sexta-feira, maio 13, 2011

Livro adotado pelo MEC defende falar errado


Livro adotado pelo MEC defende falar errado
VEJA ONLINE
Brasília - "Nós pega o peixe" ou "os menino pega o peixe". Para os autores do livro de língua portuguesa Por uma vida melhor, da coleção Viver, aprender, adotado pelo Ministério da Educação (MEC), o uso da língua popular - ainda que com seus erros gramaticais - é válido. A obra também lembra que, caso deixem a norma culta, os alunos podem sofrer "preconceito linguístico".
Diz um trecho do livro, publicado pela editora Global: "Você pode estar se perguntando: `Mas eu posso falar os livro?. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas".
O livro foi distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos a 484.195 alunos de 4.236 escolas, informou o MEC. Em nota enviada pelo ministério, a autora Heloisa Ramos diz que "o importante é chamar a atenção para o fato de que a ideia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela ideia de uso da língua adequado e inadequado, dependendo da situação comunicativa".
"Como se aprende isso? Observando, analisando, refletindo e praticando a língua em diferentes situações de comunicação", segue a nota. Heloisa afirma que o livro tem como fundamento os "documentos do MEC para o ensino fundamental regular e EJA (Educação de Jovens e Adultos)" e leva em consideração as matrizes que estruturam o Exame Nacional de Certificação de Jovens e Adultos. (Encceja). A editora Global disse à reportagem, por meio da assessoria de imprensa, que é responsável pela comercialização e produção do livro, e não pelo conteúdo.

O campo e a floresta


O campo e a floresta
Editorial - Folha de São Paulo - editoriais@uol.com.br
O fracasso na votação do Código Florestal explicita o conflito ancestral entre duas vocações brasileiras - o campo e a floresta.
Ficou de novo patente que o ideal de conciliar desenvolvimento agrícola com preservação ambiental é mais fácil de enunciar do que de traduzir em normas legais.
Na caricatura do debate parlamentar, são ruralistas engalfinhados com ambientalistas. Sob a superfície, há um país que detém o maior acervo de capital natural do planeta e não se põe de acordo sobre quando e onde explorá-lo.
Os proprietários rurais querem livrar-se já das amarras da legislação. A lei lhes impõe a manutenção da vegetação nativa nas reservas legais (20% a 80% da propriedade, a depender da região ecológica) e nas áreas de preservação permanente (APPs, setores frágeis como beiras de rio e encostas).
Apesar de rigorosa, a lei de preservação até aqui não era cumprida à risca. Na última década, intensificou-se o cerco ao desmatamento ilegal, sobretudo na Amazônia. O clímax da ofensiva estava agendado para 11 de junho, prazo final para comprovar a adequação ambiental das propriedades ou reconhecer o passivo (obrigação de recompor a cobertura florestal).
Esse prazo foi adiado mais de uma vez no governo anterior, prolongando a insegurança jurídica. Esgotou-se, agora, a paciência do setor agropecuário.
No Congresso, a bancada ruralista encontrou porta-voz dedicado no deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), relator do código, que produziu uma peça desequilibrada. Contemplava os anseios do agronegócio e abolia pontos nevrálgicos da legislação, mas ignorava objeções de entidades como a Academia Brasileira de Ciências.
Polarização similar existe no próprio governo federal, que ainda assim logrou unir-se para negociar uma posição intermediária. Aceitou inclusão de APPs no cálculo da reserva legal, isenção dessa reserva para pequenas propriedades (até 400 hectares, conforme a região), consolidação de cultivos tradicionais em APPs e recomposição de 15 m (e não 30 m) de vegetação na beira de rios pequenos.
São concessões notáveis, algumas já defendidas pela Folha. Os ruralistas deveriam consolidá-las e dar uma chance à conciliação.

