segunda-feira, dezembro 27, 2010

Ronaldo


Liu Xiaobo merece o prêmio Nobel da Paz?

Liu Xiaobo merece o prêmio Nobel da Paz?
Por Tariq Ali, do Sin Permiso
O governo chinês cometeu a bobagem de transformar Liu Xiaobo em mártir Ele nunca deveria ter sido preso, mas os políticos que compõem o comitê do Nobel, liderados por Thorbjorn Jagland, ex-primeiro ministro trabalhista, quiseram dar uma lição a China e, para isso, fecharam os olhos para os pontos de vista de seu herói. Entre outras coisas, Xiaobo defende as guerras da Coréia, do Vietnã e do Iraque e sustenta que a tragédia da China é não ter sido colonizada ao menos durante 300 anos por uma potência ocidentral ou pelo Japão.
O vencedor do prêmio Nobel da Paz de 2010 intensificou a guerra no Afeganistão poucas semanas depois de receber a honraria. O prêmio surpreendeu ao próprio Obama. Este ano o governo chinês cometeu a bobagem de transformar em mártir o ex-presidente do Independent Chinese PEN Centre e neocon Liu Xiaobo. Ele nunca deveria ter sido preso, mas os políticos noruegueses que compõem o comitê, liderados por Thorbjorn Jagland, ex-primeiro ministro trabalhista, quiseram dar uma lição a China e, para isso, fecharam os olhos para os pontos de vista de seu herói.
Ou talvez não tenham feito exatamente isso, uma vez que suas perspectivas não são muito diferentes. O comitê pensou em conceder a Bush e Blair o prêmio da paz conjunto por invadir o Iraque, mas o protesto público obrigou a que desistissem da ideia.
Para constar, registre-se que Liu Xiaobo declarou publicamente que, na sua opinião:
(a) A tragédia da China é não ter sido colonizada ao menos durante 300 anos por uma potência ocidental ou pelo Japão. Aparentemente isso teria civilizado a China para sempre;
(b) As guerras da Coréia e do Vietnã empreendidas pelos Estados Unidos foram guerras contra o totalitarismo e aumentaram a "credibilidade moral" de Washington;
(c) Bush fez bem em ir à guerra no Iraque, e as críticas do senador Kerry eram "propagadoras de calúnias";
(d) Afeganistão? Aqui não há nenhuma surpresa: apoio completo à guerra da OTAN.
Ele tem todo o direito a ter essas opiniões, mas, considerando as mesmas, deveria receber um prêmio da Paz?
O jurista norueguês Fredrik Heffermehl disse que o comitê infringe a vontade e o testamento deixados pelo inventor da dinamite, cuja fortuna financia os fundos para os prêmios:
"O comitê do Nobel não recebeu o dinheiro do prêmio para uso livre, mas sim foi encarregado de outorgá-lo a um elemento fundamental no processo de paz, rompendo o círculo vicioso da corrida armamentista e dos jogos do poder militar. Deste ponto de vista, o Nobel de 2010 é de novo um prêmio ilegítimo outorgado por um comitê ilegítimo".
*Tariq Ali é jornalista, escritor e membro do conselho editorial de Sin Permiso. Seu último livro publicado é "The Protocols of the Elders of Sodom: And Other Essays", publicado pela editora Verso de Londres.
Tradução do espanhol para o português: Katarina Peixoto. (Envolverde/Carta Maior)

