elas precisam da compreensão de toda a sociedade para que o projeto seja bem-sucedido.
CACÁ DIEGUES é cineasta.

O Amor Não Sabe Esperar.( lyrics ) Paralamas & Marisa Monte

Vantagens e limites

Vantagens e limites
Miriam Leitão O Globo
A Petrobras tem agora mais capital, evitou o rebaixamento de sua avaliação de risco, não precisará pegar empréstimos na Caixa para fechar o caixa. Pode tomar novos empréstimos externos, tem mais gás para investimentos. Mas está mais estatal e o processo mostrou problemas de governança.
O país fez um enorme esforço de poupança em favor da economia de alto carbono.
A capitalização da Petrobras deu certo e atingiu o nível que se queria de elevação do capital. Era meio difícil dar errado, já que se sabia que o governo compraria tudo que não fosse comprado pelos outros acionistas. Mas esse sucesso na Bolsa não elimina as incertezas. O grau de intervencionismo governamental nas decisões, durante todo o processo, foi alto demais para uma empresa de capital aberto com ações no mercado no Brasil e no exterior. Os ruídos provocados por isso ajudaram a derrubar as ações em um quarto do seu valor desde dezembro até a véspera da divulgação do valor do papel. Isso é R$ 100 bilhões; equivalentes a três empresas do valor da Gerdau, quatro Usiminas ou duas CSN e meia.
Os grandes investidores venderam no início das trapalhadas do governo para voltar agora. Venderam na alta, compraram na baixa e vão surfar a recuperação. O pequeno acionista ficou na empresa sofrendo a perda de valorização do seu ativo.
A gangorra poderia ser evitada, se houvesse mais clareza das regras, desde o início, e, principalmente, um processo de decisão mais transparente e mais sob o controle da própria companhia.
O petróleo continua sendo uma commodity cara e fundamental no mundo, mas a economia baseada no petróleo acabará antes que se esgotem as reservas na natureza. O mundo já começou um esforço em direção a outras fontes de energia e muito além das atuais energias alternativas.
Os próximos anos verão mudanças de paradigmas e superação de fronteiras tecnológicas para fontes de baixo carbono.
Por isso, a Petrobras tem que ter no seu horizonte mais do que petróleo. O esforço de poupança do país está sendo feito para alavancar uma empresa que aposta fundamentalmente em energia fóssil, e que quer ir mais fundo no mar atrás de mais energia fóssil.
O produto não pode ser desprezado, mas o horizonte da empresa tem que ir além da exploração no mar.
Agora mesmo, a Petrobras está, como outras empresas, sem poder fazer prospecção nas concessões que tem no Golfo do México, por causa da moratória da exploração de petróleo na plataforma marítima, decidida pelo governo americano.
Independentemente de a aposta na capitalização se revelar um bom negócio para o investidor, o futuro da companhia depende muito da sua capacidade de entender o mundo da energia de baixo carbono. O petróleo será taxado nos próximos anos. O que está em discussão é apenas a forma dessa tributação que pesará sobre o petróleo no mundo inteiro. As barreiras regulatórias para a exploração em águas ultraprofundas ficarão mais rigorosas.
O custo dos seguros, mais altos. O mundo da energia vai mudar radicalmente neste século. E a aposta do governo e da empresa é integralmente na energia do passado.
A empresa é grande, poderosa, agora está mais capitalizada, tem tecnologia respeitada internacionalmente e um eficiente quadro de funcionários. Mas a operação de ontem, mesmo sendo bem sucedida, não apaga as sombras que esse processo criou sobre ela e seu futuro. O fato de o presidente Lula e seus ministros terem usado a operação como parte da propaganda eleitoral, misturando os conceitos de empresa, pátria e governo, não deixa dúvida: estão certos os analistas que acham que o maior risco hoje da Petrobras é a interferência governamental.
Essa interferência assusta, porque pode representar desde a escolha de administradores por critérios políticos até investimentos sem justificativa econômica, como certos projetos de refinaria em lugares distantes do mercado consumidor.
A interferência estatal não fica maior, porque o governo abocanhou uma parte maior do capital. Ela já é excessiva. O problema é que a lógica política dificilmente coincide com a lógica corporativa.
Apesar do bater de bumbos, especialistas acham que o governo se frustrou um pouco com a capitalização, que dependeu majoritariamente do capital estatal: 60% do capital vieram do próprio governo e de seus vários agentes, como Fundo Soberano, BNDES e Caixa.
Há ainda dúvidas técnicas sobre o petróleo que fez parte da cessão onerosa.
Como quase não houve perfuração de poços para análise da capacidade de produção e da dimensão das reservas dos campos, de onde sairão supostamente os bilhões de barris, a própria existência desse petróleo nesse volume e nesse custo de produção é uma enorme incerteza.
A grande vantagem para a empresa é que ela agora poderá tomar recursos no exterior, porque seu endividamento sobre patrimônio caiu à metade com a capitalização. A Standard & Poor’s já avisou que manterá o grau de investimento para a companhia. Poderá, assim, financiar seus investimentos para crescer.
O minoritário que viu a ação despencar poderá ver a recuperação.
Os limites, vantagens, riscos, dimensões dessa operação só poderão ser bem entendidos quando baixar a espuma da propaganda eleitoral do governo. Hoje, o Brasil produz apenas um quarto do petróleo que os Estados Unidos produzem, mas quem ouvir a histeria da propaganda oficial pode concluir que o país é o maior produtor de petróleo da humanidade.
e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br
COM VALÉRIA MANIERO