Bin Laden venceu


Bin Laden venceu
Arthur Dapieve
Quando, na noite de 30 de abril de 2011, o presidente americano Barack Obama foi à TV anunciar que um comando especial da Marinha havia matado o terrorista saudita Osama Bin Laden, no Paquistão, o mundo suspirou aliviado por um instante. Um dos homens mais perigosos da História enfim estava fora de combate. De quebra, Obama neutralizava a acusação da direita de sua terra de que não era patriota, sequer era americano. Parecíamos salvos até 2016. Não de Bin Laden, mas de Sarah Palin.
Por definição, porém, um instante passa logo. E aquele foi extraordinariamente breve. Cutucada por uma frase tola do próprio presidente (“O mundo é um lugar melhor e mais seguro por causa da morte de Osama bin Laden”), a opinião pública mundial mudou de tom, do predominantemente festivo ao predominantemente acusatório. Obama nunca teve a menor chance. A falta de regras do jogo indicava que a vitória “moral” seria exclusividade de um dos lados, o de Osama bin Laden.
Argumentou-se que os EUA deveriam ter pedido autorização ao Paquistão para o ataque de 38 minutos em Abbottabad, de modo a não ferir a soberania de seu aliado e o Direito Internacional. Certo. Não se explicou como isso seria compatível com o sucesso da operação, diante da obviedade de que, para “se esconder” daquela maneira, a menos de um quilômetro da maior academia militar do Paquistão, Bin Laden contava com a guarida de gente graúda no governo local, gente que vazaria a informação.
Argumentou-se que os EUA deveriam ter capturado e julgado Bin Laden antes de, eventualmente, executá-lo de acordo com os procedimentos legais. Certo. Não se explicou como isso seria feito. O terrorista iria engrossar a lista dos presos talibãs e da Al-Qaeda em Guantánamo, aquele centro de tortura em solo cubano que Obama prometeu fechar? Ou teria o privilégio de uma prisão em solo americano? Receberia um julgamento justo? Militantes pró-vida protestariam contra a pena de morte?
Argumentou-se que, já que Bin Laden fora morto mesmo, os EUA ao menos deveriam ter divulgado as fotos do corpo. A maligna Sarah Palin chegou a dizer que não mostrá-las era “covardia”. Certo. Não se explicou como isso seria coerente com os protestos escutados em outras ocasiões, como na morte de Saddam Hussein e de seus filhos, protestos de que a exibição profanava os defuntos. Se fosse apenas para atestar o óbito de Bin Laden, a Al-Qaeda se apressou a fazer o reconhecimento.
Como se lê, não havia a menor possibilidade de Obama ganhar a parada contra Bin Laden. Qualquer atitude que o presidente tomasse estaria errada, assim como estaria errada também a atitude contrária. Talvez matar o terrorista nem fosse mais necessário, a não ser como mera vingança, como observou o sempre arguto Robert Fisk, num artigo para o “Independent”: Bin Laden e sua pregação por um único califado para todo o mundo islâmico já haviam sido aposentados pelo atual clamor árabe por democracia.
A guinada da percepção mundial dos acontecimentos de Abbottabad pode ser espantosa, não surpreendente. Parece-me haver três razões complementares para a proteção póstuma a Bin Laden: as próprias características de uma “guerra assimétrica”, travada entre um Estado legalmente constituído e um grupo de pessoas à margem das leis, para o bem ou (era o caso) para o mal; o velho antiamericanismo; e, mais interessante talvez, uma forma de autopreservação da opinião pública.
Ao declarar guerra ao terror, os EUA caíram numa armadilha das “guerras assimétricas”. Eles deveriam travá-la sem infringir as leis internacionais, ao passo que a Al-Qaeda nunca precisaria respeitar o que quer que fosse, nem mesmo certos preceitos do Corão que proclama defender. Ao infringir as leis, em Guantánamo, Abu Ghraib ou Abbottabad, os EUA se igualariam a seus inimigos (e a seus próprios fantasmas). Um aparente paradoxo, num tipo de conflito que se define por ser desigual.
Maniqueísmo herdado da Guerra Fria, o antiamericanismo continua, claro, a desempenhar um papel crucial na recepção às ações, hesitações ou omissões dos EUA. Se eles fazem algo, há de estar errado, sempre. Idem se não fazem. Soa como a “moral de escravo”, na acepção de Nietzsche, ou seja, como o conjunto de valores derivados da circunstância de se estar numa condição inferior. Bin Laden forneceu uma nova face a esse ressentimento, substituindo o “romântico” Che Guevara das camisetas.
Por fim, o assassinato de Bin Laden lembrou-me o episódio do ônibus 174, em 12 de junho de 2000. Durante as horas em que Sandro Barbosa do Nascimento manteve reféns, as pessoas em torno das TVs urravam para que um atirador lhe estourasse os miolos. Deu tudo errado. O policial matou a refém feita de escudo, e o sequestrador foi asfixiado no camburão. Então, as mesmas pessoas lincharam a PM. É como se houvesse um modo “certo” de matar, em que pessoas “de bem” saciassem os próprios instintos assassinos. Ou isso ou acaba o transe, e o agressor se torna vítima. Seria este o caso de Bin Laden, envelhecido, desarmado, ao arrepio da soberania paquistanesa, tadinho
■ ■ ■ ■ ■ ■
Cantinho do Botafogo. A uma semana quase do Brasileirão, os reforços ainda não vieram. Porém, a julgar pelo amistoso contra o Friburguense, Maicosuel à parte, até agora as férias forçadas serviram apenas de preparação para o pior. Acorda, Fogão.