Paco de Lucía Concierto de Aranjuez Part2

Caos aéreo

Caos aéreo
HÉLIO ZYLBERSTAJ - O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/12/10
Em geral, greves afetam diretamente as empresas e os trabalhadores envolvidos e apenas superficialmente interferem com o interesse público. A greve numa indústria automobilística, por exemplo, impacta na empresa (que perde produção e venda) e nos empregados (que perdem salários). Os consumidores sempre podem escolher outra marca de automóvel ou esperar para comprar a marca desejada após a retomada da produção. Por essa razão, a greve é considerada um mecanismo de pressão legítimo no sistema de negociações coletivas. Mas, quando se trata de um serviço essencial, os consumidores não têm opções e o seu interesse também precisa ser levado em consideração.
Foi o que ocorreu no caso do impasse no transporte aéreo. Diante da iminente paralisação de um serviço essencial numa época de intensa demanda, a Justiça do Trabalho determinou que os aeroviários e aeronautas mantivessem 80% dos serviços durante a greve. Mais tarde, a Justiça Federal elevou o porcentual mínimo para 90%. Na prática, os juízes cassaram o direito de greve da categoria, pois uma greve com 10% de adesão não tem nenhum efeito. Os trabalhadores suspenderam então a greve e as centenas de milhares de passageiros puderam fazer as viagens que haviam programado. Mas os trabalhadores perderam muito da sua capacidade de pressão sobre as empresas, além de não receberem nenhum aumento. Foi uma decisão parcial, na medida em que desconsiderou os interesses de uma das partes do conflito.
O aspecto que mais chamou a atenção nesse caso foi a ausência de negociação. Os trabalhadores pediram 15% de aumento, as empresas ofereceram 6% e o processo estancou. Não houve progresso nas semanas que antecederam o Natal. Na véspera da greve anunciada, as empresas aumentaram sua oferta para 8%, revelando que a ameaça de paralisação estava funcionando e que existia espaço de negociação. Como a nova posição foi anunciada na véspera, não houve tempo para os trabalhadores serem pressionados e levados a aproximar-se da posição patronal. Ficou a impressão de que faltou desde o início um empurrão para levar as partes à negociação e ao entendimento.
De fato, nosso sistema de negociações coletivas foi desenhado para solucionar litígios e não para evitar impasses. Durante décadas, a Justiça do Trabalho recebeu os impasses das datas-base e os solucionou por meio de sentenças. A prática foi tão frequente e durou tanto, que nos acostumamos até hoje a falar no mês do dissídio, quando na verdade queremos dizer mês da data-base. O impasse era tão comum que os dois termos se tornaram sinônimos na prática.
Seria possível mudar essa cultura e incentivar a negociação? Seria possível desenhar institucionalmente um empurrão permanente para ajudar as partes na mesa? Sim, seria. E esse empurrão institucional se chama arbitragem de ofertas finais. Sob essa regra, as partes não podem recorrer à greve, que é substituída pela arbitragem. Mas, diferentemente da arbitragem convencional, o árbitro de ofertas finais não pode escolher qualquer número para a sua sentença. Obrigatoriamente tem que optar por uma das ofertas finais. E isso funciona como um poderoso incentivo para fazer convergir posições inicialmente distantes.
Tomemos o próprio caso do impasse no transporte aéreo. As partes fixaram suas posições iniciais e precocemente anunciaram o impasse. Se a regra da arbitragem de ofertas finais estivesse funcionando, o árbitro teria sido acionado e escolheria ou 15% ou 6% para o aumento salarial. Se escolhesse 6%, os trabalhadores teriam um aumento menor que o de outras categorias e suas lideranças sindicais sofreriam um desgaste nas bases. Por outro lado, se o árbitro escolhesse 15%, as empresas teriam um grande aumento na folha salarial. Este é o segredo do sistema de arbitragem de ofertas finais: se as partes ficassem muito distantes nas suas ofertas, correriam grandes riscos. Para reduzi-los, os dois lados teriam que aproximar suas posições, antes de anunciar o impasse. O movimento de aproximação teria provavelmente produzido um acordo ou, então, teria aproximado as ofertas reduzindo o risco de ir à arbitragem. As partes alcançariam um acordo ou o árbitro decidiria entre duas ofertas finais muito próximas.
A grande vantagem da arbitragem de ofertas finais é que ela mantém a pressão sobre os dois lados da mesa de negociação, sem greve. Mesmo sem greve, nenhum deles pode ficar muito distante de uma posição razoável. Quanto mais distante, maior o risco de sofrer com os custos da decisão arbitral, pois o árbitro escolhe a oferta final mais razoável. Esse mecanismo é muito utilizado em diversos países, nas atividades essenciais, cuja paralisação é extremamente prejudicial à sociedade. É uma forma de solução de conflitos interessante porque concilia dois valores essenciais numa sociedade democrática: a negociação coletiva e o interesse público.
Até agora, as autoridades se preocuparam com o interesse público. Mas o impasse não foi resolvido, está apenas congelado, pois a greve está suspensa até 10 de janeiro. Nesta data, em vez de iniciar a paralisação, porque não experimentar a arbitragem de ofertas finais?
PROFESSOR DA FEA/USP E PRESIDENTE DO INSTITUTO BRASILEIRO DE RELAÇÕES DE EMPREGO E TRABALHO

Tiago Recchia, para Gazeta do Povo


Energia cara

Energia cara
GEORGE VIDOR - O GLOBO - 27/12/10
Mantida a atual tendência, dentro de quatro anos a energia elétrica estará 30% mais cara para as indústrias, segundo estudo encomendado à FGV Projetos (Fundação Getulio Vargas), por associações de empresas que são grandes consumidoras de eletricidade. O custo da energia dobrou nos últimos dez anos para a indústria e certamente isso vem pondo em risco a cadeia produtiva.
A produção de alumínio primário parou de crescer no Brasil. A de vidros está ameaçada, assim como a de ferro ligas, de produtos químicos e siderúrgicos.
O estudo da FGV Projetos sugere vários caminhos para se evitar o encarecimento da energia elétrica, reduzindo-se, por exemplo, as perdas em dois pontos percentuais entre a eletricidade que é gerada e a faturada junto aos consumidores. Mudanças na tributação e eliminação de encargos também teriam enorme efeito sobre os preços da energia. Para se ter uma ideia, de cada R$1 a menos nesses encargos, produz-se mais R$8,36 na economia, com benefícios para todos.
Se o encarecimento da energia for evitado, a economia brasileira cresceria um ponto percentual a mais nos próximos dez anos (o que seria equivalente a uma Argentina). As exportações cresceriam mais 0,91 ponto percentual e as importações menos 0,58 ponto percentual ao ano, contribuindo para melhorar o resultado esperado para a balança comercial do país.
O estudo aqui citado em breve estará disponível no site da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (www.abrace.org.br).
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Meu colega André Trigueiro, da Globonews, cobra-me quase que diariamente uma posição sobre o que ocorreu com a ThyssenKrupp, a mais nova siderúrgica do país, localizada na extremidade do município do Rio, em Santa Cruz. Em agosto, logo que o primeiro forno foi ligado, uma poeira de grafite perturbou moradores das vizinhanças e trouxe, principalmente, preocupações. Como acompanhei a instalação do projeto - por sua importância para o país e, em especial, para a própria região, ameaçada de degradação, tal qual ocorrera anteriormente no entorno do Complexo do Alemão - senti uma certa frustração com tal impacto ambiental negativo já na largada do empreendimento.
Depois que a poeira baixou, literalmente, busquei explicações para o que aconteceu e indaguei sobre os riscos de o problema voltar a ocorrer.
Apesar de todo o incômodo causado pela poeira à vizinhança da CSA, foi um alívio saber que não houve risco à saúde nem dos trabalhadores, nem dos moradores. As partículas não eram tóxicas, mas sim de material inerte (grafite semelhante ao existente nos lápis). A CSA declarou que foi uma situação atípica, que dificilmente se repetirá. O ferro gusa produzido no alto forno é imediatamente utilizado na fabricação de aço. Em agosto, quando o problema ocorreu, a aciaria não estava em operação, e o equipamento alternativo (um laminador) não funcionou como o planejado. O gusa foi depositado em área prevista para situações de emergência. O clima seco de agosto e fortes ventos na região contribuíram para espalhar a poeira de grafite originada do gusa depositado a céu aberto.
A qualidade do ar em volta da siderúrgica é acompanhada em tempo real pela empresa e pelo Inea, o órgão de controle ambiental do Estado do Rio. Felizmente, mesmo no momento mais crítico, a qualidade não chegou a ser inadequada. Os indicadores se mantiveram bons (na maioria dos dias) ou regulares.
O segundo alto forno estava pronto para ser ligado e evidentemente surgiu a preocupação de que o problema poderia se repetir. No funcionamento de qualquer indústria - ainda mais do porte de uma siderúrgica como a CSA, com capacidade para produzir 5,3 milhões de toneladas de aço por ano - nem tudo é previsível quando equipamentos gigantes começam a operar. A Lei de Murphy aconteceu no caso do alto forno número 1, e tudo que poderia dar errado deu, sem, no entanto, pôr em risco à saúde das pessoas. O alto forno número 2 entrou em pré-operação numa situação diferente, com o ferro gusa sendo aproveitado de imediato na aciaria (com exceção das primeiras partidas, que saem do alto forno com elevado percentual de escória). Na eventualidade de uma emergência, jatos de água deixariam o gusa depositado em céu aberto úmido o suficiente para se evitar partículas em suspensão (poeira).
Por causa do erro cometido, buscou-se uma solução. Indústrias vizinhas a áreas urbanas devem sempre redobrar suas atenções para evitar qualquer acidente ambiental, e o que ocorreu na CSA serve de lição para que essa máxima não seja esquecida.
O investimento feito pela ThyssenKrupp e Vale na CSA (quase R$15 bilhões) já teve um enorme impacto econômico e social no Rio de Janeiro. Viabilizar tal investimento não foi fácil e isso exigiu boa vontade dos empresários, das autoridades e dos moradores da região de Santa Cruz e Itaguaí. Isso não desobriga a CSA de cumprir a legislação ambiental. Cabe aos órgãos de controle ambiental zelar por essa obrigatoriedade.
No entanto, estava sendo armado um "circo" em torno da pré-operação do alto forno 2. O governador Sergio Cabral agiu corretamente ao autorizar que o alto forno fosse aceso (e evidentemente que tomou conhecimento prévio das precauções que haviam sido tomadas).
A CSA está entre os empreendimentos que ajudaram o Rio a inverter a espiral negativa que levava a cidade (e o estado ) cada vez mais para baixo. Não deve ser vista como um estorvo, nem com uma visão preconceituosa contra indústrias, embora sustentabilidade e questão ambiental precisem ser temas relevantes (e até mesmo decisivas) na formulação de qualquer empreendimento do setor.

Governo renova isenção do IPI para produtos da construção civil

Governo renova isenção do IPI para produtos da construção civil
Foi prorrogada até dezembro de 2011 a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os principais produtos da construção civil. A publicação, no dia 16.12.2010, do Decreto nº 7.394 no Diário Oficial da União determinou a ampliação do prazo e listou os materiais beneficiados pela desoneração. A medida começa a valer a partir de 1º de janeiro de 2011. O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, já havia informado em 29.11, durante o 9º Congresso Brasileiro da Construção (ConstruBusiness 2010) na Fiesp, sobre a decisão de renovar a isenção do IPI. Naquela ocasião, o ministro ressaltou que 2010 será o melhor ano das últimas décadas para o segmento da construção civil no Brasil, com crescimento em torno de 13%.

Comboio de viagem, a Suécia

Fotografia por Vytautas Serys - 
Esta foto foi tirada no norte da Suécia, durante uma viagem de trem para Abisko.

Lute, para o Hoje em Dia


Parvoíce estratégica

Parvoíce estratégica
MARCELO DE PAIVA ABREU - O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/12/10
O início do governo Dilma Rousseff enseja reflexões sobre continuidade e ruptura na vida política e econômica da República. Infelizmente, as indicações são de que haverá continuidade na adoção de políticas que, embora de sucesso no passado, deixaram de ser eficazes para garantir o crescimento.
Do ponto de vista político, com a fugaz exceção do episódio janista, São Paulo, depois de mais de 30 anos de política de "café pingado", foi marginalizado do controle do processo político por quase dois terços de século: desde o golpe contra Washington Luis à posse de FHC em 1995. Os "acidentes" do processo político que excluíram políticos paulistas da Presidência pareciam superados desde os dois octenos, de FHC e de Lula, carioca e pernambucano absorvidos pela política de São Paulo. O governo Rousseff configura aumento de incerteza quanto à preponderância política paulista, a despeito de a nova presidente ter sido ungida por um líder sindical do ABC e ter escolhido um ministério em que há clara maioria de titulares com ligações políticas e profissionais com São Paulo.
Quanto à política econômica, a preponderância paulista foi bem mais presente. A estratégia econômica na República Velha já repousava sobre os pilares do protecionismo - tarifas de importação beirando 50% ad valorem - e de intervenção estatal, via sustentação dos preços do café. Com a grande depressão, a demanda por proteção ainda mais alta ganhou espaço em relação às por tratamento privilegiado ao café, e as demandas por mais intervenção estatal ganharam outro formato, com expectativas de envolvimento direto do Estado, especialmente na produção de insumos.
Ao final da 2ª Guerra Mundial, Roberto Simonsen balizou a estratégia econômica dominante: economia fechada e Estado forte. Esse modelo foi bem-sucedido até o início da década de 1980, quando a economia, afetada por aceleração inflacionária, desequilíbrio das contas públicas e dificuldades externas, estagnou por quase um quarto de século. Generalizou-se a consciência de que a inflação deveria ser controlada e de que a estratégia baseada em Estado e autarquia se havia esgotado. As reformas dos governos Itamar Franco e, especialmente, FHC baseavam-se no diagnóstico de necessidade de renovação estratégica. O tripé estabilidade da moeda, abertura comercial e privatização - acompanhada de criação de marcos regulatórios adequados - procurava responder esse desafio.
Durante o primeiro mandato, o presidente Lula deu continuidade à condução prudente da política macroeconômica e resistiu à retomada de políticas protecionistas e estatizantes. Mas essa postura não persistiu. No seu segundo mandato, e crescentemente à medida que se aproximava a eleição presidencial, promoveu-se uma escalada de gastos que comprometeram a credibilidade da política macroeconômica.
Ganhou força a ideia de que o aumento da taxa de crescimento futuro da economia depende crucialmente do papel do Estado. Dilma Rousseff explicitou essa posição de forma peremptória. Paralelamente, houve um processo de enfraquecimento das agências reguladoras e reversão à tradicional captura de reguladores fracos por estatais poderosas.
A regressão ao protecionismo foi menos explícita, embora reforçada pelos protestos quanto ao impacto da apreciação cambial e pretensa "desindustrialização". As descobertas do pré-sal criaram condições para que se atrelasse o saudosismo quanto ao papel do Estado à busca de formatos não tradicionais de proteção à indústria instalada no País. O aumento significativo do escopo de atividades da Petrobrás será acompanhado de programa de compras que beneficia os produtos domésticos, desde que seus preços sejam não mais de 25% superiores aos dos concorrentes internacionais.
Essas políticas, que aumentam significativamente o custo do investimento em um país que já poupa muito pouco, têm sido louvadas em nome da "ausência de isonomia" da produção local na concorrência com importações. Inclusive por vulpino ex-ministro do Antigo Regime, entusiasta de autarquia, Estado inchado, imprudência macroeconômica e "torneirinhas" de distribuição discricionária de incentivos e penalizações. Seria a forma de compensar a valorização do real, a carga tributária elevada e a concorrência desleal das importações.
Mesmo a um desavisado pareceria mais eficaz que a "isonomia" fosse garantida por instrumentos centrados nos problemas que reduzem a competitividade brasileira: reforma tributária, redução do custo Brasil e outros temas que saíram de moda no passado recente. Paliativos discricionários por meio de políticas de compras públicas deveriam ser necessariamente transitórios, de forma a incentivar a melhoria de competitividade dos produtores locais sem perpetuar a proteção, como já ocorreu no passado.
O governo está, de fato, conseguindo transformar a benesse geológica do pré-sal ou em quase rendas extraídas por produtores locais de bens de capital ou em mero desperdício decorrente de ineficiência. O que pasma é que o País pareça satisfeito com isto, parvamente imerso na mediocridade.
DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE, É PROFESSOR TITULAR NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

Tecnologia e eficiência no saneamento

Tecnologia e eficiência no saneamento
GESNER OLIVEIRA
Com seu gigantesco poder de compra, as grandes empresas de saneamento têm em suas mãos condições de influenciar toda uma cadeia produtiva
O Brasil precisa dar um salto em inovação. Estudo recente divulgado pela Confederação Nacional das Indústrias com 14 países selecionados por suas características econômico-sociais indica que o Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking de tecnologia e inovação, atrás de economias emergentes como China, Índia e Rússia.
Considerando-se que o saneamento constitui um dos segmentos mais atrasados da infraestrutura brasileira e que universalização dos serviços requer grande mobilização de capital, é urgente fortalecer as parcerias com centros de pesquisa e inovação, de forma a propiciar tecnologias que aumentem a produtividade das empresas.
Entre os desafios mais importantes estão reduzir as perdas de água e melhorar a eficiência no uso da energia elétrica. O setor de saneamento é um dos maiores consumidores de energia, absorvendo quase 3% da produção do país.
Em relação às perdas, o Brasil apresenta índices altíssimos -em torno de 40%, sendo que em algumas regiões os índices alcançam 60%. É como se uma padaria jogasse fora 60 pães a cada cem produzidos. Esse desempenho diminui o potencial de investimento dos responsáveis pelos serviços. Nos países mais desenvolvidos, as perdas não chegam a 10%.
Ainda no segmento água, há novas tecnologias para o tratamento da água envolvendo membranas filtrantes, que vêm sendo utilizadas em diversos países com grande sucesso e custo decrescente.
Tais procedimentos permitem transformar grande volume de água salobra em água potável, convertendo em realidade comercial uma prática que parecia impensável pouco tempo atrás. O lodo resultante das estações de tratamento tem se revelado útil para fins diversos: queima para geração de energia, adubo e até mesmo bloco de construção.
Ainda em relação ao potencial de geração de energia, é possível aproveitar as diferenças de cotas dos sistemas de represas para a construção de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas).
Poucos sabem das vantagens da água resultante do tratamento de esgoto na irrigação de lavouras. Repleta de material orgânico, essa água apresenta altos índices de nitrogênio e fósforo, permitindo aumento de até 30% na produtividade de lavouras de cana, milho e tifton.
A Sabesp tem buscado aumentar sua produtividade, reestruturando e fortalecendo sua área de pesquisa, desenvolvimento e inovação. A área ganhou novo time de pesquisadores e firmou parcerias. Com a Fapesp, foi assinado termo de cooperação para sete linhas de pesquisa, envolvendo investimentos de R$ 50 milhões em cinco anos.
Com seu gigantesco poder de compra, as grandes empresas de saneamento têm em suas mãos condições de influenciar positivamente toda uma cadeia produtiva. Grande parte da tecnologia utilizada no setor chega pelas mãos dos fornecedores de materiais, equipamentos e serviços.
Cabe aos dirigentes exigir melhorias contínuas, de modo a obter cada vez mais produtos de qualidade, de menor custo e adequados aos princípios da sustentabilidade.
GESNER OLIVEIRA, economista e professor da FGV-SP, é presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Benett


