sábado, outubro 09, 2010

Campanha foca no Ceará, Maranhão e Pernambuco

Campanha foca no Ceará, Maranhão e Pernambuco
Anna Ruth Dantas - O ESTADO DE S. PAULO
A coordenação da candidatura do PSDB na Região Nordeste foi entregue ao deputado federal potiguar Rogério Marinho (PSDB) e ao senador paraibano Cícero Lucena (PSDB).
"Ceará, Maranhão, Pernambuco e Bahia, que são os Estados de maior densidade eleitoral e onde tivemos o maior insucesso nas urnas, irão merecer uma atenção maior nas ruas", disse Rogério Marinho. "A possibilidade de virarmos a eleição é concreta. Note que o voto dado a Serra e Marina (Silva) se deu principalmente nas regiões mais escolarizadas e, portanto, com menos fragilidade econômica.
A votação de Dilma (Rousseff) se deu nos pequenos municípios, onde a população é mais dependente dos programas sociais do governo", analisou.

Rico, para o Vale Paraibano


A pressão do Nobel

A pressão do Nobel
EDITORIAL: FOLHA DE SÃO PAULO
Não há prova mais eloquente do acerto da escolha do Comitê do Nobel para o laureado com seu prêmio da Paz deste ano do que o fato de o agraciado ainda não saber que recebeu a honraria.
O chinês Liu Xiaobo está preso por ter organizado, há dois anos, um manifesto em que intelectuais e ativistas reivindicavam reformas políticas abrangentes no país. Não tem nenhum contato com o mundo exterior, à exceção das visitas mensais de sua mulher.
Foi condenado a 11 anos de prisão pelo crime de promover campanhas em prol de liberdades políticas no país, onde vigora uma ditadura de partido único que não tolera oposição e reprime a liberdade de expressão. A Dui Hua Foundation, organização não governamental baseada nos EUA, estima em quase 22 mil o número atual de presos políticos na China.
O país, porém, tem se valido de sua crescente relevância econômica para amenizar as pressões internacionais pela abertura política. Com a economia norte-americana presa numa relação de interdependência com a chinesa, o anterior ganhador do Nobel da Paz, o presidente Barack Obama, conduz uma diplomacia pragmática em relação ao país asiático, na qual não cabem restrições a violações dos direitos humanos.
Sua secretária de Estado, Hillary Clinton, chegou a afirmar que "nossa pressão nessas questões [relativas aos direitos humanos] não pode interferir na crise financeira global, na mudança climática e nas crises de segurança" -considerados os assuntos prioritários no diálogo EUA-China.
Após o prêmio a Liu, Obama sinalizou uma mudança de tom, ao dizer que a abertura política na China não caminha na mesma velocidade que a econômica. Outros países reforçaram os apelos para que o país liberte Liu. O governo chinês respondeu classificando a escolha como uma "blasfêmia".
Talvez a decisão sirva para lembrar ao mundo que em alguns casos pode-se ir além do pragmatismo comercial. Pelo menos em círculos não governamentais, o prêmio contribuirá para aumentar as pressões internacionais pela abertura democrática na China.

Favorável?