Rio de livros


Rio de livros
Hermano Vianna
Vivo repetindo esta conversa de antropólogo por aqui: sempre é bom escutar o que forasteiros dizem sobre nossa(s) cultura(s). Tudo bem, às vezes se enganam redondamente, pensando estar nos dando lições de superioridade/inferioridade. Mas outras vezes acertam na mosca que pousou em nossa sopa, e nos abrem os olhos de tal maneira que passamos a nos entender melhor, nossos defeitos e qualidades. Comprei o livro do escritor português António Pinto Ribeiro pois, ao folheá-lo, descobri que declara o Rio ainda mais belo por causa das nossas livrarias. Não é que ele tem razão? Gosto de outras livrarias mundo afora. Tirando onda: nada como se perder na imensidão da Blackwell’s, de Oxford, ou nos diversos alfabetos da Kinokuniya, de Cingapura; nada também como se defrontar com a seleção precisa da pequena ProQM de Berlim, onde tudo me interessa. Mas tenho que confessar: não existe livraria tão boa como a Leonardo da Vinci, ou sebos como o Berinjela, ou seleções como as da Malasartes e da Folha Seca. E fico mesmo encantado com a existência de três megalivrarias no complexo BarraShopping/New York City Center.
Acabo de enumerar tudo isso (e nem falei da resistência da Camões e de tantas outras) e me pego espantado: ao contrário das lojas de discos, que foram desaparecendo, as livrarias eeditoras parecem viver época de grande expansão/transformação.
Também espanta a quantidade de novos livros e editoras no mercado brasileiro. As prateleiras de lançamentos parecem sempre superlotadas, agora também com livros de capa dura, em edições bem cuidadas, revelando surpreendentes frentes de pesquisa entre nós. Não estou acostumado com tanta abundância , fico nervoso achando que pode ser fase passageira, que a tiragem é limitada e acabo comprando muita coisa por imaginar que nunca mais vou encontrar um exemplar novamente. Penso: “Vai que um dia eu fico interessado nisso...” Vício de peso: esses livros de capa dura, além de caros, são muitos quilos para carregar e armazenar. Ainda bem que não tenho que trazê-los do exterior.
Na coluna de hoje, vou comentar algumas das minhas recentes aquisições, que não vi serem resenhadas em outros lugares (sugiro também a leitura do texto que publiquei no Overmundo sobre “Brasil rupestre
— Arte pré-histórica brasileira”, uma preciosidade que nunca vi elogiada em outros lugares — imagino que as seções de livros de jornais e revistas também não saibam muito bem como lidar com essa cada vez maior eflorescência editorial, vinda de todos os cantos). Não consegui resistir, por exemplo, ao olho do jaguar que está na capa de — que outro título mais justo poderia ter? — “Jaguar”, de Evaristo Eduardo de Miranda e Liana John, lançado pela Metalivros. Até que resisti: com tanta coisa para ler antes, vou arrumar tempo para me interessar pela vida das onças? Claro que arrumei. O sangue indígena que corre nas minhas veias deve ter falado mais alto que qualquer outra necessidade. Uma vez — eu juro que essas coisas acontecem comigo — levei o pajé Sapaim e seu neto para um passeio pelo zoológico do Rio. Foi comovente observá-los contemplando respeitosamente, avô apontando detalhes para o neto, as onças em suas jaulas. Foram os únicos animais que mereceram tanto tempo de “culto”. Também pudera: o jaguar ocupa alguns topos das mitologias indígenas americanas (como Liana John descreve bem em “Jaguar”, enumerando mitos — ilustrados com muitas fotos — de procedências históricas e geográficas diversas), e o pajé realmente poderoso é quem é capaz de se transformar em onça.
Aprendi também muita coisa sobre a biologia/ecologia que envolve o mundo dos jaguares, esses animais crepusculares e solitários — os belos e cruéis reis de nossas selvas —, graças aos textos de Evaristo Eduardo de Miranda. Fui tentar conhecer melhor esse doutor em ecologia da E m b r a p a c o m uma pesquisa no Google e fiquei ainda mais seu admirador: ele escreveu vários outros livros interessantes, que
tornam públicas suas pesquisas p ro f u n d a s e m teologia, com especialização na história e no significado do batismo e também no ministério de exéquias, além de obras mais leves como um “Guia de curiosidades católicas”. Já deu para perceber que gosto de gente assim, curiosa diante da diversidade estonteante do mundo.
Outra compra irresistível foi “O círculo Veloso-Guerra e Darius Milhaud no Brasil”, que tem como subtítulo “Modernismo musical no Rio de Janeiro antes da Semana” e é assinado por Manoel Aranha Corrêa do Lago (editora ReLer). Já escrevi em algum lugar que se um dia pudesse viajar no tempo não iria para a Grécia Antiga ou para a China da época da invenção do I-Ching. Ficaria aqui pertinho, no Rio de Janeiro que estava inventando o samba, cidade fascinante que não se cansa de nos surpreender com novas facetas de sua riqueza cultural. Pois esse livro nos mostra que também surpreendido ficou Darius Milhaud quando chegou por aqui e foi introduzido até àobra de Erik Satie, que não conhecia em Paris. Impressionante a história esquecida da pianista de vanguarda Nininha Veloso Guerra, apresentada com material iconográfico inédito, com programas de concertos desconcertantes. Essa época do Rio ainda vai ser fonte para muitos outros bons livros, que vão encher as prateleiras (reais e virtuais) de nossas cada vez melhor.

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters