quinta-feira, outubro 21, 2010

Pensamentos concretos sobre o aborto

Pensamentos concretos sobre o aborto
CONTARDO CALLIGARIS
Em matéria de aborto, não sou nem a favor nem contra. Muito pelo contrário. Mas muito mesmo
1) Às vezes, para descobrir o que pensamos, é útil pôr de lado nossos princípios. Pois, em matéria de costumes, os preceitos gerais servem sobretudo para evitar dilemas concretos nos quais nosso pensamento iria revelar-se muito mais complexo do que os princípios que bradamos.
2) Numa situação em que o aborto seja necessário para salvar a mãe, mesmo nos meses finais da gravidez, quase todos dirão que a vida da mãe deve ser preservada (aqui, a lei brasileira, como é normal que aconteça, sanciona o sentimento da maioria).
Agora, imagine que, cinco minutos depois do corte do cordão umbilical, apareça uma condição médica na qual a mãe morrerá sem falta se não receber o transplante de um órgão que só o recém-nascido pode lhe oferecer -sendo que o bebê perderá a vida ao ser privado desse órgão. Para qualquer um de nós, esse transplante mortífero seria uma abominação.
Imagine ainda que, no meio de um parto difícil, a mulher esteja inconsciente e o médico pergunte ao pai: "Devo salvar a mãe ou a criança?". O pai que decidisse salvar a criança (e sacrificar a mãe) seria, aos nossos olhos, acredito, um simples uxoricida.
Parece, em suma, que o direito do feto à vida está subordinado ao da mãe e é inferior ao da criança que já nasceu.
Mas consideremos o caso de alguém que matou uma mulher grávida e, abrindo seu corpo, esfaqueou o feto. No meu foro íntimo, ele é culpado de dois assassinatos.
Da mesma forma, o canalha que, voltando bêbado para casa, produziu o aborto de sua mulher a pontapés e agulha de tricotar enfiada à força no útero, no meu foro íntimo, é um assassino de fato e de direito, não "só" um espancador de mulher.
De repente, a vida do feto parece adquirir uma dignidade comparável à dos adultos.
3) Aceitamos que o aborto seja praticado para preservar a vida da mãe. Mas é curioso que "vida", nesse caso, signifique apenas simples sobrevivência. Viver é muito mais do que prolongar a existência, e o bem-estar não é só o bom funcionamento dos órgãos. Quer comprovar? Tente "consolar" um enlutado com a falsa sabedoria de que "saúde é o que interessa, o resto não tem pressa". Corrijo-me: não tente.
Se a vida não é só sobrevivência abstrata, o que pode significar aceitar o aborto para preservar a vida concreta da mãe?
4) A oposição não é entre os que privilegiam a vida do feto e os que privilegiam a escolha livre da mulher, mas entre abstrato e concreto.
Vamos privilegiar a vida do feto? Ótimo, mas que seja a vida concreta. Para exigir de uma jovem que ela leve a termo uma gravidez involuntária, é preciso oferecer-lhe a garantia de que ela poderá abandonar a criança com dignidade e de que a criança abandonada não ficará para sempre num orfanato. Ou seja, é preciso proteger a vida concreta do nascituro.
Vamos privilegiar a escolha? Nos anos 1970, na Suíça, havia imigrantes italianos que eram autorizados a trabalhar por períodos de 11 meses. Ao fim de cada período, eles tinham que voltar para seu país e lá ficar durante um mês. Era um artifício para que eles não se tornassem residentes e não pudessem levar consigo mulheres e filhos.
Um pouco para compensar a longa frustração, um pouco para que as mulheres, lá na Itália, tivessem de que se ocupar durante a longa ausência do marido, a regra era engravidar a esposa a cada volta para casa. Uma dessas esposas, num vilarejo da Campanha, tinha 30 anos e 11 filhos. Ela tentou abortar o 12º do jeito que dava. Perdeu a vida. Nessa história, onde está a escolha livre?
5) Uma menina de 13 anos transa pela primeira vez com um menino de 17. Ela ouviu dizer que é prudente usar camisinha. Ele explica que a camisinha foi proibida pelo papa. Passei um mês cruzando os dedos e funcionou: a menina não engravidou. É possível criminalizar o aborto e, ao mesmo tempo, desaprovar a contracepção?
6) No corredor de um pronto-socorro lotado, um médico (?) diz a uma enfermeira: "Não se preocupe. Ela abortou, deixe sangrar". Há os que querem criminalizar o aborto para punir a mulher: "Transou? Agora encare as consequências".
Alguém, a esta altura, perguntará: "Afinal, você é contra ou a favor da descriminalização do aborto?". Não sou nem a favor nem contra. Muito pelo contrário. Mas muito mesmo.

Missing - Van Luchiari & Mahalilla

Song: Missing (Like the deserts miss the rain)
Performed by Van Luchiari & Mahalilla
Video/Montagem: Van Luchiari

Agenda capitalista moderna para o Brasil

Agenda capitalista moderna para o Brasil
LUIZ AUGUSTO CANDIOTA - FOLHA DE SÃO PAULO - 21/10/10
O aumento dos tentáculos do Estado vai na contramão das nossas necessidades e trará custos altíssimos, a serem pagos pelas futuras gerações
Faz tempo, muito tempo, que a palavra capitalismo em nosso país tornou-se quase um palavrão. Por que será? Qual o medo real, fruto do desconhecimento por parte das "elites" políticas, intelectuais e empresariais deste sistema econômico?
O Brasil precisa ter um sistema capitalista moderno, que nos tire do ranço patrimonialista regido por um Estado concedente de benesses a seus privilegiados e mantenedor de uma maioria ignorante e de um "sofisticado" sistema de corrupção favorável à não competição e à perpetuação do atraso.
Necessitamos de um capitalismo que incremente o poder efetivo dos cidadãos sobre o Estado, que traga segurança jurídica e respeito aos direitos individuais.
Um capitalismo verdadeiramente competitivo, que estimule a abertura total de nossa economia e promova a produtividade, retirando por completo do Estado a participação em determinados setores.
O Brasil está cansado do discurso e da prática daqueles que proclamam ser social-democratas, que praticam um socialismo às avessas da modernidade do conhecimento e tentam controlar a democracia.
Não devemos temer aqueles que dizem ser o capitalismo concentrador de rendas e ampliador de desigualdades. Não há exemplos concretos de que isso seja verdade em regimes abertos, democráticos e de sociedades pluralistas, ou que tal regime tenha gerado frutos, em seu conjunto, mais prejudiciais do que o que praticamos por aqui.
O Brasil não deve temer os efeitos das recentes privatizações, mas não deve permitir que certos setores se concentrem nas mãos de poucas empresas, que acabam por "dominar" seus reguladores, o Estado, em um jogo de interesses e corrupção em que a melhoria e a competitividade dos serviços não é acompanhada pela redução dos preços ao consumidor.
Não é razoável que tenhamos um dos maiores mercados de telefonia do mundo e a maior das tarifas dentre os países do Ocidente. É preciso aumentar a competição, não reclamar da privatização.
O aumento dos tentáculos do Estado vai na contramão das nossas necessidades e nos trará custos altíssimos, a serem pagos pelas futuras gerações.
A agenda do capitalismo que proponho é a de um Estado presente única e exclusivamente nas áreas de educação, saúde e segurança.
Essa presença deve ser exemplar, com serviços e mão de obra de qualidade.
Ao setor privado só restará atuar nessas áreas caso tenha a competência suficiente de prover serviços competitivos e superiores aos prestados pelo Estado.
O Estado não deve ter bancos, empresas de petróleo, de telefonia e de energia, dentre outras muitas.
São apenas grandes cabides de empregos e fontes inesgotáveis de corrupção e transferência de riqueza para poucos.
O Estado não tem competência para escolher quem serão os vencedores e para premiá-los antecipadamente por meio de vultosos subsídios e proteções.
Para o Brasil urge uma nova agenda, que saiba usufruir da competição aberta e do desejo empreendedor do ser humano.
LUIZ AUGUSTO CANDIOTA é sócio-fundador do Grupo Lacan. Foi diretor de política monetária do Banco Central (governo Lula).

Tiago Recchia, para Gazeta do Povo


Redução de danos

Redução de danos
Renata Lo Prete - Folha de S. Paulo - 21/10/2010
Antes animados com o potencial de estrago do "dossiegate" na campanha de Dilma Rousseff (PT), tucanos passaram a se preocupar com o risco de cizânia interna diante do noticiário sobre o suposto envolvimento do grupo de Aécio Neves na violação de sigilo fiscal de pessoas ligadas a José Serra. "Roupa suja só se lava depois da eleição", diz um dirigente.
Para coordenadores da campanha do PSDB, qualquer sinal de estremecimento entre os dois expoentes nacionais do partido implodiria o plano de Serra de engajar o senador eleito no esforço derradeiro para atrair o eleitorado mineiro no segundo turno.
Garimpo 1 Os dilmistas acreditam ter largado à frente de Serra na caça aos votos de Marina Silva (PV) em Belo Horizonte, onde a senadora venceu no primeiro turno. O diagnóstico é baseado no legado de administrações petistas na capital mineira.
Garimpo 2 O PV mineiro optou pela neutralidade no segundo turno, mas o candidato "verde" a governador, José Fernando Aparecido, deve anunciar apoio a Dilma amanhã. Ele entregou ao ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) a pauta que embasaria o acordo, com cinco itens associados ao setor de mineração.
Queimada Em discurso no ato promovido ontem por ambientalistas pró-Dilma, o vice Michel Temer (PMDB) se descreveu como uma "alma incendiada". Um colega de partido comentou, na plateia: "incendiada não, presidente... aqui o público é totalmente verde."
Caminho da roça Marcado para as 23h de segunda, o debate da Record submeterá os candidatos a um teste de audiência. O horário na grade de programação é reservado ao reality-show "A Fazenda", que atinge 20 pontos no Ibope. A emissora estuda se exibe o programa na madrugada ou uma versão compacta às 22h30.
Casting Agora que Michel Temer finalmente estreou na propaganda de Dilma, só falta mesmo Indio da Costa (DEM-RJ) aparecer no programa de Serra.
Pugilato Apesar de relativizar a gravidade da agressão a Serra ontem no Rio, petistas se mostravam preocupados com o recrudescimento do embate entre militantes, particularmente insuflado pela guerra dos panfletos. "Controlar general não é problema, o difícil é conter soldado", diz um dirigente.
Pelos ares Em voo SP-Brasília anteontem, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT), e o presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, tratavam da consolidação da legislação eleitoral. "Se eu for presidente da Câmara, vou fazer", garantiu o petista. Questionado pelo ministro sobre as chances de se eleger, o petista arriscou: "Se a Dilma ganhar..."
Stand by O Palácio dos Bandeirantes deve manter em férias, até o final do mês, a jornalista Tatiana Arana Cremonini, filha de Paulo Preto nomeada por Serra para o cerimonial do governo.
Engajados Os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e José Agripino (DEM-RN), que mantiveram silêncio estratégico sobre Lula enquanto cuidavam de suas respectivas campanhas, reaparecem com vigor na defesa de Serra. O primeiro, derrotado. O segundo, reeleito.
Quem? Convocação do tesoureiro João Vaccari enviada pela CPI da Bancoop à direção do PT retornou à Assembleia com rubrica de destinatário "desconhecido".

Tiroteio
"Os ataques de Lula representam um atentado contra o cidadão comum e a democracia. O presidente não está acima da lei. Não pode, portanto, acusar sem provas."
DO SENADOR MARCONI PERILLO, candidato do PSDB ao governo de Goiás sobre o presidente ter dito que ele "faz campanha bilionária" e "não tem caráter".
Contraponto
Pai da noiva
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, deixou apressado a reunião da Executiva do partido, na tarde terça-feira, e mal conversou com os repórteres que o esperavam. Explicou que precisava voar para o Rio, onde sua filha se casaria no início da noite.
Os jornalistas acharam estranho, dada a proximidade da eleição, e ele justificou:
-Eu não podia interferir na data do casamento...
Um repórter então arrematou:
-Está aí a prova definitiva de que vocês tinham certeza da vitória no primeiro turno...

Raciocínio torto, argumentos tortíssimos

Raciocínio torto, argumentos tortíssimos
PASQUALE CIPRO NETO
Não force argumentos, não desafie a coerência, não se contradiga. O resultado pode ser um rotundo zero
OS VESTIBULARES E O ENEM estão chegando e, com eles, a prova de redação, que, para muitos, é o terror dos terrores. Para os "medrosos", o drama não é só a dificuldade de lidar com a norma culta, mas também (e sobretudo) a coisa em si, isto é, a forma, o conteúdo, as ideias.
Quase 100% das provas exigem uma dissertação, o que impõe a defesa de uma tese a respeito de determinado tema. Aí começa o drama de muita gente: como defender um ponto de vista sem conhecimento de causa? Como argumentar se muitas vezes o repertório é só de argumentos tortos, ilógicos, contraditórios?
Em minhas palestras, sempre recomendo aos candidatos que exercitem o raciocínio argumentativo a partir de fatos do dia a dia. Vou dar um exemplo prático, que ocorreu comigo anteontem. Nesse dia, estive em Salvador, a convite de uma universidade soteropolitana. Pela manhã, no aeroporto, uma cena que ilustra bem o que ocorre quando se utiliza um argumento de mão dupla, daqueles de que as pessoas se valem para justificar o procedimento X ou o seu inverso.
Aos fatos: o painel da gloriosíssima Infraero informava que o avião para Salvador estava "atrasado". Quando anunciaram o embarque, os funcionários da companhia aérea, como de costume, pediram que se fizessem duas filas (passageiros das fileiras de 1 a X de um lado e de X + 1 em diante do outro lado). Normalmente (e por motivos óbvios) os primeiros a embarcar são os passageiros das fileiras traseiras. Para minha surpresa, vi que os despachantes da empresa promoveram o embarque simultâneo das duas fileiras.
Pois bem. Meu sangue italiano me impede de ficar quieto. Quando entreguei meu cartão de embarque, perguntei à funcionária por que agiram daquela maneira. "Quando o avião está atrasado, a gente faz isso mesmo", disse-me ela, com plena convicção de estar manifestando um pensamento redondo. Pois redondo seria o zero que essa moçoila obteria se fosse fazer uma dissertação. O caro leitor certamente notou que, para justificar o abandono do procedimento padrão, a simpática funcionária usou justamente o argumento que justifica a adoção do procedimento padrão. Nota? Zero!
Outro exemplo (também real): dia desses, eu conduzia meu automóvel por determinada rua. Ao passar diante de um curso pré-vestibular (cujos alunos -e seus pais, parentes etc.- sempre causam problemas no trânsito quando acabam as aulas), quase acertei em cheio o carro de um rapazola, o qual, saindo a mil de um estacionamento e já com o celular colado à orelha, virou para a direita sem nem ao menos olhar para a esquerda, de onde eu vinha. Com o dedo (ou o pé) de algum santo, consegui frear e evitar o acidente.
Em seguida, o farol fechou e me vi ao lado do imberbe moçoilo, provavelmente aluno do referido curso. Como moro no Brasil, nunca digo nada a ninguém no trânsito, mas nem sempre me livro de ouvir. Discípulo direto de Sócrates, o mancebo disparou: "Você (eta menino bem-educado!) tem de descer mais devagar!" (eta menino inteligente!). Era impossível correr ali, nem que eu quisesse. Fiquei morrendo de vontade de dizer-lhe isto: "Meu filho, se argumentares assim na tua dissertação, estarás aqui no ano que vem!". Achei melhor deixar para lá.
Como dizia Nélson Rodrigues, o raciocínio torto (não era bem isso o que ele dizia) é osso duro de doer. Que fique claro o recado deste texto: não force argumentos, caro/a candidato/a, não desafie a coerência, não se contradiga. O resultado pode ser um rotundo zero (ou uma fragorosa derrota, em se tratando de candidatos a outra coisa...). É isso.
inculta@uol.com.br

Capas dos Jornais


SPONHOLZ


As "vítimas"

As "vítimas"
ELIANE CANTANHÊDE – FOLHA DE SÃO PAULO
BRASÍLIA - As duas campanhas já disputaram Lula versus Fernando Henrique; passaram a Erenice versus Paulo Preto; e estão na fase da vítima Dilma Rousseff versus a vítima José Serra. E tem até eleitor estudado e tarimbado caindo nessa.
Quanto mais Lula bate na tecla de que há uma "campanha difamatória" contra Dilma, mais ele atiça o lado briguento da velha militância do PT. Daí a atacarem uma passeata tucana no Rio e golpearem o adversário Serra na cabeça foi um pulo. Lula deveria pensar melhor, senão por prudência e responsabilidade, pelo menos por pragmatismo: uma agressão assim não ajuda sua candidata.
Há todo empenho para repetir com Dilma a estratégia da vitimização sempre presente nas campanhas e na publicidade pró-Lula. Mas uma coisa é Lula falar em "campanha difamatória" contra Dilma, outra, bem mais concreta, é Serra levar uma bandeirada ou algo que o valha na testa em pleno exercício democrático de fazer campanha numa rua do Rio.
"Se dependesse do Palocci, era porrada pura. Com essa cara de bonzinho, ele faz e a gente leva a fama", brincou o marqueteiro de Dilma, João Santana, sobre a estratégia para debates e TV. Como toda brincadeira tem um fundo de verdade, muito militante pode levar ao pé da letra e partir para a "porrada", reavivando a lembrança do velho jeito petista de ser, antes do jeito petista de governar. Um prato cheio para a propaganda tucana.
O que Lula, Santana e Palocci fazem, basta um punhado de militantes enlouquecidos para desfazer. O risco é a bandeirada em Serra anular o intenso trabalho para carimbar Dilma como vítima de uma imprensa perversa, de uma oposição sanguinária, de uma internet dominada por tucanos descontrolados.
Vítima por vítima, o PT pode der dado de bandeja -ou de bandeira- a chance de Serra dizer que mais vítima é quem, literalmente, apanha na rua.
elianec@uol.com.br

Inteligência maquiavélica

Inteligência maquiavélica
HÉLIO SCHWARTSMAN
SÃO PAULO - Sai Deus, entra a mentira. Os candidatos pararam um pouco de falar no suposto criador para acusar um ao outro de mentir feito o diabo. É hora de humanizar um pouco o debate.
Tudo indica que os postulantes mentem mesmo. Agem assim porque é da natureza humana fazê-lo. Como mostra Robert Feldman em "The Liar in Your Life", bebês de seis meses já simulam choro para atrair atenção. A partir dos três anos, crianças tornam-se verdadeiras Dilminhas e Serrinhas, que descumprem as regras estipuladas em 82% das ocasiões e mentem sobre isso 95% das vezes. A coisa não melhora com a idade. No curso de uma conversa de dez minutos em que dois adultos se apresentam, eles mentem em média três vezes cada.
É preciso, porém, distinguir inverdades. Há, para começar, mentirinhas inocentes socialmente necessárias, como elogiar a comida da anfitriã. Um grau acima, estão as mentiras de autopromoção, pelas quais tentamos aparecer sob uma luz mais favorável. Estamos aqui no limiar entre a edição e a farsa. Só depois vêm as tramas com intuito de obter vantagem fraudulenta.
Essas fronteiras, já pouco nítidas, ficam mais borradas quando somos parte do processo, como mentirosos ou "vítimas". Aí entram processos complexos como o autoengano (pelo qual construímos uma imagem positiva de nós mesmos) e o viés de verdade (o modo padrão do cérebro de aceitar como exatas as informações que recebe).
O resultado é que os políticos acreditam nas lorotas que contam, e que os eleitores, ao querer acreditar, reforçam a tendência burlesca dos candidatos. E o bate-boca entre os postulantes só aumenta as coisas. Estudos mostram que, após ouvir uma mentira, mentimos mais.
Usar de ardis para subir na hierarquia pode tornar-se um processo dinâmico. Isso levou certos autores a propor que a mentira foi a grande força a moldar a evolução humana. É a hipótese da inteligência maquiavélica. Acredite quem quiser.

Pelicano, para o Bom Dia (SP)


Setor têxtil terá deficit comercial recorde

Setor têxtil terá deficit comercial recorde
Maria Cristina Frias - Folha de S. Paulo - 21/10/2010
Com a invasão de produtos asiáticos e o dólar desfavorável para a exportação, o deficit da balança comercial do setor têxtil e de confecção deve atingir US$ 3,5 bilhões no final deste ano.
"Será o maior deficit do setor na história", diz Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit (associação da indústria têxtil e de confecção).
O deficit da balança comercial do setor já acumula alta de 60% neste ano até setembro na comparação com o mesmo período de 2009. O saldo negativo está em US$ 2,55 bilhões.
A desindustrialização traz preocupação sobre o emprego no setor. "Um deficit de US$ 3,5 bilhões representaria a demissão de 135 mil trabalhadores na indústria."
As importações brasileiras de têxteis cresceram 46%, para US$ 3,6 bilhões.
Os principais motivos para o aumento são o dólar baixo e a desaceleração do consumo nos EUA e na Europa, os maiores importadores de têxteis do mundo, o que leva a China a ter de colocar os produtos em outros mercados.
"A diferença cambial entre as moedas chinesa e a brasileira em relação ao dólar já está em mais de 40%. O Brasil está incentivando as importações", diz Diniz Filho.
Para o presidente da Abit, uma das saídas que poderiam ser adotadas pelo governo para ajudar o setor seria o aumento do número de acordos bilaterais com outros países. "Essa medida nos ajudaria, já que temos uma indústria competitiva."
SALTO NOS NEGÓCIOS
Luís Ermírio de Moraes, diretor-presidente de novos negócios e herdeiro do grupo Votorantim, e Tonico Pereira, diretor da mesma área da agência de publicidade DPZ, viram no cavalo lusitano outra frente de trabalho.
Os empresários, criadores da raça equina, realizam no sábado um leilão daquele que consideram o melhor cavalo para esporte.
Serão 35 animais que devem ser vendidos entre R$ 30 mil e R$ 100 mil, "dependendo do mercado", afirma Luís Ermírio de Moraes, proprietário da Fazenda Alegria dos Pinhais.
Ainda que não seja o ideal para saltos superiores a 1,10 metro, "é um cavalo elegante, forte e que gosta de ser montado", segundo Moraes.
O leilão pretende ser diferente de outros do gênero. Haverá provas, com prêmios de R$ 15 mil, e vários mimos para participantes, segundo os organizadores.
"Queremos promover a raça, que deverá se valorizar nos próximos anos e se comparar à de cavalos de US$ 1 milhão", afirma Moraes.
O leilão de cavalos das fazendas Alegria dos Pinhais e Top, de Pereira, será no Haras Larissa, que fica perto de Campinas (SP).
Muita... O preço do pacote de macarrão no Brasil subiu entre 5% e 7% nos últimos meses, impulsionado pela alta do trigo. Apesar disso, o consumo de massas deve registrar crescimento de até 7% neste ano, ante 1,2 milhão de toneladas do ano passado, segundo a Abima (associação do setor).
...massa O Brasil é o terceiro maior produtor de massas alimentícias do mundo, atrás de Itália e Estados Unidos. Atualmente, são fabricados no país 30 tipos de macarrão distribuídos entre: massas secas, que respondem por 84% do consumo, instantâneas (13%), e frescas (3%).
EM DOMICÍLIO
Os investidores estão usando cada vez mais o "home broker" para realizar as suas aplicações na Bolsa.
Segundo levantamento da BanifInvest, 39,71% deles aplicam de 75% a 100% dos recursos via "home broker".
Essa ferramenta possibilita o investidor a realizar operações de compra e venda de ações sozinho via internet.
"O resultado confirma a evolução do investidor individual e a segurança que ele possui para o uso da ferramenta on-line", diz Bruno Di Giorgio, do BanifInvest, que ouviu 4.000 investidores.
Gestão de risco em brasileiras é menor, diz consultoria
O processo de gestão de riscos dentro de empresas do setor elétrico brasileiro está abaixo dos níveis encontrados na Europa, no Oriente Médio e na África.
A conclusão é de estudo da Deloitte sobre o tratamento de riscos no setor, como segurança da informação, riscos da energia nuclear e aumento no valor e no número de processos judiciais.
Análise realizada pela consultoria com empresas nessas regiões indica que quase todas (95%) realizam atividades relacionadas à gestão de risco.
Por outro lado, apenas 65% das brasileiras, consideram o processo implantado em suas organizações.
No exterior, a gestão de riscos está incorporada principalmente à comercialização (58%) e aos seguros (48%).
A pesquisa também indica que 59% dos executivos já estabeleceram comitês de risco em suas empresas, sendo a maioria formada por membros do conselho, comitê de auditoria e gestores da alta administração.
Novo... A diretora-executiva da Abipla (associação brasileira das indústrias de produtos de limpeza), Maria Eugenia Saldanha, assumiu a vice-presidência da Aliada (associação latino-americana).
...posto A entidade, com sede na capital uruguaia, busca pleitear melhorias nas áreas regulatória e tributária de produtos dos países da região.
Entrega Os Correios de Campinas (SP) assinam hoje um convênio com a CPFL Energia para usar o veículo elétrico Aris, desenvolvido pela Edra, a partir deste mês.

Ofertório eleitoral

Ofertório eleitoral
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - editoriais@uol.com.br
O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, nunca comungou com os tucanos ortodoxos que conduziam a economia no governo FHC. Na campanha de 2002, porém, jurou sobre o cânone de responsabilidade fiscal do cardinalato do Plano Real, em nome da continuidade. Agora, pela mesma razão, mostra-se pronto a abjurar o credo com ímpetos de iconoclasta.
Multiplicam-se as promessas de aspecto populista na campanha tucana. O Bolsa Família se estenderia a mais 15 milhões de famílias (hoje são 13 milhões) e contemplaria idosos e mais vulneráveis com um 13º benefício mensal.
O salário mínimo subirá para R$ 600 já no ano que vem. Pensões e aposentadorias do INSS terão aumento de 10%.
A motivação eleitoral parece óbvia. Serra enfrenta o desafio de concorrer com a candidata petista, Dilma Rousseff, ungida pela popularidade inédita de um presidente que, em oito anos, de fato logrou transferir renda para as camadas mais pobres e incluir milhões no mercado. Além disso, a candidata não faz por menos: promete simplesmente erradicar a miséria do país.
O tucano optou por apresentar-se como continuador e amplificador pragmático das políticas sociais do lulismo. Pouco importa de onde sairá o dinheiro. São R$ 46,2 bilhões adicionais já em 2011, como demonstrou ontem reportagem nesta Folha: R$ 17,1 bilhões para o mínimo, R$ 15,4 bilhões para aposentadorias e R$ 13,7 bilhões para Bolsa Família.
Ora, isso representa uma vez e meia tudo o que a União investiu em infraestrutura -estradas, portos, aeroportos e outras obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)- em 2009. Ou, em outros números, 2,5% do orçamento federal para este ano.
Trata-se de comprometer fatias crescentes da receita com medidas que podem retirar capacidade de investimento do Estado e pressionar as finanças públicas. Não é o que se espera de um político como Serra, que em sua vida pública tem se comprometido com o desenvolvimento e a responsabilidade fiscal.