Favorável?
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa – Blog do Noblat
Quando começo a ler sobre aborto – o tema candente nestas eleições presidenciais que se realizam em um país que só tem esse problema... – e leio a palavra favorável, paro de ler.
Favorável como? Em que sentido? No sentido de favorecer é que não é. Não há ninguém que responda: sou favorável ao aborto. “É um excelente método de planejamento familiar!”.
Favorável como em “de preferência”? Mas o que é que estão pensando de nós, mulheres?
O aborto é uma agressão à mulher, ao seu espírito e ao seu corpo. Não tem sentido essa discussão entre os candidatos: você é favorável, não você é que é!
Ou bem estamos completamente narcotizados, ou ficamos imbecis, sei lá eu o que se passa, mas chega de blábláblá e de hipocrisia.
Ninguém em sã consciência, nem dona Dilma, nem o ex-governador Serra, é um monstro que adotaria o aborto como panaceia para os problemas da falta de planejamento familiar que é uma de nossas chagas.
Acredito que ambos tenham ideias definidas sobre o assunto, mas por conta dos marqueteiros que só pensam em mais votos, o debate ficou restrito a um você disse, você falou, você está mentindo, você finge.
E o que poderia ser, finalmente, um debate proveitoso sobre tema tão importante para o Brasil, está nesse nível de comadres.
Pior: estamos vendo um festival de denominação ecumênica que é um espanto! De repente, a grande maioria dos brasileiros, que nunca foi fiel a uma só religião, está se comportando com a mais fanática intolerância.
Já houve um papa que disse de um nosso presidente que ele não era católico, era caótico. Se não me engano foi Bento XVI em relação ao Lula. Pois isso se aplica à grande maioria dos brasileiros.
Agora, para escolher em quem vão votar para Presidente da República do Brasil, os brasileiros estão se dando ao luxo de dizer que seguem fielmente o que lhes diz o seu vigário, ou pastor, ou rabino, ou guru, ou pagé, a respeito de aborto. Pelo menos é no que acreditam os marqueteiros, que estão fazendo a cabeça dos candidatos.
A oposição lembra que dona Dilma disse – e disse mesmo, está gravado em vídeo e corre solto na internet – que apesar de achar que nenhuma mulher gostaria de abortar, ela pensa que o aborto deve ser descriminalizado. Opinião absolutamente sensata mas que, agora, por força das circunstâncias, ela vem negando.
O candidato Serra, quando ministro da Saúde, determinou que mulheres violentadas, estupradas, que engravidassem e não quisessem levar essa gravidez a termo, poderiam interromper a gestação. E também que fosse oferecido a adolescentes e mulheres o acesso imediato a cuidados de saúde, à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e à gravidez indesejada.
Santo bom senso! Dos dois hoje candidatos.
Pena que o medo de perder votos os faça apelar para papelões como dona Dilma pregando contra o aborto numa capela em Belo Horizonte, e José Serra, o católico praticante, anunciando que irá peregrinar em Aparecida no dia de nossa padroeira.
Em bom português: estão preferindo fingir o que não são a confirmar suas antigas posições sensatas – o aborto é o último passo em situações tenebrosas para uma mulher. O último, o mais dolorido, o mais cruel, mas às vezes, necessário.
Será que ainda os veremos com um terço nas mãos?