Antropoteismo

Fonte: Pavablog

Ficha Limpa em vigor

Ficha Limpa em vigor
FERNANDO RODRIGUES – Folha de São Paulo
Brasília - A desistência de Joaquim Roriz na disputa pelo governo de Brasília indica a vigência real (ainda que parcial) da Lei da Ficha Limpa. Do ponto de vista jurídico, há um impasse no Supremo Tribunal Federal. A Corte se dividiu ao meio. Na prática, a nova regra já causa efeitos em todo o país.
Apesar de todo o clima envenenado deste final de campanha eleitoral, com governo e oposição perdidos em altercações ocas, o Brasil passa por um momento de amadurecimento da democracia.
Ontem, quando Roriz anunciou sua saída da eleição no Distrito Federal, ficou claro que a indecisão do STF na noite anterior havia provocado um resultado concreto. Os dez ministros racharam, cinco para cada lado, sobre a validade da norma nesta eleição. O presidente do Supremo, Cezar Peluso, então se recusou a usar a prerrogativa do voto de minerva para desempatar.
Peluso é contra a validade da Ficha Limpa da forma como a lei foi aprovada no Congresso. Ao se abster de tomar uma decisão -recusando-se a votar duas vezes-, emitiu um sinal. Políticos interpretaram corretamente o recado: é só uma questão de tempo até que a Ficha Limpa seja irreversível.
O caso mais vistoso é o de Roriz. Ao desistir, auto aplica-se a norma da Ficha Limpa. Mesmo sem renunciar, alguns candidatos sofrerão nas urnas o efeito de terem seus nomes associados a um passado encrencado na política. Nunca a mídia gastou tanto tempo nas TVs e rádios e espaço em jornais e revistas para relatar, em detalhes, quem são os pendurados em processos nada edificantes.
Teria sido ideal se o Congresso tivesse aprovado a lei de maneira mais rápida e correta. E que o STF também anunciasse com presteza a constitucionalidade da medida. Mas esse cenário idílico não existiu nem nunca será uma realidade. O importante é o avanço institucional da democracia, ainda que aos trancos e sem muito método.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br