Continuidade com incertezas

Continuidade com incertezas
EDUARDO VIOLA e HÉCTOR RICARDO LEIS – Folha de São Paulo
A relação com a China será o maior desafio, pelo impacto divisor que produz no Brasil: o setor manufatureiro perde enquanto a mineração ganha
Eduardo Viola 
Entendemos a política externa a partir das relações internacionais do Brasil em sentido amplo, que inclui política, economia, defesa-segurança e ambiente-clima-energia, produzidos em vários ministérios.
A política externa de Dilma provavelmente dará continuidade aos principais delineamentos da de Lula: ênfase crescente nas relações Sul-Sul -com destaque para políticas direcionadas à América do Sul, China, Índia, a países africanos e árabes- e estabilidade com os Estados Unidos, a União Europeia, a Rússia e o Japão.
A nova escalada autoritária na Venezuela e as tensões com o Ocidente, geradas pela política de Lula com o Irã, podem produzir certo distanciamento em relação a esses regimes. A importância da atuação no G20 prosseguirá, ao lado de demandas por mais reformas no FMI e no Banco Mundial.
Héctor Ricardo Leis
Provavelmente haverá diminuição da ênfase na reforma do Conselho de Segurança da ONU, pelo reconhecimento de que as perspectivas são remotas. Na proteção internacional dos direitos humanos, pode-se esperar certa crítica aos regimes ostensivamente violadores.
Haverá, provavelmente, a diminuição da retórica integracionista da América do Sul, devido ao reconhecimento das limitações estruturais para o avanço, já que todos os países, exceto o Uruguai, priorizam ostensivamente o interesse nacional imediato em detrimento da integração. Com o iminente acesso da Venezuela ao Mercosul, a estagnação do bloco se aprofundará.
A relação com a China será provavelmente o maior desafio, pelo impacto divisor que produz no Brasil: enquanto produtores de minérios e alimentos ganham muito com a interdependência comercial crescente, o setor manufatureiro é perdedor. O dilema é manter economia equilibrada e diversificada ou aprofundar a retomada da tendência de grande produtor de commodities.
É difícil conjeturar sobre a direção do governo Dilma, em função da falta de visão estratégica de longo prazo das últimas décadas.
Por parte do governo Obama, poderá haver interesse em elevar para um nível mais estratégico a relação com o Brasil, mas sua efetivação dependerá do governo brasileiro perceber os limites na sua atual política Sul-Sul. Os conflitos comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos poderão se aprofundar.
Haverá continuidade na politica de defesa: parceria estratégica prioritária com França e secundariamente com EUA e outros países europeus, participação destacada das forças armadas brasileiras em operações de paz da ONU e oposição ao Protocolo Adicional ao Tratado de Não Proliferação Nuclear.
A defasagem entre o recente avanço da política climática brasileira, com metas de redução de emissões, e a posição de negociação internacional, que mantém o país atrelado às posições conservadoras de China e Índia, é provável que não permaneça por muito tempo, em função do peso de empresas modernas e da opinião pública.
Uma eventual exploração do pré-sal, com captura e estocagem de carbono, poderá acelerar essa tendência. As potencialidades do Brasil têm sido subestimadas quando expressas na atual política externa focalizada nas relações Sul-Sul.
O país, se colocado como ponte entre Norte e Sul, alçaria posição legítima de liderança na construção da governança global.
Esse é um fator estrutural de mudança que pode ser considerado no médio e no longo prazo. Um elemento positivo para potenciais avanços é a mentalidade mais pragmática do ministro Patriota.
EDUARDO VIOLA, 61, é professor titular de relações internacionais da UnB (Universidade de Brasília).
HÉCTOR RICARDO LEIS, 67, é professor associado de ciência política da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Ambos são membros do Instituto Millenium.

Têxtil arrecada mais, mesmo com ICMS menor

Têxtil arrecada mais, mesmo com ICMS menor
Maria Cristina Frias - Folha de S.Paulo - 27/12/2010
O setor têxtil e do vestuário deve fechar o ano com incremento de 10,6% na arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) no Estado de São Paulo, segundo informa o Sindivestuário.
No ano passado, foram arrecadados R$ 954,9 milhões. Neste, a previsão é chegar a R$ 1,056 bilhão.
O resultado foi obtido mesmo com a redução da base de cálculo do ICMS do setor, que passou de 12% para 7%. O acordo que garantiu a redução vale até março de 2011.
"É uma vitória para o Estado e para o setor, porque pudemos comprovar o que havíamos previsto em estudo entregue ao governo no início do ano", diz Ronald Masijah, presidente do Sindivestuário (reúne segmentos de roupas masculina, feminina e infantojuvenil no Estado).
No governo Alckmin, quando a alíquota do imposto foi diminuída de 18% para 12%, a arrecadação do setor também teve incremento entre 10% e 11%, de acordo com o empresário.
Para o secretário-adjunto da Fazenda paulista, George Tormin, o incremento da arrecadação está relacionado ao aumento de consumo, além do efeito da redução da base de cálculo do ICMS.
"A redução ocorreu só para a indústria. No varejo, formado por magazines, o ICMS foi mantido [em 12%]. Atendemos a um pedido do setor, que reclamava que o tecido produzido fora do país era importado com preços mais baixos. A indústria perdia capacidade de concorrência."
A expectativa dos empresários, segundo Masijah, é que o acordo seja renovado no governo Alckmin.
LIDERANÇA FRANCESA
A francesa Lancôme tornou-se a marca líder no segmento de luxo no Brasil, segundo a Segmenta, que monitora o setor no país.
O lançamento da linha antiidade Génifique impulsionou o crescimento em 2010, para 28,2%, muito superior aos 18,5% do mercado local, que havia caído 10% em 2009. Em perfume, a alta foi de 40% neste ano.
Em 2011, a grife trará ao Brasil um quarto produto da linha, o creme Tant Miracle (R$ 350), a fragrância Ô d'Azur (R$ 109), além de edições limitadas em frascos menores para atrair novas clientes.
"Fizemos uma combinação feliz: produtos inovadores e uma fragrância mais comercial, Hipnôse (R$ 99), a mais vendida no setor no último trimestre, abriram a porta para outras pessoas do mercado de luxo nesse segmento", diz Cinthia Marino, diretora da marca no Brasil.
Em seu terceiro ano de vida, o site de e-commerce da grife foi o segundo maior ponto de vendas no Brasil e o quarto, no mundo.
Regulação do mercado é a maior preocupação para 2011
A regulação da economia mundial ainda é a principal preocupação dos executivos para 2011. A informação é do quinto relatório anual da Ernst & Young, denominado Global Business Risk Report.
No ano passado, a regulação já era o maior medo no mercado internacional.
O corte de gastos aparece na segunda colocação. Antes do início de 2010, era apenas o sexto fator mais citado.
A pressão sobre o preço dos produtos foi o motivo que mais subiu no ranking: de 15º para 5º.
O acesso ao crédito caiu cinco posições, o que mostra que os investidores estão mais otimistas sobre as condições de empréstimos.
O relatório da consultoria foi elaborado com base na opinião de executivos e analistas do mercado.
INGLÊS FLEXÍVEL
A rede de ensino de inglês Minds já se prepara para colocar em prática seu plano de expansão para 2011.
Serão criadas 15 escolas, seis delas já estão com contratos fechados. São quatro em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e outra em Goiás. Hoje há 31 franquias.
A companhia permite que os alunos alterem sua grade horária a cada semana. Eles devem marcar as aulas com até 48 horas de antecedência, pela internet.
"O principal problema das pessoas hoje é a falta de tempo", afirma a proprietária da rede, Leiza Oliveira.
As classes na Minds são de até seis alunos, mas, dependendo do horário, há aulas individuais. O foco é a faixa etária entre 25 e 37 anos.
"São pessoas que não querem aprender inglês só para viajar, mas também para ter um futuro profissional melhor", diz Oliveira.

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