Moro em Lisboa - Madredeus

Um amor antigo

Um amor antigo
Cacá Diegues – O Globo
Neste inesperado início de outono primaveril, ensolarado e doce, chego a Paris, vindo de Biarritz e Lyon, e encontro uma imprensa cheia de notícias sobre o Brasil. Umas são boas, outras deixam a desejar. Reajo a essas como o herói de “O estrangeiro”, de Albert Camus, que, apanhado de surpresa com o anúncio da morte da mãe que não vê há algum tempo, reage com um sentimento difuso de culpa: “C’est pas de ma faute (“Não é culpa minha”).” Em compensação, os jornais anunciam com entusiasmo o prêmio de público de “5XFavela, agora por nós mesmos” no festival de Biarritz; os analistas de economia elogiam o ministro Guido Mantega por sua posição corajosa a favor da valorização da moeda chinesa; Bernardo Carvalho recebe de “Libération” uma crítica muito elogiosa a seu romance “Ta mère”; “Le Monde” estampa na primeira página uma caricatura de Lula a dançar satisfeito com sua candidata, enquanto Sarkozy observa o casal, com vergonha e lágrimas nos olhos, e nós podemos ler, sob os primeiros, a legenda que diz “somente 4% dos brasileiros estão descontentes com o presidente Lula” e, sob o marido de Carla Bruni, “72% dos franceses descontentes com Sarko”.
Nenhuma rádio, canal de televisão ou publicação impressa perdeu a oportunidade das eleições brasileiras para fazer um balanço do que acontece hoje em nosso país. Alguns desses veículos publicaram edições especiais, como fizeram “Le Monde”, “Courrier International” e outros, com farto material sobre sociedade, política, economia e cultura brasileiras.
Desta vez, não se falou em carnaval, nem em futebol. Na maior parte dos casos, as matérias se concentram na ideia de que o Brasil está acabando com sua secular miséria, embora ainda seja um país pouco igualitário.
Entre a frota de helicópteros sob o céu de São Paulo e a violência nas favelas cariocas, flutua intacto o prestígio mágico de Lula.
O caso de amor entre o Brasil e a França é bem antigo. Antes da hegemonia de nosso americanismo, a partir do pós-guerra, nossas elites sonhavam com Paris como um Olimpo holístico.
Nossos ricos proprietários para lá se dirigiam em suas férias familiares e nossos melhores intelectuais, já que nem sempre podiam fazer o mesmo, voltavam seus olhos e seu imaginário para o que julgavam ser o centro da inteligência e do conhecimento humanos. A recíproca também sempre foi verdadeira, embora os sonhos não fossem os mesmos.
Para os franceses em geral, o Brasil sempre foi um espaço de férias selvagens.
Mas, para os mais requintados, sempre fomos, desde o filósofo JeanJacques Rousseau (que nos pensou) ou o pintor-viajante Jean-Baptiste Debret (que nos registrou), aquilo que eles deixaram de ser quando perderam a inocência em nome da razão.
Não foi à toa ter sido a França, com seus cineastas e críticos, artistas e intelectuais, a descobrir e espalhar, para o resto do mundo, o valor do Cinema Novo brasileiro e, depois, o do Tropicalismo, mesmo tendo sido igualmente responsável pela utopia naïve de “Orfeu Negro”.
Hoje, quando a opinião pública local julga a França decadente, a Europa em grave crise e o mundo à beira do desastre, o Brasil surge para ela como uma nova esperança de alguma coisa que não conhece, mas presume existir. E, para garantir a vigência concreta desse sonho, somam, às estatísticas positivas que possuem sobre nós, o impressionante carisma de um presidente que nos devolveu, a nós mesmos e ao mundo, o valor simbólico do país, perdido desde a ditadura militar.
No dia seguinte ao que cheguei em Paris, fui convidado a dar uma entrevista na rádio France Inter, um talk show semanal. Aceitei na expectativa de que, na hipótese mais exigente, iria falar sobre esse fértil momento do cinema brasileiro. Mas o que a jornalista queria de nós (além de mim, o programa convidara também o fotógrafo Sebastião Salgado e a pesquisadora Dominique Dreyfuss), era mesmo nossa opinião sobre a ascensão do país a potência mundial, um país de moeda cada vez mais forte, com impressionante reserva de petróleo recentemente descoberta e uma classe média crescente, num futuro sem miséria. Mais que tudo, queria saber o que seria de nós sem Lula, o mágico milagreiro que nos levara a tanto e agora se despede.
Tenho a impressão de que causamos um certo aborrecimento à jornalista e a seus produtores quando confirmamos que o Brasil vive de fato um momento excepcional de sua história, mas que ainda há muito a fazer.
Para isso, contamos com nossa reserva de pré-sal e tudo mais. Mas contamos sobretudo com nossa imensa reserva de energia e alegria, que espero comecemos a usar logo.
CACÁ DIEGUES é cineasta. E-mail: carlosdiegues@uol.com.br

Pelicano, para o Bom Dia (SP)


A volta da tropa

A volta da tropa
Zuenir Ventura – O Globo
Um exercício divertido é identificar em “Tropa de elite 2” os personagens reais que se escondem ou se disfarçam em cada tipo criado pelo diretor José Padilha.
Eles compõem a paisagem política do Rio de Janeiro dos últimos anos. Esse aqui lembra aquele ex-secretário de Segurança que teria virado deputado federal com apoio dos milicianos. Esse outro é o deputado estadual Marcelo Freixo, ameaçado de morte por sua ação contra as milícias. Já esse misto de espalhafatoso apresentador de TV e parlamentar reeleito pode não ser quem você está pensando, mas será um parecido. O governador fictício, porém, “não é nenhum e são todos”, como informa o diretor. Como não se trata de documentário, há grande liberdade de reinvenção de pessoas e acontecimentos.
Nenhum personagem do filme é quimicamente puro, muitos são uma mistura, mas todos têm um pé na realidade, o que faz de “Tropa de elite 2” uma espécie de reprodução livre do que a gente já conhece, mas que se apresenta ainda pior quando recriado pela dramaturgia. Mais complexo do que o primeiro, o número 2 desvenda a promiscuidade entre as forças da ordem e da desordem, e revela os bastidores da polícia, com destaque para a infiltração das milícias nas instituições do Estado. Isso as torna mais nocivas e eficazes do que os próprios traficantes que elas substituíram nas favelas, propondo libertá-las para em seguida se apropriarem dos faturamentos ilícitos (venda de gás, aluguel de TV a cabo) e, enfim, do negócio das drogas também.
Padilha não perdoa. Em um momento é dito: “A PM do Rio tem que acabar.” Em outro, afirma-se que metade da Assembleia Legislativa “deveria estar na cadeia; com exceção de uns seis ou sete fichas limpas”. Ou então: “A segurança pública do Rio estava nas mãos dos bandidos.” Na entrevista coletiva que se seguiu ao lançamento do filme no Rio, Wagner Moura — em mais um soberbo desempenho — classificou o agora tenente-coronel Nascimento como um personagem trágico, que não consegue no seu destino mandar. Essa talvez seja a grande diferença entre a ficção e a vida real.
O Rio não é uma tragédia grega: ele tem conserto. Nenhuma de suas mazelas — nem o tráfico de drogas, nem as milícias — é irremediável. Todas têm solução, que só depende da vontade política de seus dirigentes. Tudo isso pode ser discutido; o que é indiscutível é a excelência artística do filme — o roteiro, a direção de atores, a fotografia, as cenas de ação. Mesmo sem ser o Bonequinho, aplaudo de pé o filme e o livro (“Elite da tropa 2”), que é uma outra obra, bem diferente em termos de estrutura narrativa.
Os dois valem a pena.

Cláudio Humberto

Cláudio Humberto
“Aprendizes de mafiosos do PT provocaram o segundo turno”
DEPUTADO CIRO GOMES (PSB-CE), NOVO COORDENADOR DE CAMPANHA DE DILMA ROUSSEFF
CIRO, O COORDENADOR DE DILMA, NÃO VOTOU NELA  O deputado Ciro Gomes (PSB-SP), novo integrante da coordenação da campanha de Dilma Rousseff, não votou na candidata do PT a presidente. Ele estava em Fortaleza no dia da eleição, e como transferiu seu domicílio eleitoral para São Paulo, a pedido de Lula, que o queria disputando o governo estadual, este ano ele votou em trânsito. Ciro justificou a ausência em uma seção da Escola de Saúde Pública.
BRANCAS NUVENS  Ciro também não votou no irmão, governador Cid Gomes (PSB), nem ajudou sua ex-Patrícia a se eleger deputada estadual pelo PDT.
EFEITO TIRIRICA  O rompante de Lula (“a polícia bate em quem tem que bater”), sexta-feira, mostra o estrago da erva daninha: pior, não fica.
ALÔ, MP Segundo turno faz misérias. No DF, o governo Rogério Rosso estuda “aditivar” em R$ 30 milhões contratos da empresa pública Novacap.
BICHO MUITO DOIDO O Ministério da Saúde interrompeu a vacinação de cães e gatos contra a raiva. Muitos morreram. E como ficamos, às vésperas do 2º turno?
O PROBLEMA NÃO É O ABORTO, MAS A HIPOCRISIA Nenhuma mulher gosta de fazer um aborto. No Brasil, as mulheres se arriscam em clínicas clandestinas, sem assepsia ou médicos decentes. Nisso, a candidata Dilma está certíssima, como mulher e gestora pública. Católicas fazem aborto, ainda que o rejeitem: as circunstâncias falam mais alto que a fé. Dilma defendeu em entrevistas que essas mulheres sejam atendidas pelo SUS. Convenhamos, não é muito.
CONTA OUTRA... Com o SUS “à beira da perfeição”, como disse Lula, descriminalizar o aborto soa como piada, assim como a repentina “conversão” de Dilma.
FORO ÍNTIMO O corpo, “sagrado” ou não, pertence à mulher. Fiéis legítimas jamais abortarão. Eleitoras num estado laico dispensam hipocrisia no debate.
PERGUNTAR NÃO É PECADO Após essa discussão medieval sobre o aborto, que tal os candidatos à presidência começarem a debater o apedrejamento de mulheres?
PEDE PARA CORRER Com seu “polícia bate em que tem que bater”, Lula já pode pedir emprego na Scotland Yard, que fuzilou primeiro e perguntou depois quem era Jean-Chales de Menezes. Te cuida, capitão Nascimento.
SÓ NO PELOURINHO Quando soube da afirmação de Lula de que “a polícia bate em quem tem que bater”, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) bateu sem piedade: “Se existisse punição por espancamento no Código Civil, pelo menos dois ex-ministros da Casa Civil teriam ido ao pelourinho”.
TRAIÇÃO EM REDE Saiu do ar um post do “Blog da Dilma”, que na véspera da eleição chamou Marina de “traíra” e “ecochata” e “sem caráter para governar”. Assinado pela editora Jussara Seixas, foi retirado em 4 de outubro.

CRIMES ELEITORAIS NO DF Houve vários flagrantes de banditismo eleitoral, ontem, em Brasília. Num deles, dirigentes da Secretaria de Educação se demitiram, após serem coagidos a fazer campanha para a candidata Weslian Roriz.
AGNELO NA FRENTE Na primeira pesquisa do instituto Exata para governador do DF, Agnelo Queiroz (PT) saiu na frente com 56%, contra 38% de Weslian Roriz (PSC). Foram 2 mil entrevistas. O registro no TRE tem nº 35185/2010.
EVITE LOCAWEB Quem precisa hospedar um site, deve passar longe de uma Locaweb. O serviço é ruim, amadorístico, a capacidade limitada e sai do ar com freqüência, sem aviso prévio, deixando clientes e internautas na mão.
PIADA BRASILEIRA Titulo de Eleitor é inútil até para votar, mas, sem ele, não se pode nem mesmo tirar CPF nos Correios, como ocorreu a uma leitora que acaba de completar 18 anos e que ainda não tem seu título.
O NOME EM VÃO A pastora e cantora gospel Cassiane está tiririca com Dilma: apareceu com outros evangélicos apoiando a candidata, em panfletos distribuídos no Nordeste e em Goiás, pouco antes da eleição. O “informativo” mostrava Lula e Dilma em “carta aberta ao povo de Deus”.
OREMOS Deus, fé, valores sagrados. Quem viu Serra e Dilma na TV ontem pensou que os “pastores da noite” da TV aberta mudaram de horário...
PODER SEM PUDOR
ALUGUEL DE CAPITAL O vice-presidente José Alencar contou certa vez que ainda era jovem quando pediu empréstimo ao irmão para abrir o próprio negócio, pagando-lhe juros de 1,5% ao mês. Um amigo, na época, ficou escandalizado:
- É crime! A Lei de Usura do Getúlio Vargas, de 1933, limita os juros a 1%!
Alencar tentou renegociar, mas o irmão desqualificou a “usura”:
- Não são juros, é o aluguel que você paga pelo uso do meu dinheiro...

Myrria


Onde anda você ? Toquinho Vinicius de Moraes

Saneamento mínimo

Saneamento mínimo
EDITORIAL: FOLHA DE SÃO PAULO
Menos da metade da população tem acesso à rede de coleta de esgotos, o que evidencia grave situação de atraso social a ser superada
Saneamento básico -ou seja, água tratada e esgotos- é uma das áreas da infraestrutura em que se avança a passos lentos no Brasil. O atraso é grave, pois a prestação desses serviços tem grande impacto na melhoria da qualidade de vida e da saúde da população. As cifras variam conforme a fonte, mas convergem para compor um retrato deprimente. Menos de metade da população tem acesso à rede de coleta de esgotos -e apenas um terço destes passa por tratamento adequado em estações purificadoras.
No que se refere à água encanada, a situação é melhor. Cerca de 90% dos domicílios estão ligados à rede de distribuição. Persiste, contudo, um exagerado índice de desperdício: 37% da água se esvai por causa da deterioração da rede. No Nordeste, região em que predominam áreas semiáridas, as perdas são de 45%.
Nos primeiros seis anos do atual governo (2003-2008), segundo o Sistema Nacional de Informações de Saneamento, o atendimento da população com água progrediu 1,4% e as perdas recuaram 5,6%. No mesmo período, a cobertura da rede de esgotos avançou 12% -e o tratamento, 19%.
O investimento em saneamento tem sido insuficiente. Um governo com mais atenção para esses indicadores de desenvolvimento social adotaria políticas e metas mais ambiciosas.
No quesito água, é factível perseguir a universalização da rede. Se não no mandato de quatro anos do próximo presidente, ao menos até 2018. E é imperioso reduzir as perdas a níveis menos escandalosos, da ordem de 25%.
O recolhimento de esgotos precisa ser ampliado para alcançar pelo menos a fatia de população urbana (cerca de 80%) do país. Caso não se mostre possível chegar a tanto no curso de um mandato presidencial, que se eleja então um objetivo intermediário. Sem metas a perseguir, dificilmente o ritmo do investimento irá acelerar.
A coordenação e o financiamento do programa devem ser liderados pela União. O impulso necessário, contudo, não se verificará sem o concurso das administrações estaduais e municipais -e da iniciativa privada.
A participação de empresas foi facilitada por novas normas, sobretudo após 2007. No Estado de São Paulo, a Sabesp tem feito parcerias com construtoras para atender municípios como Castilho, Mairinque e Andradina.
Trata-se, em plano nacional, de um mercado de R$ 30 bilhões ao ano. Hoje, a fatia maior (70%) é explorada por empresas estaduais e autarquias municipais (20%), mas a participação privada se elevou de 6% a 10% de 2006 a 2009.
Não há motivo para que não venha a crescer ainda mais, mesmo porque é uma maneira de aumentar a eficiência do serviço -como em Limeira (SP), onde o operador privado derrubou o desperdício de água para 17%.
Todos os recursos devem ser mobilizados nessa empreitada. Nenhum país pode considerar-se desenvolvido sem levar saneamento para toda a população.

Micro-ondas Fernanda Torres – VEJA Rio - 13/10/2010

Crônica
Fernanda Torres – VEJA Rio - 13/10/2010
Micro-ondas
No passado, a culinária, assim como a moda, era privilégio da nobreza. Hoje, o requinte à mesa encontra-se ao alcance de qualquer mortal e até os congelados contam com supervisão de um chef, reparem. Eu evito comida congelada. Só gosto de ervilha, que fica mesmo muito boa naqueles saquinhos plásticos.
Nasci com joelhos juntos e as pernas desgraçadamente em xis. Desde pequena, fui aconselhada pelo pediatra a não engordar para não piorar o processo. Para quem matava os rissoles de galinha da lanchonete da piscina do Tijuca Tênis Clube com o prazer de quem está ingerindo um manjar, ter que fechar a boca foi um baita sacrifício. O resultado foi que me tornei absolutamente intolerante com a mediocridade na cozinha. Emburro se como mal e me irrito com os pequenos assassinatos do paladar. Detesto excesso de manteiga, molho rosé, hambúrguer de caixinha, brócolis cozido em demasia, peixe muito temperado, molho de tomate em lata, pão esfarelento, salsicha industrial... a lista não tem fim.
Sou bastante conservadora quando o assunto é comida. Desprezo o exagero dos molhos à francesa, a nouvelle manga com gergelim, não tenho nenhum apreço pelas espumas e venero as receitas mediterrâneas, com seus ingredientes simples e saudavelmente combinados. No topo dos meus preconceitos que, confesso, quase beiram a obsessão, se encontra este amigo da dona de casa moderna: o micro-ondas. A primeira vez que vi um bicho desses foi em uma feira de utilidades domésticas com meu pai. O cozimento instantâneo sem a presença de fogo nos deixou boquiabertos. E mais ainda fiquei quando me contaram a velha tragédia que, aliás, já entrou para o folclore, mas ninguém teve coragem de confirmar, do cachorrinho de madame que explodiu porque a patroa tentou secá-lo no micro-ondas.
Eu tenho medo daquele treco que faz vuuuuuuuuu... Um medo atávico, o mesmo que os índios sentem de máquina fotográfica. Eu acredito que o micro-ondas rouba a alma dos alimentos. Ouvi boatos de que não se deve abrir a porta do micro-ondas posicionado em frente ao aparelho. Segundo a crença, suas partículas ainda ativas escapam no momento da abertura do compartimento e atiçam as células do corpo, provocando sabe-se lá que tipos de terríveis moléstias. As poucas vezes que recorri ao método, abri a portinha com o braço esticado, me esquivando do gerador de calor. Depois, esperei a radiação atômica se dissipar e, só então, peguei com receio o pratinho fervente. Jamais me acostumei com o resfriamento da refeição aquecida graças à fricção subatômica. No início, a comida não esfria de jeito nenhum mas, de repente, atinge uma frigidez cadavérica, endurecendo em uma fração mínima de segundos. É estranhíssimo.
Sou adepta do vapor. Rápido, leve, tradicional, limpo e hidratante. Por falar em tradição, fiquei entusiasmadíssima quando li, há alguns anos, que o slow cook, antítese das ondas tecnológicas, havia entrado em voga. Eu adoro os assados e guisados de onde a carne sai desmanchando, derretida nos caldos e temperos do cozimento demorado. Me lembra cozinha de avó, real, rica e suculenta. Pois estava eu em Nova York lançando O que É Isso Companheiro? quando, em um jantar com a Lucy e o Luiz Carlos Barreto, li no cardápio a opção Slow Cooked Kid. Um pouco chocada com a ideia de que cozinhavam crianças devagarzinho em Manhattan, perguntei o que era kid para o garçom. Era bode, me explicou ele. Quando chegou o meu bode cozido lentamente, senti um cheiro estranho no ar. Polida, encarei o pedido sem reclamar. Luiz Carlos, nordestino curioso, pediu para provar a versão americana da iguaria de sua terra natal. Quando sentiu o mesmo gosto esquisito, me mandou parar de comer, chamou o garçom e repetiu algumas vezes entre o inglês e o português retado: “ The bode is no good. You don’t know how to remove the nhaca from the bode. You have to remove the nhaca”.
Ele tinha razão, americano não sabe tirar nhaca de bode. Pois eu gosto disso: fogo, vapor, bode sem nhaca, comida de verdade, caldos deliciosamente nutritivos e, de preferência, sem agrotóxico. Forno? A lenha, silvuplé.
Fernanda Torres e-mail: fernanda.torres.vejario@gmail.com

Lila, para o Jornal da Paraíba


ENTREVISTA com José Eduardo Dutra

ENTREVISTA com José Eduardo Dutra
'Houve uma sensação de prostração'
Presidente do PT diz, porém, que decepção por Dilma não ter vencido logo no primeiro turno já foi superada
Maria Lima – O Globo
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, admite que a equipe da campanha da candidata Dilma Rousseff foi surpreendida com a realização do segundo turno na eleição presidencial, mas diz que isso foi percebido no próprio domingo. Dutra reconhece que os petistas ficaram prostrados diante do resultado, mas ele aposta na vitória. Nesta entrevista ao GLOBO, o presidente do PT afirma que surpreende o fato de, segundo ele, partir de aliados do tucano José Serra o debate religioso que tomou conta da campanha. “A candidatura do Serra vai acabar se deparando com essa rejeição. Não faz parte da índole da maioria do povo brasileiro esse tipo de intolerância, esse tipo de virulência, esse tipo de ataque”, disse.
O GLOBO: Quando é que caiu a ficha para vocês de que haveria segundo turno? JOSÉ EDUARDO DUTRA: Quando começou a apuração. As pesquisas detectavam um crescimento da Marina (Silva, candidata derrotada do PV), mas, até o momento em que eram feitas, não detectavam o segundo turno. Mesmo na do Ibope, de boca de urna, que mostrava a possibilidade de segundo turno, o resultado foi fora da margem de erro. O que normalmente não acontece. Mostra que teve um movimento do sábado para o domingo e durante a eleição.
Vocês esperavam por isso? Tinham um plano B ou foram surpreendidos?  DUTRA: Quando você vai para uma eleição, o objetivo é chegar em primeiro lugar. É fato que, embora a gente explicitasse sempre a necessidade de não ter salto alto e de a militância ir para as ruas disputar o voto, acabamos introjetando um sentimento de que iríamos ganhar no primeiro turno. Em 2006, também aconteceu isso. E, quando não acontece (a vitória), você acaba tendo uma sensação de frustração que, inclusive, embota o excelente resultado que foi a votação. A Dilma foi a mulher mais bem votada na História da América Latina, talvez do mundo, com 47 milhões de votos.
Apesar dessa votação, o que parece é que a campanha da Dilma foi derrotada, e a do Serra, vitoriosa. Isso tem um efeito psicológico no eleitor?   DUTRA: Não, porque o embotamento que houve imediatamente depois do resultado já foi amplamente superado. Fizemos movimentos políticos muito mais rápidos do que a própria campanha do Serra. Fizemos reunião de governadores amplamente representativa no dia seguinte. Dilma foi para a rua.
Mas o presidente Lula demorou a aparecer em público falando do resultado...  DUTRA: Não cabia ao Lula falar no domingo. Quem tinha que falar era a candidata. Ele só falou na terça-feira, mas não foi porque demorou a se recuperar, não...
Mas foi um balde de água fria? Ele ficou muito frustrado? DUTRA: Não houve frustração. Ele reagiu da mesma forma que cada um de nós reagiu: houve uma sensação de prostração no início, mas que foi rapidamente superada.
Vocês não pensavam em derrota no primeiro turno. Agora, no segundo, passa pela cabeça a possibilidade de virada, de uma derrota para o Serra? DUTRA: (Risos) Olha, em qualquer situação, você pode ganhar ou perder. Então, tem que trabalhar para ganhar. Nós estamos confiantes, né? O que vi no Rio foi uma consagração. E quase 70% do povo brasileiro disseram que querem uma mulher presidente. Agora só tem uma candidata (mulher). Então...

Nessa onda da guerra religiosa, Serra pode perder votos na classe média? DUTRA: Não gosto de ficar fazendo profecia de voto. Mas não há dúvida de que o povo brasileiro, de uma forma geral, não concorda com esse tipo de campanha clandestina, que vai contra a tradição brasileira. O Brasil tem uma cultura de tolerância, de pluralidade, onde não há conflitos religiosos, étnicos. Uma convivência que é admirada no mundo todo. De repente, há uma campanha que usa argumentos absolutamente medievais para atacar o adversário. Acho que o povo vai dar uma resposta a isso.
Pode haver uma onda contrária em resposta? DUTRA: Já começa a haver reações de setores da sociedade organizada e da Igreja que estão absolutamente indignados com esse tipo de campanha. O que me surpreende é que Serra, que, quando ministro da Saúde, foi vítima de uma campanha semelhante, medieval, quando encaminhou o projeto para regulamentar o direito de atendimento de pacientes de aborto nos dois casos previstos na lei, agora se utiliza da mesma coisa contra uma adversária eleitoral.
O senhor acha que Serra deveria defender Dilma desses ataques? DUTRA: Olha, seria querer demais! Mas o fato é que os ataques não são feitos de forma aleatória, de forma não organizada. Os panfletos não estão sendo impressos de forma artesanal, são feitos de forma profissional, o que claramente mostra que há um submundo da campanha do Serra fazendo isso.
Quem está fazendo isso?  DUTRA: Se eu soubesse, ia direto à polícia denunciar. Pedimos à PF para investigar responsabilidades sobre um panfleto (do grupo Tradição, Família e Propriedade) que circulou na reunião do PSDB. Mas o volume mostra que não é uma coisa isolada. O fato de ter circulado lá é mais um indício. Lamento que a trajetória do Serra venha da AP (grupo que combateu a ditadura) para a TFP.

Skoob

BBC Brasil Atualidades

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