Brasil negro

Brasil negro
ANCELMO GÓIS – O Globo
Pesquisa da ONG Educafro, de frei David dos Santos, mostra que esta eleição dobrou o número de negros no Congresso. Em 2006, dois negros se elegeram senadores. Agora, foram quatro. Os deputados eleitos há quatro anos eram 12. Agora, 22.
Segue... A pesquisa se baseou nas fichas do TSE em que os candidatos declaram sua raça. Os únicos partidos grandes que não elegeram negros foram DEM e PSDB.
Política da Igreja Foi grande surpresa a indicação de Dom Raymundo Damasceno para cardeal. Ele foi preterido há seis anos, quando ficou com a arquidiocese de Aparecida, considerada secundária, com menos de 30 paróquias. Mas se impôs e virou cardeal na frente dos arcebispos de Brasília e Belo Horizonte.
Agora... A aposta é que o próximo cardeal brasileiro será Dom Orani Tempesta, do Rio.
Caso médico O deputado Jorge Picciani teve alta ontem do Hospital Barra D’Or, no Rio.
No mais Chico Buarque disse que uma das razões de seu voto em Dilma é o desejo de ter uma presidente que fale grosso com os EUA. Nada contra. Pode apostar. Mas o mundo roda. Hoje em dia, é preciso engrossar a voz é com a China, cuja política cambial é responsável por boa parte da perda de competitividade dos produtos brasileiros no exterior.
Bibas da favela A Rocinha, a grande favela carioca, vai ter sua primeira parada gay. A festança cor de rosa será domingo agora, dia 24, na Rua 1. Começará às 16h, com show de drags queens. O padrinho é o festeiro David Brazil.
Dou-lhe uma, dou-lhe duas... ESTE QUADRO, “Praia de Valência”, que traz a assinatura de Joaquin Sorolla Y Bastida (18631923), será leiloado dia 9 de novembro por Horácio Ernani. É determinação do juiz Fernando Viana, da 3aVara de Órfãos e Sucessões. O último quadro desse artista espanhol leiloado na Sotheby’s foi arrematado por 1,4 milhão de euros. Mas este aqui foi avaliado por baixo — uma mixaria de R$ 100 mil. É que três marchands brasileiros não conseguiram atestar sua autenticidade. Mas veja que curioso. A tela era da aposentada Astréa Gomes, falecida em 2001 e sem herdeiros. Além do quadro, Astréa deixou algo em torno de R$ 20 milhões de herança para oito sortudos, incluindo duas entidades respeitáveis — o Retiro dos Artistas e o Instituto dos Cegos Helen Keller
Questão do aborto Um manifesto que condena a forma como os candidatos trataram a questão do aborto no 2oturno e pede para o tema ser discutido no futuro governo corre a internet para ser entregue a Dilma ou Serra depois da eleição. É assinado por intelectuais, ONGs e gente de universidades brasileiras, da América Latina e até da Europa, dos EUA e do Canadá. Já tem 5.500 assinaturas.
Segue... As assinaturas são colhidas em https://spreadsheets.google.com/viewform?formkey=dFBZTWZmeUlQTUhvaUZJeVM3bzROdHc6MQ.Calma, ‘Economist’ Veja como a “The Economist” gosta de viver perigosamente. Depois de dar capa antecipada à “vitória” de Dilma no 1oturno, a revistona britânica, em matéria sobre “erro das pesquisas” em 3 de novembro, diz que a petista deve vencer agora.
O macaco tá certo A 2ª Câmara Criminal do TJ do Rio vai julgar um pedido de habeas corpus em favor de um... chipanzé. Foi impetrado por algumas ONGs e associações científicas de defesa de animais, que alegam que o primata Jimmy não pode viver no zoológico. É que... Estudos comprovariam que o animal precisa de espaço.
Morro dos Prazeres Duas casas em área de risco no Morro dos Prazeres, no Rio, de famílias que resistiam à mudança, serão demolidas hoje pela subprefeitura do Centro. Um deslizamento em abril, ali, causou a morte de 33 pessoas.
Crime e castigo A 4ª Câmara Criminal do TJ do Rio manteve a sentença que condenou a procuradora aposentada Vera Lúcia Santana a oito anos e dois meses de prisão em regime fechado. Ela é acusada de torturar uma menor de 2 anos.
Quem dá mais? Pode ir a leilão judicial a marca “Jornal do Brasil”. Os pregões serão dias 8 e 22 de novembro na 56aVara do Trabalho do Rio.
Paes Buracão Ontem, por volta de 10h, um motorista da linha 415 (UsinaLeblon) apostou com o trocador que passaria por “dez buracosmolas” entre a Rua Hadock Lobo e a Av. Presidente Vargas. “Buraco-mola”, explicou, são os buracões. No trecho, acredite, foram... 12. Alô, Eduardo Paes!
EIKE SEMPRE Ele Batista, de cabelo novo, exibe seu PACC (Programa de Aceleração do Crescimento Capilar) na Beaux, clínica de beleza que abriu com a mulher, Flávia Sampaio, na Barra. Na festa, o casal recebeu a atriz Cleo Pires. Aliás... veja a foto abaixo
A FÁBRICA DE filhas lindas de Glória Pires não parou em Cleo. Aqui, a atriz, no ar na reprise de “Vale tudo”, posa com sua Antônia na estreia de “O pintor”, no Teatro Leblon
PONTO FINAL O senador Francisco Dornelles disse que os prefeitos do Rio que não aumentarem a votação de Dilma em seus municípios perderão verba do governo do estado. Parece uso indevido da máquina pública.
E é.

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