As palavras e as coisas

As palavras e as coisas
Fernando de Barros e Silva - FOLHA DE S. PAULO
SÃO PAULO - "As atitudes de Lula são de um fascista, do verdadeiro autoritarismo"; "Lula age como um fascista". São frases que soam mal, sobretudo na boca de dois ex-ministros da Justiça, advogados ilustres com trajetória no campo democrático. José Carlos Dias e Miguel Reale Jr. conhecem as palavras. Banalizando o mal, terão de inventar uma nova língua quando quiserem nomear o fascismo de verdade.
O "Manifesto em Defesa da Democracia", lançado quarta-feira no largo São Francisco, reuniu figuras respeitáveis da antiga sociedade civil, várias delas entusiastas do que Lula representava na época da fundação do PT. Mudaram todos -não necessariamente para melhor.
Retomo a pergunta que fez Janio de Freitas anteontem, num grande artigo: haverá, no país, "marcha para o autoritarismo pelo fato de que Lula, nos estertores do seu mandato, rebaixa a função presidencial à de marqueteiro e cabo eleitoral?". É óbvio, diz Janio, "que o papel assumido por Lula macula a disputa. Mas o que mais suscita reação, parece claro, não é o papel em si, que a lei nem cuidou de restringir: é que Lula o assume do alto de uma popularidade devastadora, que cai sobre os adversários".
Há um paradoxo na ação de Lula: seu governo expandiu direitos no país, mas o presidente não perde a chance de avacalhar a democracia, com atitudes que vão da desconsideração jocosa pela liturgia do cargo até a fronteira da boçalidade -por exemplo, ao defender que um partido seja extirpado.
Que diferença, de resto, há entre as velhas carcaças do DEM e o clã Sarney, a não ser o fato de que este virou cupincha de luxo do lulismo?
Porém, para não vestir a fantasia de udenistas de segunda mão, os democratas da oposição precisam discernir entre o acaudilhamento da Presidência e as "atitudes de um fascista", coisa que Lula nunca foi. Isso vale inclusive para desmistificar os anões fascistóides que se servem da força de Lula para pregar contra a imprensa livre no país.

Pádua, para O Estado de Goiás


A concentração anormal

A concentração anormal
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa – Blog do Noblat
Segundo o ministro Paulo Bernardo, há uma concentração anormal de denúncias nessa época. Ainda segundo o mesmo ministro, a publicação da denúncia é uma atividade normal da imprensa.
Puxa, que alívio!
E eu que pensava que essa concentração anormal, esse denuncismo desenfreado, fosse uma espécie de vodu! Uma mágica nova inventada e "copiraitada" pela imprensa brasileira, malvada e ingrata!
Mas não. E como palavra de ministro não volta atrás, fico tranquila. É uma atividade normal da imprensa.
Creio que o ministro deve essa explicação ao presidente Lula. O Chefe da Nação, além de estar vivendo aquele momento delicado em que vê a descida da rampa cada vez mais próxima, ainda está sofrendo por se imaginar vítima de um grupo de nove ou dez famílias que se uniram para acabar com a trajetória de sua candidata rumo ao Planalto, essencial para que a descida da já mencionada rampa não seja definitiva.
O ministro que, pelo visto, já absorveu bem o que é e para que serve a imprensa, podia aproveitar e ler para o presidente o artigo de hoje de Luiz Garcia na página 7 de O Globo, onde o Luiz explica muito bem que a "mídia! (leia-se imprensa) não é a turma da esquina que resolveu se unir contra o pobre e desprotegido governo.
Seria de bom alvitre, também (desculpem o alvitre, mas acabo de completar 73 anos e achei por bem começar a usar uma linguagem mais de acordo com minha idade), fazer ver ao presidente Lula que ou bem ele confirma que deve seu sucesso à imprensa, como foi dito por ele recentemente ao assinar a Declaração de Chapultepec, ou bem ele acusa a imprensa maligna de estar a fim de lhe usurpar a coroa. Ou sim, ou sopas.
Da minha parte, gostaria também que o presidente Lula explicasse porque acreditou piamente na informação que foi passada ao distinto público, pela imprensa, sobre as aventuras e desventuras de dona Erenice.
O presidente, após saber, repito, pela imprensa, dos feitos de dona Erenice, declarou que ela perdeu uma grande chance de ser uma grande funcionária pública.
Coitada, não?
O grupelho de nove ou dez famílias que está sempre inventando moda, incauto representante do macarthismo tupiniquim, segundo a brilhante dona Luiza Erundina, inventou essas denúncias e no ato o governo demitiu a fiel amiga de dona Dilma?
Sabemos todos que o presidente Lula, quando em palanque, incorpora o grande comunicador Chacrinha e que está ali para confundir e não para explicar, mas assim também já é exagero! A cabeça do eleitor fica inteiramente trumbicada e isso pode acabar se refletindo no dia 3 de outubro.
Quem avisa nem sempre amigo é, é verdade, mas o dado concreto é que as denúncias tinham fundamento e que o papel da imprensa está sendo brilhantemente cumprido: "a rotina de prestar serviços ao cidadão aqui fora" (ainda segundo Luiz Garcia em seu artigo "Porões e Salões").
Em conclusão: a imprensa vai para o trono ou não vai?

O que o futuro reserva para as Farc

O que o futuro reserva para as Farc
León Valencia – O Globo
 Em 1999, um ano antes do encerramento das negociações de paz de Caguán, Alfonso Cano, líder das Farc, saiu da região e se foi para a Cordilheira Central. Havia chegado à conclusão que as negociações terminariam num acordo de paz.
Cano não teve o papel principal nas conversas. Mono Jojoy era o protagonista. As grandes vitórias do grupo sobre as forças de segurança em meados das décadas de noventa o colocavam como o homem-chave da guerrilha.
Isso não era gratuito. Parte do grupo, sob seu comando, havia instalado 10 frentes de guerrilha.
Os golpes contra a polícia e sequestros frequentes ao redor da capital geraram temor no governo e projetaram a imagem de uma guerrilha que podia ameaçar o poder do Estado.
Jojoy sabia disso, e nas negociações de Caguán falava com segurança e arrogância. Tinha grandes exigências para chegar à paz, o que levou ao fracasso das negociações.
Desde então, Cano consolidou o comando da guerrilha e criou novos cenários de guerra. Essas forças já não operam como nos anos noventa. Já não podem realizar grandes ataques.
Seguem produzindo baixas nas forças de segurança e pressionando o Estado e a sociedade, mas perderam toda a possibilidade de chegar ao poder.
Cano demonstrou saber disso em suas últimas comunicações.
Suas exigências para chegar à paz são muito distintas das de Caguán.
Já não insiste “num governo de ampla participação”, a agenda é limitada. A proposta reflete realismo em sua fraqueza.
O governo de Juan Manuel Santos tem isso claro e, por isso, ao mesmo tempo em que continua a ofensiva militar, oferece possibilidades de negociação, fazendo exigências às Farc. Talvez a morte de Jojoy seja o presságio de um destino de reconciliação com o país.
Segundo especialistas, quatro são os fatores que permitiram o Estado colombiano a inclinar a balança a seu favor nos últimos anos.
Decisão política, apoio cidadão, investimento na inteligência e recursos econômicos foram fatores determinantes nos triunfos obtidos pelo Estado sobre a guerrilha.
Nos últimos anos, houve decisão política de enfrentar a guerrilha por parte de todas as autoridades.
 Para o general Manuel J. Bonett, ex-assessor presidencial de José Obdulio Gaviria, a balança se inclinou quando foi determinado que o problema devia ser tratado como um assunto de segurança, e não como um conflito político interno.
O apoio da sociedade aos militares foi um fator chave, não somente pelo apoio moral, mas também pelas informações fornecidas.
— As pessoas, ao começarem a rodear as Forças Armadas, deram legitimidade a elas, que se sentiram respaldadas — disse Jairo Libreros, analista político da Universidade Externado.
Os últimos golpes certeiros à guerrilha foram possíveis graças a trabalhos de inteligência humana e técnica. Nesse último aspecto, avançamos de maneira significativa nos últimos anos. O analista de segurança Alfredo Rangel destaca a importância da informação via satélite e, especialmente, da interceptação das comunicações. O trabalho de desmobilização foi significativo.
E as recompensas também tiveram um papel definitivo.
A modernização da aviação militar teve uma importância estratégica para golpear a guerrilha. O general Manuel José Bonett destaca o uso dos aviões Supertucano, que são muito efetivos no combate, e também o desenvolvimento de tecnologias que podem ser usadas na luta contra a insurgência.
Outros avanços são as bombas inteligentes, que permitem o bombardeio a grande distância do objetivo, devido a sensores que as guiam ao ponto exato onde devem cair. A isso se soma o incremento de militares em todas as forças da Colômbia.
LEÓN VALENCIA é colunista do “El Tiempo”

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